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Douro com história antiga

Mas com vinhos novos

Nas escolhas desta semana a estrela é o Casa Ferreirinha Reserva Especial 2014, muito bem secundado por um Mirabilis a todos os títulos notável, e um Duorum de tipo novo. Expliquemo-nos. O Reserva Especial é um tinto com muita história, nasceu em 1960 e teve, até hoje, 18 edições. Na década de 60 teve mais uma edição, em 62, a que seguiu um longo hiato até que teve dois novos lançamentos na década seguinte – 1974 e 77. A sua história mais recente inicia-se com o fabuloso 1980 e, de então para cá, passou a ter edição mais regular, sendo editado nos anos em que não se faz Barca Velha (BV). Como usa uma garrafa especial, em tudo idêntica ao BV, o Reserva Especial tem também de «sofrer» a prova do tempo e, só após longos anos em garrafa, se decide se leva o título do pai ou se fica como Reserva Especial. Na origem tem as mesmas uvas e o mesmo tratamento que o BV mas após ser provado regularmente e durante vários anos, são os enólogos que decidem que título dar ao vinho. Tive a sorte de os ter provado todos e confesso que, em alguns casos, acho que a decisão não foi a mais acertada. Coisas de provador enófilo. O assunto, engano ou acerto, é de resto, uma das brincadeiras preferidas quando estas provas têm lugar. Sobre o que distingue um do outro é tema para pôr os enólogos da casa a dissertar durante horas: ah e tal a complexidade, ah e tal a longevidade, ah e tal a estrutura de boca. Tudo assuntos muito sérios. Na verdade, para o enófilo, o Reserva Especial tem a vantagem de ser bem mais barato que o BV e, sobre a longevidade temos opiniões diversas: há BV que não evoluíram tão bem como se esperava (para mim o 82, por exemplo) e reservas que se mostraram grandiosos por muitos anos, como o 80 ou o 86 ou mesmo o 89 que foi provado de novo neste lançamento do BV. Este 2014, que nasceu num ano fresco e que alguns não vaticinavam que este topo de gama pudesse ter edição, revelou estar em grande, grande forma. Os consumidores que podem chegar até estes vinhos (o BV aproxima-se dos €900) cometem com frequência um erro crasso: compram e guardam o vinho à espera do tal momento especial. O que acontece é que, quando tal momento chega, o vinho leva tantos anos cd vida que, inevitavelmente, já se encontra na linha descendente. Surgem então os comentários de desalento: isto é que é o BV? Foi para isto que gastei tanto dinheiro? Pois é, o erro depois não tem emenda. Estes vinhos já têm tempo suficiente de estágio nas caves da Ferreira para se mostrarem no melhor momento quando são comercializados. E se é para ter verdadeiro prazer, então é de bom tom que seja consumido, digamos, nos 5 a 7 anos seguintes ao lançamento. Aí sim vemos que se trata de um vinho grandioso. No entanto, a partir daí, entramos na zona de risco. Podem durar muito mais? Podem, claro, mas não é a mesma coisa. Muito atenção, portanto.
Os outros dois são de dois tipos diferentes: o Mirabilis de enorme estrutura que, esse sim, pode ser guardado muitos anos a partir de agora, e o Duorum Altitude que alinha na tendência actual de vinhos mais ligeiros, mais abertos de cor e muito bebíveis à mesa, dando grande prazer. É assim o Douro: imensas possibilidades, variados perfis e preços para todas as bolsas.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Casa Ferreirinha Reserva Especial tinto 2014
Região: Douro
Produtor: Sogrape Vinhos
Castas: Touriga Nacional, Touriga Francesa, Tinta Roriz e Tinto Cão
Enologia: equipa dirigida por Luis Sottomayor
PVP: €280
Foram feitas 18 000 garrafas e 1500 magnuns. Neste momento em cave e à espera da decisão, estão as colheitas de 2015, 17 e 18.
Dica: denso, cheio mas muito elegante, é um tinto notável pelo equilíbrio e prazer que dá na prova. Exige decantação prévia em virtude do depósito na garrafa.

Mirabilis tinto 2021
Região: Douro
Produtor: Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo
Castas: Tinta Amarela e uvas de vinha centenária
Enologia: Jorge Alves
PVP: €150
É a sexta edição deste tinto. No estágio (12 meses) usaram-se 80% de barricas novas mas no futuro os vinhos passarão a estagiar em tonel. Foram feitas 7500 garrafas.
Dica: denso, muito estruturado e concentrado, é um tinto de notável equilíbrio entre acidez e taninos. Impressiona os sentidos.

Altitude by Duorum tinto 2021
Região: Douro
Produtor: Duorum Vinhos
Castas: Touriga Nacional, Touriga Francesa e Tinta Roriz
Enologia: João M. Portugal Ramos/João Perry Vidal
PVP: €7,50
A quinta localiza-se no Douro Superior. As uvas foram pisadas em lagares robóticos, fermentaram e estagiaram em inox até ao engarrafamento.
Dica: da ausência da madeira surge aqui um tinto de perfil acessível, muito polido, e harmonioso na fruta. Intensamente gastronómico.

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