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O renascer da Francisca

E outras que adiante surgirão

A confusão é possível mas não, não estou a referir-me à Francisca que teve direito a dar nome a uma vinha, no portefólio da Qta. Vale D. Maria. Essa, filha de Cristiano van Zeller e Joana Lemos, continua bem activa, sem precisar de renascimentos. A outra é a Tinta Francisca, uma (mais uma…) das antigas castas do Douro que hoje conhece um tímido renascimento. A região, depois de ser «inundada» de Touriga Francesa, Touriga Nacional e Tinta Roriz, a partir dos anos 80, vê agora com bons olhos a recuperação de antigas variedades onde vamos encontrar também a Malvasia Preta (referida aqui numa crónica há cerca de um ano), a Rufete, Bastardo, Samarrinho, Mourisco e muitas outras. Sobre o tema há que ter algumas ideias claras: estas (e muitas outras) formam aquilo a que se costuma chamar na região as «castas de tempero», variedades que só por si não permitem fazer um grande vinho mas que servem exactamente para alegrar um lote onde entram, em maioria, as «variedades âncora» atrás referidas. Resta saber se isto é importante e como. No caso dos vinhos do Porto, sobretudo os Vintages, são estas castas de tempero que fazem com que o vinho desta quinta se distinga do de outra quinta e integre, assim, o ADN do vintage daquela propriedade. O tema não é pacífico porque haverá sempre quem entenda que o melhor Vintage é aquele que resulta dos melhores lotes de quintas e zonas diferentes, com exposições e altitudes diferenciadas. É uma opinião possível e credível. Neste segundo caso, o papel das castas de tempero dilui-se e deixa de ser marcante; no primeiro, o facto desta quinta ter Malvasia Preta e Cornifesto e mais Tinta Carvalha ou Tinta da Barca e a outra ter Rufete, Tinta Amarela e Tinta Francisca pode fazer toda a diferença na identificação e na expressão própria do vinho. É destes e de outros temas que se alimentam as conversas intermináveis à volta das castas do Douro. Só por si, castas como a Tinta Francisca originam vinhos mais abertos de cor mas são tintos muito cativantes. Creio que o primeiro que provei terá sido há uns anos o Carvalhas, da Real Companhia Velha, empresa que tem sabido dar o melhor aproveitamento ao património vitícola de que dispõe na quinta que fica no Pinhão. Criou mesmo uma colecção – Séries – exactamente para aí incluir as castas antigas, produzidas em quantidades moderadas para aquilatar do seu comportamento em garrafa e da recepção do consumidor. Uma vez passado esse teste os vinhos varietais passam a incorporar o portefólio normal, como é o caso deste Carvalhas. Vieira de Sousa é nome antigo na região e são vários os descendentes que estão hoje ligados ao vinho, quer do Porto quer DOC Douro. Passou a ser mais um player, algo que efusivamente se saúda, na pessoa das duas irmãs herdeiras do nome – Luísa e Maria Eduarda – que já têm no mercado um portefólio alargado de vinhos. Recentemente apresentaram este que hoje referimos, um Rufete e um Porto rosé. No futuro haverá um Tinto Cão. De Muxagata chega-nos o outro, pela mão do enólogo Luis Seabra. Ainda são poucos os exemplares mas cremos que a Francisca vai fazer o seu caminho, uma vez que os ventos da moda correm a seu favor.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Vieira de Sousa tinto 2021
Região: Douro
Produtor: Vieira de Sousa (Distrib: Wineman)
Casta: Tinta Francisca
Enologia: Luísa Borges
PVP: €20 (há também loja online em vieiradesousa.com )
A vinha, de cota baixa e virada a nascente, foi plantada em 2015. Vinificada em mini lagares com cacho inteiro, foram feitas 500 garrafas. Têm também Rufete e Tinto Cão (no futuro), sempre em produções muito pequenas.
Dica: ligeiro na cor, aromas vegetais aqui a conferirem um perfeito perfil gastronómico ao vinho. Bebe-se com muito prazer.

Muxagat tinto 2017
Região: Douro
Produtor: Muxagat Vinhos
Casta: Tinta Francisca
Enologia: Luis Seabra
PVP: €33,50 (Corte Inglés)
De uma vinha com 14 anos são colhidas estas uvas, fermentadas em lagar com 45% de engaço. Maceração dura depois 20 dias. Vinte meses em barricas. Cerca de 2200 garrafas.
Dica: aberto na cor e com perfil vegetal, resulta em boa prova de boca, com barrica bem integrada. Muito bom equilíbrio de conjunto. Gastronómico.

Carvalhas tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Casta: Tinta Francisca
Enologia: Jorge Moreira
PVP: €45
Estagiou 12 meses em barrica usada, após vinificação em inox. Deste vinho fizeram-se cerca de 3300 garrafas.
Dica: é grande a harmonia entre aroma e sabor, sente-se a barrica mas na medida certa. Ainda com alguma austeridade, um tinto de excelente recorte. Absolutamente consensual.

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