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Andresen – um segredo bem guardado

E não diga Andersen que pode perder uma aposta…

Um dos vinhos que selecciono hoje pertence à Andresen que é, das clássicas empresas do Vinho do Porto, uma das mais pequenas e a mais escondida. A firma foi fundada em 1845 por um dinamarquês, Jann Heinrich Andresen e foi inscrita como exportadora na Alfândega do Porto em 1907. Em 1942 foi vendida a Albino Pereira Flores, cujos descendentes são ainda hoje os donos da empresa.

A família Flores detinha também outras casas de Vinho do Porto – Pinto Pereira, A. P. Santos, Soc. Vinhos do Alto Corgo – mas integrou todas numa só empresa em 1992, mantendo o nome original e conservando, para 2ª marca, uma empresa que pertencia à Andresen – Mackenzie (fundada em 1852), ainda hoje presente no mercado. A Andresen só produz Vinho do Porto (500 000 garrafas/ano), e é uma das últimas, senão mesmo a última das clássicas empresas o sector, que não dispõe de quintas no Douro. Continua a comprar o vinho já feito a quatro vinificadores que, por sua vez, adquirem uvas a lavradores. As instalações de Gaia (nas Devesas) estão, por força das obras do metro, ainda mais escondidas e, no prédio onde fica a sede, nem tabuleta tem, nada nos diz que ali funciona uma empresa de Vinho do Porto. Carlos Flores, actual proprietário, faz questão que assim continue e, diz-se brincando, que “o Flores só vende Porto se for obrigado”.

Afastado dos grandes momentos do sector que são as declarações de Vintage – porque não é essa a opção tomada -, os vinhos Andresen assentam a sua fama na qualidade dos tawnies e dos Colheita e também nos portos brancos com indicação de idade. A grande virtude da Andresen assenta, assim, na elaboração dos lotes, feitos a partir dos vinhos que tem em cave a estagiar. Desta forma, a Andresen perpetua a “arte do lote”, desde sempre associada aos provadores de Gaia que, durante séculos, se limitavam a receber vinho feito dos lavradores do Douro, e que de Gaia não saíam. O que não vale a pena procurar é um Andresen 30 anos porque por aqui entende-se que é uma categoria “coxa”, entalada entre o 20 e o 40 anos, não tendo por isso personalidade própria. Nas categorias recentemente criadas, a Andresen também ficou de fora, como os tawnies 50 anos porque, diz-nos Flores, “a diferença entre um 40 e um 50 é muito pequena e por isso não vale a pena”. Também os VV Old, estes com média de 80 anos, não é categoria que interesse à empresa. O que se pode procurar (e comprar) são colheitas muito antigas que a empresa ainda tem em casco, como o 1900. Esses vinhos muito velhos são engarrafados a pedido, garrafa a garrafa.

Quanto à Andresen versus Andersen, saí-me bem: apostei uma magnum de um grande tinto do Douro com o proprietário da dita botelha, que afirmava a pés-juntos que era Andersen. Estava bem boa. Estas são as apostas que valem a pena e o vinho ainda me soube melhor!

Emenda: a crónica do dia 18 de Outubro continha uma informação errada que alguns leitores atentos me corrigiram, o que agradeço. De facto, a palavra de ordem Ousar Lutar, Ousar Vencer estava, nos anos 70, conotada com um grupo maoísta e não trotskista. Fica a emenda, ainda que o sentido do texto não se tenha alterado.

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Andresen Porto branco 20 anos
Região: Douro
Produtor: J. H. Andresen
Castas: várias
Enologia: Álvaro Van Zeller
PVP: €45 (garrafa de 0,50 l)
Mais conhecida pelos seus tawnies e brancos velhos do que pelos Vintages ou LBV. A gama dos brancos com idade (de 10, 20 e 40) é muito surpreendente.
Dica: excelente aroma, muito elegante na fruta em calda, frutos secos e figos. Delicado, merece ser consumido fresco, a solo (de preferência) mas com (boa) companhia.

Vale de Touros Vinhas Velhas Reserva tinto 2019
Região: Palmela
Produtor: Adega de Palmela
Casta: Castelão
Enologia: Luis Silva
PVP: €12
Vinhas com 50 anos, tem 14,5% de graduação. Dez meses de estágio em barrica. Premiado no concurso de Setúbal deste ano.
Dica: maduro e concentrado mas não opaco, com a madeira presente mas bem envolvida no conjunto, um tinto clássico, grande parceiro da mesa. Muito bem para o preço.

Espumante Vértice Cuvée Bruto
Região: Douro (Alijó)
Produtor: Caves Transmontanas
Castas: cinco castas da região, uma delas tinta
Enologia: Celso Pereira/Pedro Guedes
PVP: €16,95
Feito pelo método clássico. Teve 2 anos de estágio sobre borras. Foi degorjado em Maio de 2024. Tem 12% de álcool, o que é frequente neste tipo de vinho.
Dica: o perfeito equilíbrio entre corpo e acidez e um aroma maduro mas fresco, fazem dele uma escolha muito segura.

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