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O género e as cores

Um problema chamado rosé

Recentemente um amigo meu foi pai, pela terceira vez. Nasceu uma menina. Na brincadeira perguntei-lhe se tinha comprado roupa cor de rosa. De sorriso matreiro disse-me que sim mas, na sequência da loucura que por aí grassa, já se interrogou se não estará a condicionar as escolhas futuras da jovem. Lembrei-me disto porque o vinho rosé foi durante décadas apelidado de «vinho para senhoras», ora por causa da cor, ora porque era mais leve, ora porque tinha pouco álcool, ou seja, uma carrada de ideias e preconceitos que, nos tempos que correm, dariam direito a invectivas públicas. Em boa verdade o rosé tem-se alterado muito, sempre ao sabor das modas. Há uns dias estive na apresentação de mais um, por sinal bastante descorado. Esta é uma das tendências da moda, ditada pela Provença francesa: alguns rosés dessa região do sul quase parecem água, de tal forma são descorados. São piores por causa da cor? Não, mas como os olhos também bebem há quem vire as costas a este modelo. A outra tendência da moda é os vinhos surgirem a público com muita redução, que é exactamente o contrário de oxidação. Por falta de micro-oxigenação, os vinhos ganham cheiro de fósforo queimado ou pólvora. É algo que se resolve com arejamento e decantação mas, diga-se, não são práticas habituais nos vinhos rosados. Cada vez há mais vinhos que apresentam esta característica, tida por alguns como muito válida mas…para quem quer beber um bom rosé, o nariz começa a torcer-se.
O país está inundado (no bom sentido) de vinhos rosados. Na sua maioria cumprem as actuais «regras» que têm tido mais aplausos: têm uma cor salmonada, são secos ou quase secos, não têm gás e são moderadamente alcoólicos. Dito por outras palavras, são os verdadeiros companheiros de verão, das esplanadas, das comidas leves e do convívio pós-praia. A diferença entre os secos e os quase secos é que os primeiros são sobretudo aconselhados para a mesa e os segundos até dispensam a comida e podem bastar-se a si próprios, quer como aperitivo quer como vinho de soleira da porta. Ainda não será correcto dizer que o país está rendido aos rosés mas, até pela quantidade no mercado, é de crer que «la vie en rosé» está no horizonte. Mas há que resolver um problema, qual pedra no sapato: se é vinho de verão, o rosé tem de estar no mercado, distribuído e pronto a ser consumido, no início da estação e não em Setembro ou Outubro; também há rosés que se comercializam com idade mas não é desses que estamos a falar. Ora o que parece estar a acontecer é os distribuidores argumentarem que ainda têm vinho da colheita anterior para vender e, claro, a nova edição fica para trás, sem ganhar nada com isso. Perdem os produtores e os consumidores. Se vendem pouco têm de passar a fazer quantidades mais limitadas mas não se pode esperar pelo fim do stock, o vinho tem que estar nos locais de consumo no momento certo. É que, como sabemos, o consumidor olha para a carta de vinhos e vai escolher o mais recente e não o da anterior colheita. Medidas radicais precisam-se: o que não se vender até Junho sai fora! É preferível estar na crista da onda e sem preconceitos, claro…

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Quanta Terra Grande Reserva branco 2021
Região: Douro
Produtor: Quanta Terra
Castas: Viosinho e Gouveio
Enologia: Celso Pereira/Jorge Alves
PVP: €25,89
Uvas da zona de Alijó. Estágio em barricas usadas de 500 litros. Graduação muito moderada nos 12% de álcool.
Dica: um Douro de bom corpo e acidez impecavelmente inserida no conjunto. Branco de mesa, não de esplanada.

Covela Biológico rosé 2022
Região: Reg. Minho
Produtor: Lima & Smith
Casta: Touriga Nacional
Enologia: Rui Cunha
PVP: €10
Nasce quase na fronteira dos Verdes com o Douro. Na sequência das boas edições anteriores, este é um rosé vencedor, claramente vocacionado para a esplanada.
Dica: de corpo leve e aroma levemente floral, temos rosé para alegrar o verão.

Lagoalva Reserva tinto 2020
Região: Tejo
Produtor: Quinta da Lagoalva
Castas: Alfrocheiro e Syrah
Enologia: Pedro Pinhão/Luis Paulino
PVP: €9,99
A casta Alfrocheiro sempre se deu bem nestas terras ribatejanas e tem a particularidade de se ligar muito bem a outras, neste caso a ubíqua Syrah.
Dica: maduro, sente-se que vem de clima quente, muitas notas de ervas secas. Macio e envolvente, a boa acidez dá-lhe frescura. Para mesa, já!

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