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Alvarinho – de Monção até Melgaço

E assim se trilha o caminho do sucesso…

Quem for a Monção e entrar no Museu do Alvarinho, pode subir uma escadaria em granito e ao chegar ao 1º andar depara com um cartaz de enormes dimensões que reproduz o rótulo da primeira marca comercial de vinho Alvarinho – Casa de Rodas – um vinho que teve, nos anos 20, o empenho de Amândio Galhano, o técnico a quem se ficou a dever a “descoberta” da casta Alvarinho. A marca desapareceu durante décadas e foi agora retomada pela família Symington que adquiriu a propriedade.

O nome de Amândio Galhano esteve também ligado ao arranque do projecto do Palácio da Brejoeira e também à marca Cêpa Velha, um rótulo que chegou a ser importante e que hoje se remeteu à obscuridade. A história e fama da região fez-se sobretudo com tintos e não com brancos. E quando dizemos fama estamos a recuar muitos séculos quando os “Vinhos de Monção” eram exportados pela barra de Viana do Castelo para o norte da Europa. Eram tintos abertos de cor, em que não entrava a casta Vinhão mas sim outras bem menos carregadas, como Alvarelhão e Cainho tinto. A história da Alvarinho começa verdadeiramente apenas no séc. XX e, mesmo nos anos 80, os vinhos disponíveis no mercado limitavam-se aos seguintes: Adega de Monção, Deu-la-Deu (marca que à época pertencia à Real Vinícola), Cêpa Velha e Palácio da Brejoeira.

O que aconteceu, sobretudo a partir dos anos 90, foi uma verdadeira explosão de marcas, muitas delas familiares, e outras de empresas de maiores dimensões como as Quintas de Melgaço e PROVAM. A marca Soalheiro começou verdadeiramente numa garagem (foi assim que a conheci nos inícios dos anos 90) mas ganhou uma enorme dimensão: são actualmente mais de 150 as famílias fornecedoras de uvas desta empresa. Um caso de sucesso, que continua a ser familiar e com um portefólio muito alargado. Todos os anos tem havido novidades, são actualmente 147 marcas de 63 produtores e que ocupam 16 507 hectares de vinhas. A casta é um caso sério de qualidade e que, nas terras mais ao norte da região dos Verdes, gera vinhos de reconhecida originalidade.

O empenho na defesa da casta, que noutras épocas foi carregado por Amândio Galhano, está hoje distribuído por muita gente, como o enólogo Fernando Moura, sendo que o nome de Anselmo Mendes é também incontornável, não sendo inadequado o título de Senhor Alvarinho. Enólogo e produtor, os seus vinhos de Melgaço e mais recentemente da sua quinta de Monção, são exemplares brilhantes da plasticidade da Alvarinho para gerar vinhos originais e muito longevos. Foi há poucos anos que voltei a provar Alvarinhos com 30 anos, surpreendentes pela frescura e saúde que apresentavam. Estas são as uvas mais bem pagas do país (se exceptuarmos casos isolados como Colares ou Açores), acima de €1 por quilo, o que deveria também servir de exemplo e modelo a outras regiões: pagar bem à produção é condição sine qua non para que todos saiam beneficiados.

Essa é a grande lição que a região de Champagne nos ensinou mas que há poucos a acreditarem nela. Pagar poucochinho para vender caro é economia de vão de escada. Ali, com a Espanha em frente que paga as uvas bem mais caras, aprendeu-se a lição: se não pagarem bem aqui, vendem-se as uvas para o lado de lá do rio, basta atravessar a ponte. Hoje trazemos dois clássicos e uma marca nova; outras também meio desconhecidas do consumidor chegarão qualquer dia a estas crónicas. Hoje a casta está espalhada por todo o país, sinónimo da boa adaptação a terroirs diferentes. O vinho Alvarinho melhora se bebido a partir do segundo ano após a colheita. Por isso nada de pressas.

Sugestões da semana:             

(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Dona Paterna branco 2023

Região: Vinhos Verdes (Monção e Melgaço)

Produtor: Carlos Codesso

Casta: Alvarinho

Enologia: Fernando Moura

PVP: €11

As vinhas em Melgaço ocupam perto de 18 ha. Esta é uma das marcas mais antigas da nova época do Alvarinho, lançada em 1990.

Dica: muito fino de aromas, fruta de muita qualidade, perfil fresco e com grande capacidade para viver bem em cave.

Soalheiro branco 2024

Região: Vinhos Verdes (Monção e Melgaço)

Produtor: Vinu Soalleirus

Casta: Alvarinho

Enologia: Asun Carballo

Esta é a marca emblemática da casa, a que tem mais exemplares em cada edição. A empresa ultrapassa o milhão de garrafas/ano. Vinificação e estágio em inox até ao engarrafamento.

PVP: €10,90

Dica: muito harmonia, aqui com a fruta a surgir madura, com notas de pêra e leve nota tropical. Um caso de sucesso e um branco polivalente à mesa.

Ipiranga por António Braga 2023

Região: Vinho Verde (Monção e Melgaço)

Produtor: Terra Vinea

Casta: Alvarinho

Enologia: António Braga

PVP: €33

Deste vinho fizeram-se 2500 garrafas. Vinha em Melgaço virada a norte. São uvas compradas à produção.

Dica: muito fresco e de excelente recorte mineral no aroma, resulta fino e elegante na boca com perfeito equilíbrio entre as várias componentes.

 

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