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No Alentejo, em modo de tintos

Para gostos diferentes, há de tudo

Os três vinhos sugeridos hoje são do Alentejo. Houve alguma coincidência no facto mas a verdade é que a região continua a ser das preferidas dos consumidores. E há razões para isso. O Alentejo não é uma região de sentido único, é uma verdadeira manta de retalhos, um mosaico de solos, microclimas e castas e, consequentemente, de estilos de vinhos, desde os elegantes e finos aos concentrados e muito densos. Pode, por isso, perguntar-se o porquê de uma região tão vasta ter um único “chapéu” protector.

As razões são muitas e algumas delas de carácter político. No fundo, quando se fez a demarcação da região, ela não era, nem parecida, com o que é hoje, não só em área de vinha como em número de produtores. Por necessidades políticas da época (1988), para contentamento das forças vivas e para não ir contra a vontade dos grandes operadores da região – as adegas cooperativas –, demarcaram-se algumas sub-regiões que, no essencial, se mantêm até hoje. A verdade é que o Alentejo de hoje tem pouco a ver com o que existia em 1988. Nesse tempo, além das cooperativas, havia muito poucos engarrafadores e uma mão chega para enumerar os principais: Quinta do Carmo, Mouchão, Tapada do Chaves, José de Sousa, Santos Jorge e Fundação Abreu Callado. Como se está a ver o número de produtores teve um crescimento exponencial e hoje muitos deles são mais importantes e mais fortes que as adegas cooperativas. Estamos então naquele ponto em que se poderia pensar que estaria na hora de reformular as sub-regiões. Neste ponto sensível entram muitos factores obstrutivos, a começar pela inércia própria das organizações vitivinícolas. E não é só cá.

Em Bordéus dá-se sempre o exemplo da classificação dos Cru do Médoc, feita em 1855; na altura algumas propriedades foram indicadas como merecedoras do designativo Grand Cru Classé, de 1er Grand Cru até 5ième Grand Cru. Desde então, imagine-se, a classificação apenas teve uma mudança, quando Mouton Rothschild subiu de 2º a 1º Cru Classé, em 1973. Tudo o resto se manteve igual e há mesmo alguns dos châteaux classificados nessa altura que já nem existem. Inércia, portanto. Na Borgonha a situação é idêntica, com regiões como Meursault sem terem direito a qualquer parcela como Grand Cru, o que é considerado por muitos (onde me incluo…) um escândalo.

Voltando ao Alentejo, as castas de hoje que marcam o compasso da região ou não existiam à época (Touriga Nacional, Touriga Francesa, Syrah, Petit Verdot) ou tinham uma expressão residual (Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon) e só estamos a falar de tintos. Assim sendo, os vinhos de hoje que são produzidos em Portalegre, onde proliferam castas antigas e vinhas velhas, pouco têm de comum com as zonas mais quentes e mais secas mas…são todos Alentejo. É verdade que cada vez mais os produtores acrescentam à D.O. Alentejo o nome da sub-região, procurando dessa forma dar mais força à sub-região do que à D.O.; acresce ainda que muitos produtores, inexistentes em 1988, nem têm direito à Denominação de Origem, sendo obrigados a quedar-se pela designação de Regional Alentejano. Esta é uma guerra antiga que não parece ter fim à vista. Caberia essa tarefa à Comissão Vitivinícola Regional e respectivo Conselho Geral. Parece, no entanto, que estão em conversações com as gentes de Bordéus para descobrir a fórmula secreta de nunca mudar nada para que tudo fique na mesma.

 Sugestões da semana:            

(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Quinta da Fonte Souto rosé 2021

Região: Alentejo (Portalegre)

Produtor: Quinta da Fonte Souto

Casta: Aragonez

Enologia: Pedro Correia/Ricardo Constantino com Charles Symington

PVP: €12,50

A quinta fica em plena serra de São Mamede. Foram recuperadas as instalações para adega e enoturismo.

Dica: salmonado na cor, aroma subtil onde cabem as notas de tisanas, leves frutos vermelhos, tudo com clara vocação gastronómica imediata.

Cardeira tinto 2020

Região: Alentejo (Borba)

Produtor: Herdade da Cardeira

Castas: lote de 5 castas

Enologia: Paulo Laureano

PVP: €14,50

Concentrado na cor e aroma, presença evidente da barrica, tudo num registo onde impera o vigor e a densidade. 14 000 garrafas produzidas.

Dica: apresenta-se num modelo que pode exigir guarda em cave mas, com este perfil, será bom parceiro para pratos de tempero forte, como cabidelas, lampreia ou porco preto assado.

Ravasqueira Heritage tinto 2020

Região: Reg. Alentejano (Arraiolos)

Produtor: Wine Stone Group

Castas: Syrah, Touriga Nacional, Touriga Francesa, Alicante Bouschet e Petit Verdot

Enologia: equipa dirigida por David Baverstock

PVP: €49

Com este nome também se edita um branco. Ambos são a gama alta deste produtor que se tem expandido para outras zonas, como Lisboa e Douro.

Dica: numa linha de concentração e riqueza de cor e fruta, temos um tinto de bom polimento e frescura. Para apreciadores de tintos de grande estrutura.

 

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