É possível, sim! Nas redes sociais surgiram recentemente um rol de comentários a propósito de…

Symington depois do Douro
Alentejo primeiro e agora Monção
Já lá vão três décadas desde que as empresas tradicionais do Vinho do Porto perceberam que não se podiam ficar apenas pela produção de generoso. Avançaram então para os vinhos DOC Douro. Umas primeiro que outras mas o movimento foi imparável. E, nos grandes grupos, a Fladgate (Taylor’s, Croft, Fonseca) foi a que resistiu à tentação até mais tarde. Mas o convencimento foi rápido e este grupo já se expandiu para outras regiões, como a Bairrada e Vinhos Verdes. Já a família Symington (foto em cima), depois de bem implantada nos vinhos tranquilos do Douro, avançou para o Alentejo (Quinta da Fonte Souto em Portalegre) e agora para o Verde Alvarinho de Monção. Já o tínhamos referido em anterior crónica e hoje integra a selecção da semana.
Este alargar de horizontes que muitas empresas abraçam, obriga a mudar o chip; fazer generoso é uma coisa, fazer vinhos tranquilos brancos e tintos é outra e, por via disso, vemos estes grupos a contratarem técnicos só para os vinhos tranquilos. E tudo se justifica em época bastante adversa a vinhos doces (fenómeno internacional), o que obriga o Vinho do Porto a grande jogo de cintura para repensar a produção e conseguir manter as vendas. Rapidamente se concluiu que numa mesma quinta se poderia produzir um grande Porto Vintage mas também um grande, se não mesmo enorme, vinho tinto do Douro. Temos visto nascer grandes vinhos Douro em quintas onde antigamente só havia Porto, como Bom Retiro, Roriz, Vesúvio, Carvalhas e Boavista, por exemplo. E muito não faltará para termos um DOC Douro da Quinta de Vargellas, da Roêda ou do Panascal – todas do grupo Fladgate.
Após a compra da quinta do Vesúvio aos herdeiros de D. Antónia, em 1989, a Symington tem vindo a recuperar e replantar grande parte da quinta e é também dali que saem dois grandes vintages: o Quinta do Vesúvio, declarado praticamente todos os anos desde 89, e o Capela do Vesúvio, mais raro – 5 edições até agora -, muito mais caro, mas que é um Porto notabilíssimo. Desta quinta selecciono hoje o DOC de mais prestígio, agora da colheita de 2022. Num nível mais acessível existe também o Comboio do Vesúvio. Entretanto, enquanto não chega a informação da declaração de vintage 2023 (algo que terá lugar em Maio), vamos hoje provar o Capela do Vesúvio 2022. Desta obra de arte fizeram-se 4320 garrafas, 300 magnuns e 280 Tappit Hen (uma garrafa com uma medida antiga que corresponde a 2,25 l), ou seja, apenas 1% da produção da quinta. Bem em frente ao Vesúvio fica a quinta Senhora da Ribeira, cuja produção pode integrar o vintage Dow’s nos anos clássicos, mas que tem tido edição regular nos anos que não são considerados de topo. É sempre um Porto apetecível, com preço abordável de €80/85, e que dá muito prazer a beber. Com quê? Há várias hipóteses: sobremesas de chocolate negro, mais amargo que doce, queijos secos mas de preferência queijos azuis, tipo Stilton. Mas neste tema é melhor não avançar com regras fixas, e até com um simples puro cubano o vintage pode dar muito boa conta de si. No entanto, enquanto apreciador, confesso que com o puro, prefiro um tawny velho, um Porto 40 anos ou um Colheita já com vetusta idade. Vão começar também a sair as notícias das declarações do vintage 23 das empresas que não ligam nenhuma a essa dicotomia clássico/não clássico. Isso é conversa dos ingleses, dizem!
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Casa de Rodas branco 2023
Região: Monção e Melgaço
Produtor: Symington Family Estates
Casta: Alvarinho
Enologia: Anselmo Mendes
PVP: €18,50
Esta terá sido a primeira marca de Verde com indicação da casta Alvarinho, na década de 1920. Foi agora recuperada, numa parceria com Anselmo Mendes. A quinta irá conhecer uma renovação dos vinhedos.
Dica: feito e estagiado em inox sobre borras. Muito expressivo na fruta branca, fino e muito apetecível. Boa complexidade na boca, cheio mas com acidez perfeita.
Quinta do Vesúvio tinto 2022
Região: Douro
Produtor: Symington Family Estates
Castas: Touriga Nacional (65%), Touriga Francesa (30%) e Tinta Amarela
Enologia: Charles Symington, Pedro Correia, Hugo Almeida
PVP: €65
Verão tórrido em 2022 mas, com Setembro bem mais ameno, as maturações foram bem sucedidas. Estagiou 15 meses em barrica (80% novas). Produção: 13 100 garrafas, 350 magnuns, 100 double magnuns.
Dica: denso, cheio, com grande estrutura, madeira muito bem integrada, um tinto sério mas de inegável prazer, mesmo provado desde já.
Capela do Vesúvio Porto Vintage 2022
Região: Douro
Produtor: Symington Family Estates
Castas: vinhas velhas (23%) acrescida de Touriga Francesa, Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Sousão.
Enologia: Charles Symington/José Luís Cavalheiro
PVP: €275
Este vintage ainda mantém o PVP inicial (de 2024) mas, face à pouca disponibilidade de oferta, poderá ficar mais caro no futuro.
Dica: negro na cor, fechado nos aromas, a revelar uma enorme mas atractiva austeridade. Um vintage para 50 anos mas que se deve provar agora para perceber de que estirpe são feitos os “monstros”.
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