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Tirada do baú: Caves do Barrocão

As Caves do Barrocão estavam localizadas na Bairrada. Com tantas outras – Império, Fundação, Borlido, S. João, Freixo, Montanha, só para citar algumas – eram sobretudo armazenistas: não dispunham de vinhas, compravam vinho feito que, depois, loteavam e estagiavam nas caves. Numa época em que as denominações de origem eram poucas, as caves bairradinas abasteciam-se localmente –  recordemo-nos que a Bairrada só passou a D.O. Bairrada em 1979 – e, com muita frequência, no Dão. Para o consumidor actual fica eternamente a dúvida de saber que lote entra em cada vinho, qual a origem, como foi conservado e tantos outros pormenores a que agora damos importância. Sabe-se que se faziam lotes de Bairrada e Dão e que, em algumas das caves como a S, João, o vinho que resultava desse lote era precisamente o Reserva Particular.
Temos então aqui um Garrafeira Particular (a adjectivação só dependia da imaginação) a que o produtor também juntou o qualificativo de Tinto Velho. Nesta época eram os vinhos velhos que eram mais apreciados e usava-se mesmo o termo “envelhecido em casco” em vez de “estagiado em casco”. Este apresentava a graduação moderada de 12% ácool. Outros tempos…
O nível dentro da garrafa era, atendendo à idade, aceitável (ver foto). Ao retirar o lacre temi logo o pior: a parte de cima da rolha estava demasiado molhada e uns bons 4 mm abaixo do que deveria. Mas não se desiste assim à primeira. A tentativa de retirar toda a rolha foi gorada e a parte final caiu para dentro. Depois veio o teste definitivo: deitei um pouco num copo, mesmo com restos de rolha e a snifadela da ordem: o vinho estava ainda com muita saúde, frágil na cor, ainda com boas tonalidades vermelhas e com a cor mogno a justificar a idade.
Provado, passou no teste sem qualquer favor. Muito delicado e frágil na boca, com bons aromas licorados, seco e longe de estar morto, é um vinho que se destina (na minha modesta opinião) a ser consumido de duas formas: a solo, na conversa pós prandial ou, ainda à refeição, a acompanhar sobremesas com muitos ovos, do toucinho do céu ao pudim do Abade. Se for servido ligeiramente fresco, melhor.
É sempre uma odisseia mas às vezes a coisa corre bem. E, 54 anos, são 54 anos, caramba. (JPM)

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