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Ligações (não) perigosas

E sem rodriguinhos

Hoje não vou falar do clima, nem das vindimas, nem dos tratamentos que não param, nem das desgraças climáticas, nem do preço das uvas. Porquê? Porque o outrora ocasional virou banal e ninguém sabe dizer o que é um ano normal. Corre-se atrás do prejuízo, fazem-se contas aos custos e engolem-se uns sapos, sobretudo quando se fala para a imprensa. Neste assunto é o verdadeiro “alto e pára o baile”, ah e tal, pouco granizo, tive sorte, e por aí fora, as mentiras do costume. Se apenas falarmos com produtores (e com os enólogos) ficaremos sempre com uma informação pouco fiável. E até se compreendem as imprecisões e mentirinhas, uma vez que é preciso vender (e muito) para pagar as contas. Por isso, e aproveitando os calores estivais, é menos deprimente falar de parcerias, de casamentos entre vinhos e comidas, de ligações felizes e por vezes inesperadas.

Se começarmos pelos espumantes, posso sugerir que, à falta de copos perfeitos (que existem, como na marca Riedel) se usem os copos normalmente utilizados para brancos, em vez das tradicionais flutes. Relembro-me que Rui Moura Alves, que foi responsável durante décadas por muitos espumantes bairradinos, costumava dizer que o espumante não era para cheirar e por isso usava as flutes, os tais copos em que nem é possível rodar o vinho no copo. Nunca concordei com ele (neste como noutros temas ligados à gastronomia) e prefiro mesmo copos mais largos que permitam usufruir dos aromas. Existe na moderna restauração, sobretudo a estrelada, uma prática nada consensual que consiste em decantar os espumantes/champanhes, tal como se decantam brancos e tintos; creio que na maioria dos casos o vinho não sai beneficiado mas, neste como noutros temas, nada melhor do que experimentar. Na hora da ligação, o espumante é sempre um todo-o-terreno que se porta bem das entradas à sobremesa. Ficaremos muito bem servidos se usarmos os Blanc de Noirs (como os Baga Bairrada) para acompanhar pratos de carne; prefira sempre os da variedade Bruto, mais secos, mas…há que respeitar gostos diferentes.

O tempo estival é também convidativo ao consumo de queijos, sobretudo os de pasta mole, de vaca, búfala e cabra. Variedades como Mozarela, Burrata, Chèvre e Camembert surgem com frequência nas sugestões da restauração. Neste assunto estamos em terrenos privilegiados para os vinhos brancos, ainda que tal contrarie alguma ideia muito arreigada entre nós de ligação dos queijos com os tintos. Aquele tipo de queijos pede brancos, que poderão ir dos estagiados em madeira até vinhos com alguma idade. Para além do consumo a solo, aquele tipo de queijos é muitas vezes usado em pratos que vão ao forno a gratinar. Se apesar de tudo preferir tintos, é bom que ligue o vinho com queijos mais secos, como Serra e Castelo Branco curados, Terrincho ou Ilha com bastante cura.
Terrenos clássicos para brancos são peixe grelhado ou marisco. Aqui todos somos especialistas, todos temos (e bem) as nossas preferências. Para os mais ousados que se aventuram no tema das ostras (é sempre de pé atrás que eu me arrisco neste assunto…) o espumante é o vinho de eleição com um equilíbrio perfeito entre a textura do bivalve e a espuma, que se pretende finíssima, do espumante. Um vinho de celebração. Por muito difíceis que sejam os tempos que se avizinham precisamos das bolhinhas para sobrevivermos. E a oferta no mercado é brutal: começa nos €5 e vai até às centenas, ou seja, não se desculpe com o preço que ninguém o vai secundar.

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Bons Ares branco 2023
Região: Reg. Duriense
Produtor: Ramos Pinto
Castas: Sauvignon Blanc (40%), Rabigato e Viosinho
Enologia: João Luis Baptista
PVP: €11,20
Este é já um branco clássico do Douro com mais de 20 anos de história. Desde a primeira edição que inclui Sauvignon Blanc, daí não ser DOC Douro mas Regional.
Dica: perfeito no aroma, com a frescura verde do Sauvignon a comandar e uma prova de boca de grande equilíbrio, balanço perfeito entre corpo e acidez. Um must!

Myndru branco 2022
Região: Alentejo (Vidigueira)
Produtor: Herd. Aldeia de Cima
Castas: Roupeiro, Perrum e Alvarinho
Enologia: António Cavalheiro e Jorge Alves
PVP: €37,50
A casta Perrum, ainda que tradicional na região, tem andado arredada da escolha dos produtores. Este branco teve um estágio de 16 meses em ânforas italianas de 1000 litros de capacidade. 1400 garrafas produzidas.
Dica: elegante, de recorte mineral, fruta com frescura e complexidade. Muito bem conseguido.

Espumante Quinta d’Aguieira Reserva Bruto branco s/d
Região: Bairrada
Produtor: Aveleda
Castas: Chardonnay, Maria Gomes, Fernão Pires e Touriga Nacional
Enologia: Diogo Campilho
PVP: €10,49
Vinhas em Águeda, em solos de calhau rolado e areias grossas. Degorjado em 2023; esta indicação ajuda muito na escolha dos consumidores: quanto mais recente o dégorgement, melhor.
Dica: fácil, sem segredos, gastronómico, um espumante polivalente à mesa, a consumir em novo.

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