Já é possível algum balanço da vindima de 24 À hora desta crónica “vir a…
Só coisas para nos ralarmos
E ainda com muitos cestos por usar
Ainda a vindima vai no princípio e já há lamentos aqui e ali. E a culpada é a ciência. Porquê? Porque há 150 anos que as doenças da vinha chegaram à Europa e não há maneira da ciência as conseguir debelar. Dito por outras palavras, continuamos nos cuidados paliativos, há muitas vacinas mas não sabemos evitar a doença. Este ano foi um verdadeiro calvário com o míldio que afectou quase todo o país tendo-se salvo os produtores que rezaram a Saturno na Lua Nova e benzeram as vinhas com chá de camomila! Todos os outros, preocupados com a perda da produção, tiveram de fazer muitos tratamentos e gastar muito dinheiro para salvar a vindima. As contrariedades são anuais e recorrentes mas, diz a tradição, “ano de míldio, ano de Vintage”. Cá ficaremos à espera.
Na calha (mas tudo por decidir) está um projecto de arranque de vinha, nomeadamente no Douro. O país produz em excesso e importa em excesso, uma verdadeira contradição em termos. Importamos para quê se temos vinho a mais? Como gostamos de beber e não dispensamos o vinho à mesa, o vinho importado “morre” no vinho a jarro que nos propõem na restauração. Quem sabe se o consumidor, assim, até não pensará que está a beber vinho do lavrador, algo que alegra a alma de qualquer cliente do restaurante. E quem diz vinho, diz azeite que é trazido para a mesa para se molhar o pão. Recentemente num restaurante no centro do país, perante a habitual pergunta do empregado, “está tudo bem?” eu disse que sim, excepto o azeite que era de muito fraca qualidade. A resposta dele veio célere: mas olhe que é de produtor particular! Há muito que o conceito de “produtor particular” não faz tocar campainhas de excitação e isso é válido sobretudo para os dois produtos, vinho e azeite. Assim andamos.
E quanto ao excesso de vinhedos, também em Bordéus se aponta para o arranque de 10 000 ha; para já foram 3 000 mas o projecto continua. É que ali, apesar da fama da região, 1/3 dos produtores está em sérias dificuldades e não conseguem ultrapassar o problema (que veio para ficar) da quebra do consumo. As vinhas vendem-se a €9 000/ha – dados de 2023 – cerca de 14% abaixo do ano anterior. É claro que nas principais Appéllations – Margaux, Pauillac ou Saint-Julien, os preços rondam €1,5 milhões/ha e, se se tratar de um château famoso, o preço pode chegar aos 4,5 milhões/ha. Pobres e ricos lado a lado e só a fama da região, já se percebeu, não chega para vender vinho. No Douro, uma boa vinha, com boa localização e boas castas poderá, dizem-me, ir dos €70 aos €90 000/ha. Essas são o Pauillac cá da terra mas o problema são as outras, as que produzem uvas cujos vinhos Grande Reserva são vendidos a €4 no supermercado. Quase todos os operadores estão neste negócio de tostões e mesmo as empresas inglesas, outrora a elite do Douro, mergulharam nesta aventura sem saída, para escoar stocks. Todos sabem que vender vinho quase ao preço de custo (ou mesmo abaixo) até pode aliviar os armazéns mas, a longo termo, é puro suicídio, tal como é vender vinho do Porto nas grandes superfícies ao preço da “uva diurética”. Diminuir a área de vinha e aumentar os preços dos bons vinhos é determinante. É que ninguém pode aceitar que um tinto DOC Douro se apresente no mercado, com o maior dos à-vontades, a 80 ou €100 a garrafa e um vinho do Porto tawny 10 anos (reforço, 10 anos!) se venda a €20, que é preço médio que se encontra na Net.
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Coelheiros rosé 2023
Região: Alentejo
Produtor: Tapada de Coelheiros
Castas: Syrah e Touriga Nacional
Enologia: Luis Patrão
PVP: €11
Parcialmente fermentado e estagiado em barrica por forma a conferir mais complexidade ao conjunto. Mais um bom rosé para alargar as escolhas do consumidor.
Dica: declaradamente estival, um rosé seco, fresco e muito amigo da petisqueira de Verão, que pode ir dos simples canapés às saladas e massas.
Pessegueiro Reserva branco 2023
Região: Douro
Produtor: Quinta do Pessegueiro (Domaines Zannier)
Castas: Rabigato (85%) e Folgasão
Enologia: João Nicolau de Almeida
PVP: €18
Quinta no Cima Corgo, a montante do Pinhão. Fermentação em barrica usada e posterior estágio de 6 meses em madeira sobre borras finas.
Dica: aroma suave de flores brancas e fruta branca, tudo delicado e atractivo. Bom balanço na boca, madeira bem integrada com a acidez. Conjunto polivalente, sem falhas.
Casa da Passarella O Fugitivo tinto 2018
Região: Dão (Serra da Estrela)
Produtor: O Abrigo da Passarella
Casta: Baga
Enologia: Paulo Nunes
PVP: €31,80
A casta Baga, hoje emblemática na Bairrada, sempre esteve presente no Dão e hoje há produtores que voltam a apostar nela como varietal. Fizeram-se 792 garrafas.
Dica: Ligeiro na concentração (a casta permite tudo), fiel no aroma, fino e muito gastronómico na boca, um Baga da nova geração de vinhos simplificados.
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