Para gostos diferentes, há de tudo Os três vinhos sugeridos hoje são do Alentejo. Houve…

No Douro com Dirk Niepoort
Tudo se passou há muito, muito tempo
No número mais recente da revista Revue du Vin de France vem uma entrevista de fundo com Dirk Niepoort, agora afastado da gestão quotidiana da sua empresa de Vinho do Porto. Passou para o filho Daniel a tarefa, hercúlea, de gerir a firma que outrora foi exclusivamente de generoso e que hoje divide a facturação com vinhos tranquilos, sejam do Douro, do Dão ou da Bairrada. Ao ler a entrevista, recordei a primeira viagem que fiz ao Douro a convite de Dirk, algures em 1990 ou 91.
O que é mais interessante de constatar, mesmo visto à distância, é que Dirk percebeu, antes de todos, que tinha de fazer uma operação de charme trazendo ao Porto e ao Douro um conjunto alargado de pessoas, entre jornalistas, críticos e importadores de vinho, para lhes mostrar as virtudes dos seus vinhos do Porto e lançar as primeiras ideias de vinhos tranquilos do Douro. A parte logística foi, no mínimo, uma odisseia: à parte a cidade do Porto onde todos ficaram no Ipanema Park – à data o hotel mais luxuoso da cidade – a ida ao Douro era uma aventura assegurada: não havia onde comer, não havia onde dormir, não havia o que beber a não ser Porto. Assim enquanto uns ficaram na Pousada de Alijó, outros dormiram em Chanceleiros e outros ainda em Casal de Loivos.
Quanto a vinhos andámos três dias a beber o mesmo: Barca Velha, Reserva Especial Ferreirinha e Quinta do Côtto; de bom, era o que havia para mostrar. Visitas foram à quinta do Passadouro, projecto que estava então a arrancar, e provas foram dividas por temas: Vintages, Colheitas e, creio, Tawnies com indicação de idade; algumas das provas foram na Niepoort, em Gaia, outras no Passadouro e terminámos no Clube Portuense. Percebi na altura a importância que operações deste género poderiam ter para uma empresa que vivia sempre “ofuscada” pela omnipresença das casas inglesas no sector do Vinho do Porto: à época a única empresa que estava a iniciar-se nos vinhos Douro era a Ramos Pinto e, timidamente, a Barros; as restantes não ligavam nenhuma aos vinhos tranquilos que, por alguns, era apelidados de “vinhos de pasto”, remetidos para um patamar que na época se julgava insignificante.
Mostrar o que se faz bem, sobretudo se a qualidade estiver onde deve, é um investimento, não é simplesmente um custo. Lembro-me de, na altura, me ter interrogado o quanto aquela aventura não teria custado mas o tempo veio demonstrar que, se se fazem as coisas bem feitas, os resultados aparecem. A verdade é que a Niepoort se alcandorou ao primeiro degrau das empresas que tinham os melhores vinhos do Porto, ainda que não tivesse quintas próprias. Naquela casa, como em tantas outras, o vinho era comprado já feito a lavradores que o elaboravam segundo as indicações dos provadores da Niepoort, no caso a família Nogueira.
O mundo mudou e a Niepoort também; estendeu a sua acção à Bairrada (a menina dos olhos de Dirk, tal como diz na entrevista) e ao Dão. Hoje os vinhos DOC Douro têm uma enorme importância e ainda bem, já que a região se revelou uma fonte inesgotável de perfis de vinhos brancos e tintos. Foi uma acção e tanto, numa época cinzenta em que os ousados eram olhados de lado. Com Dirk também bebi os primeiros tintos da Califórnia que me deixaram sem voz, desde Diamond Creek até Ridge. Os borgonhas vieram mais tarde. Coisa séria. É assim (ou foi assim…) que se abriram os olhos, deles (os convidados) para o Douro, e os meus, para o mundo.
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Monte Branco branco 2021
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Luis Louro
Castas: Arinto, Rabigato, Esgana Cão e Galego Dourado
Enologia: Luis Louro/Inês Capão
PVP: €40
Aqui combinam-se várias castas pouco habituais na região, gerando um branco onde se sente um balanço bem conseguido entre a fruta delicada e as suaves notas da madeira.
Dica: um vinho muito polido, muito capaz para ser excelente parceiro à mesa, com a gastronomia regional (e não só).
Quinta da Giesta Grande Reserva tinto 2016
Região: Dão
Produtor: Soc. Agr. Boas Quintas
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alicante Bouschet
Enologia: Nuno Cancela de Abreu
PVP: €110
Vinhas em solos argilosos. Fermentação em inox e estágio de 18 meses em barrica nova. Este é o novo topo de gama da empresa, também tem edição em branco.
Dica: tinto de luxo muito aprimorado, com um excelente equilíbrio entre a fruta que é madura e a prova de boca que revela um perfeito trabalho de ourivesaria vínica. Elegante e cheio de classe.
Pedra Cancela Vinha da Fidalga branco 2022
Região: Dão
Produtor: Lusovini
Casta: Uva-Cão
Enologia: Sónia Martins/Casimiro Gomes
PVP: €35
Este vinho insere-se numa colecção de castas antigas da região que a Lusovini tem estado a trazer a público, num trabalho altamente meritório.
Dica: um branco cheio de carácter, sempre marcado por elevada acidez o que lhe confere também uma enorme capacidade de vida em cave.
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