Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
Novas do Atlântico
Na Madeira crescem cada vez mais brancos e rosés
Em recente visita à ilha da Madeira tive oportunidade de fazer várias provas, revendo produtores que já conhecia e adicionando outros à lista dos que se interessam por vinhos da ilha e que estão a apostar em fazer diferente. Num deles (D’Oliveiras) fiz mesmo uma prova extraordinária de que falarei, em detalhe, noutra crónica. A ilha não atravessa momentos fáceis, como já referi em crónica em Julho passado, quer pela diminuição da área de vinha e consequente abandono das castas nobres, quer pelos fogos, quer também pelo facto do negócio não ser de molde a interessar novos produtores: os custos são muito altos e os consumidores querem pagar pouco pelos vinhos que compram.
Este binómio não funciona nesta fórmula e leva a que só quem tem músculo financeiro se possa abalançar a vender a preços justos, que são sempre altos. É o caso de empresas como a Blandy’s ou a Justino’s mas sabemos de pequenos produtores que estão à beira de abandonar o projecto pessoal porque não conseguem vender barato o que sai caro. É triste. Mas nos vinhos desta semana refiro também um projecto que é novo. O produtor é Octávio Freitas, Chefe do novel estela Michelin da ilha (restaurante Desarma, no View’s Hotel, no Funchal) e que tem depois um projecto pessoal na Calheta, com restaurante – Socalco – e hotel rural de alto nível e localização perfeita, vem tudo em www.socalconature.com. Este produtor plantou vinhas junto ao restaurante da Calheta e, como nos confidenciou, vai plantar mais, em socalcos que, ali bem perto, estão abandonados e que apenas esperam que alguém se lembre de plantar Terrantez (só há 4 hectares em toda a ilha), ou Bual, de que apenas restam 14. Os seus vinhos têm nomes originais e locais – Galatrixa, Cagarra, Massaroco – são bem feitos e dão boa conta de si, fruto do imenso trabalho a que obrigam.
Também a empresa Justino’s, uma referência clássica do vinho da Madeira, tem vindo a interessar-se pelos vinhos tranquilos, apostando quer nas castas tradicionais quer na Tinta Negra, de longe a mais abundante variedade da ilha porque produz muito e bem, e à qual todos reconhecem virtudes. No caso dos vinhos tranquilos sim, no caso dos generosos menos. Eu pertenço ao grupo dos teimosos que insiste em afirmar que nada se compara às chamadas castas nobres para produzir generoso. Mas isso é, creio, porque não sou produtor…! Entretanto os consumidores estão a descobrir os vinhos da ilha do Porto Santo, com os vinhos de António Maçanita (em brancos e tintos) e agora com outros produtores. A verdade é que até há pouco tempo se falava das uvas do Porto Santo como “coisa menor” e agora existe um branco de António Maçanita – Crosta Calcária dos Profetas – que chegou ao mercado a €150 a garrafa.
Se vai ter sucesso não sei mas que o vinho é muito bom, é. De qualquer forma, desde há muito que estamos habituados a que este produtor, que em termos de ilhas se fez notar nos Açores, não hesita em colocar preços “internacionais” nos seus melhores vinhos, seguro que está que, em prova cega, se podem bater com nomes famosos. Acredito na validade da aposta mas, ao preço há sempre que juntar uma história e um percurso que demora tempo a fazer. Se pensarmos que um Madeira Blandy’s Bual 2011 custa €105, há aqui qualquer coisa que não parece funcionar. Mas o que se espera é que o sucesso sorria, apesar dos tempos difíceis que atravessamos.
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Justino’s Projects Listrão Cancelas branco 2022
Região: DOP Madeirense PXO
Produtor: Justino’s Madeira Wines
Casta: Listrão
Enologia: Nuno Duarte/Márcio Nóbrega
PVP: €25 (Distrib: Fermentuition)
A casta tem como sinonímia Malvasia Rei e, em Espanha, Palomino. Sendo um branco tranquilo não pode, legalmente, indicar que tem origem em Porto Santo e daí a indicação PXO.
Dica: muito boa frescura citrina, com uma acidez muito equilibrada, fino, bem atractivo. Apenas se fizeram 1303 garrafas.
Cagarra branco 2022
Região: DOP Madeirense
Produtor: Octávio Freitas
Castas: Sercial e Verdelho
Enologia: João Pedro Machado
PVP: €45
As vinhas (novas) estão plantadas na Calheta. Deste branco (já em distribuição no continente) fizeram-se 2200 garrafas. Este branco teve um pouco de chips de madeira para conferir um pouco mais de complexidade.
Dica: tem 11,5% álcool, mostra-se muito original, aromas verdes, notas de pimento e lima, muito salino na boca e com acidez crocante. Em 2023 (provado em amostra) o perfil vai mudar um pouco.
Atlantis rosé 2023
Região: DOP Madeirense
Produtor: Madeira Wine Company
Casta: Tinta Negra
Enologia: Francisco Albuquerque
PVP: €10
O primeiro Atlantis rosé remonta a 1991, numa época em que havia muito excedente de Tinta Negra. Mais tarde, em 1996, surgiu o Verdelho, um branco tranquilo que desde então tem tido produção regular.
Dica: com uns agradáveis 11º de álcool, temos um rosé salmonado na cor, com bons aromas de fruta vermelha, envolvente no palato e de excelente acidez. Muita aptidão gastronómica.
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