Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…

Vamos lá recapitular
Só mesmo para que tudo corra bem
Com a aproximação do Natal e respectiva overdose de tudo – família, comida, bebida – o enófilo começa a tremer. Vai ouvir das boas se a coisa não correr bem do lado vínico e ouvir ainda mais se as iguarias não estiverem à altura, apesar do esforço do aprendiz de pasteleiro. O que se deve premiar é a vontade de escapar a todos os pratos já confeccionados pelas grandes superfícies, a todos aqueles doces que dão uma trabalheira e que, ali, é cash and carry e pronto, tudo feito. Mas vamos aos vinhos, recuperando aqui algumas ideias, sempre úteis nesta quadra. Como se costuma saber com antecedência o menu que nos espera, é mais fácil estabelecer o nosso plano vínico. Ele passa então por brancos mais invernosos, com estágio em madeira, que resultem, por exemplo, de lote de várias colheitas (temos falado deles amiúde e hoje regressamos com mais uma sugestão) ou, porque não, uns brancos já com alguns anos. O preceito básico a seguir é: abra sempre os vinhos com antecedência para se certificar que estão limpos, sem problemas de rolha ou outros; depois, se estiver muito frio no exterior, basta colocar os vinhos na varanda para os ter à temperatura certa. Os tintos não deverão ser demasiado encorpados porque bacalhau, polvo, perus, galos, cabritos e lombos de porco não requerem vinhos pesados. Use preferencialmente garrafas magnum, uma medida muito equilibrada para um grupo maior. Prove com antecedência e, se for caso disso, decante para retirar o depósito; lave bem a garrafa e volte a colocar o vinho lá dentro. O tema da decantação pode exigir um bom funil de rede muito fina (uma boa prenda para oferecer a si próprio) e um bom saca-rolhas de lâminas, um artefacto indispensável que todos deveriam ter mas que muitos, incluindo os restaurantes, não têm. Quando a rolha parece estar colada ao gargalo este é o objecto que nos pode salvar. E funciona sempre muito bem. O mesmo não se pode dizer com vinhos muito velhos porque a rolha tende a estar muito húmida e frágil e com este saca-rolhas vamos empurrar a rolha para dentro.
Resta-nos aqui falar de dois elementos-chave da celebração: o espumante e os generosos. Gosto de servir o espumante como aperitivo, ainda que na Bairrada também o usem como digestivo. Sirvo com pequenos canapés, coisa simples uma vez que o repasto pode ser pesado; uso sempre da variedade Bruto e tenho alguma dificuldade na escolha porque temos bons espumantes de norte a sul. Também aqui a garrafa magnum pode ser bem mais interessante. Para esquecer são as antigas taças do tempo dos nossos pais, agora queremo-las em forma de túlipa ou, na falta, delas, há que servir nos copos de branco. Em relação aos generosos, uma advertência/conselho: se vai servir um Porto, Madeira ou Moscatel que tem em casa há muito tempo, é provável que a garrafa tenha depósito e isso requer colocação da botelha em pé com alguns dias de antecedência e decantação obrigatória. Depois não esqueça a antiga regra que nos diz que não é por ser velho que é bom. Por isso não deixe para a última da hora a abertura dos generosos, para que tenha tempo de remediar o que tiver de ser remediado. E que tudo corra pelo melhor.
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Teixinha Field Blend barrica tinto 2021
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Herdade da Malhadinha Nova
Castas: Alicante Bouschet, Aragonez e Trincadeira
Enologia: Nuno Gonzalez
PVP: €35
Propriedade na serra de S. Mamede, 2 ha de vinhas. Este resulta de uvas fermentadas em lagar e estagiadas por 14 meses em barrica. Feitas 3075 garrafas e 250 magnuns.
Dica: concentrado, rico, excelente textura de fruta e taninos, tudo num registo de grande classe, moderno no perfil mas muito bem conseguido.
A 10ª Discórdia Arinto 2 s/ data
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Edual – Herd. Vale d’Évora
Casta: Arinto
Enologia: Filipe Sevinate Pinto
PVP: €29,90
Este vinho celebra 10 anos da marca Discórdia (em terras de Mértola) e resulta de um lote das colheitas de Arinto de 2020 e 21. Os vinhos estagiaram separadamente em barrica por dois e um ano. Fizeram-se 1180 garrafas.
Dica: maduro na fruta, excelente na acidez de boca, barrica muito bem integrada. Um branco sério que justifica prova atenta. De meia-estação.
Crochet tinto 2021
Região: Douro
Produtor: Esteban & Tavares
Castas: Touriga Francesa e 40% de Touriga Nacional
Enologia: Susana Esteban/Sandra Tavares da Silva
PVP: €35
Feito “a 4 mãos” em inox com estágio de 18 meses em barrica (20% nova). 3930 garrafas. No Alentejo surgiu posteriormente, e pela mesma dupla, o Tricot.
Dica: medianamente concentrado de cor, a maceração foi ligeira para se obter um tinto mais jovial e guloso, com barrica no ponto. Excelente desde já mas com futuro na cave.
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