Já é possível algum balanço da vindima de 24 À hora desta crónica “vir a…
O eterno retorno (ou recomeço)
Em Março volta a esperança
Nestes dias de Março em que escrevo estas linhas podemos descobrir duas situações muito distintas nas vinhas que encontramos à beira da estrada: umas já estão podadas e prontas para o novo ciclo mas outras ainda nem podadas estão. Daqui não se deve concluir que há uns produtores ajuizados e outros mandriões. O momento exacto da poda não tem dia nem semana e depende muito do clima. Repare-se: em zonas que sejam mais atreitas a geadas de Primavera, a poda tardia pode ser aconselhável porque uma geada forte queima a vinha e, se ela já tiver rebentos e folhas, é provável que a produção do ano fique irremediavelmente comprometida. Sabe-se que há zonas mais propícias a geadas do que outras e é maleita muito difícil de combater. O clássico exemplo que ilustra os males que a geada provoca vem da zona de Chablis, ao norte da Borgonha. Ali, de tal forma é acidente climático recorrente, que os produtores tentam combatê-la ateando fogueiras ao longo das vinhas para fazer subir a temperatura e assim evitar o desastre. Normalmente resulta mas, se for violenta, a geada – da noite para o dia – transforma uma vinha numa verdadeira «terra queimada». E não há regiões imunes que bem me recordo de ver fotos de vinhas no Alentejo que mais pareciam ter sido arrasadas pelo fogo. Assim sendo, uma poda tardia pode ajudar a salvar a colheita. O que se corta e o que se deixa nas varas da videira depende do que se pretende e do perfil do vinho que queremos obter dali. Há técnicas diferentes e se para um leigo o que se deve cortar é óbvio, para um técnico é tudo diferente. Ensinar bem os podadores é assim fundamental para que o trabalho seja bem feito. Mas infelizmente não chega. Uma das maiores dores de cabeça de quem tem vinhas é pensar que uma tesoura de poda possa ser um transmissor de doenças (fungos) de uma cepa para outra. O pânico tem nome – esca – e é uma doença do lenho, ou seja, da parte lenhosa da planta, e é aconselhável que quando se detecta uma planta atacada durante o ciclo vegetativo ela deve ser marcada para ser arrancada na altura da poda e queimada. Como se trata de uma doença «peça a peça», numa mesma vinha pode haver plantas doentes e outras sãs. O ideal seria que após o corte em cada cepa a tesoura fosse desinfectada para não levar a desgraça para a planta seguinte. O problema é gravíssimo porque não se vislumbra solução técnica conclusiva e o problema sente-se por toda a Europa. É mais um, tal como há uns anos tocaram os sinos por causa de outra praga – flavescência dourada – que, essa sim, obriga ao arranque de toda a parcela. Hoje há tratamentos para este mal, obrigatórios para todos, mesmo para os produtores que defendem a pouca intervenção na vinha. Sem querer ser pessimista, a verdade é que a vinha é um campo fértil para tudo quanto é bicharada e produzir uvas sãs é muito mais difícil do que se imagina. Se se quer ter bom vinho todos os anos, não há grande volta a dar, é preciso intervir, proteger, analisar e tratar a tempo e horas. Por essas e por outras é que há vignerons que passam religiosamente todo o dia na vinha, com toda a atenção para que corra bem o que tem quase tudo para correr mal. E em cada ano renasce a esperança, sob o lema: este ano é que vai ser! É a vida do agricultor.
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Adega Mãe Terroir branco 2017
Região: IG Lisboa
Produtor: Adega Mãe
Castas: Viosinho e Arinto
Enologia: Diogo Lopes/Anselmo Mendes
PVP: €60
O mosto fermentou em barricas de 400 litros e aí estagiou por 12 meses. Este topo de gama da empresa só é editado – também em tinto – em anos excepcionais. Produzidas 1930 garrafas. A próxima edição, da colheita de 2018, sairá no final deste ano.
Dica: bonita cor dourada, um branco com evolução mas sem oxidação, cheio, com óptima acidez. Será um prazer à mesa com pratos que incluam molho de manteiga ou natas.
Vinha do Norte tinto 2019
Região: Douro
Produtor: Lobo de Vasconcellos Wines
Castas: Touriga Nacional, Touriga Francesa e Tinta Roriz
Enologia: Manuel Lobo
PVP: €62,50
Vinhas arrendadas em Nagozelo, com cerca de 34 anos de idade, com exposição Norte (daí o nome). Estagiou 20 meses em barrica e fizeram-se 5800 garrafas.
Dica: belo tinto, concentrado e rico, fechado, austero e com muito boa madeira. Um vinho com muito futuro, um projecto a acompanhar.
São Luiz Organic tinto 2021
Região: Douro
Produtor: Sogevinus
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Francesa
Enologia: Ricardo Macedo
PVP: €10
Num contra-rótulo quase ilegível diz-se que é o primeiro vinho bio da empresa, onde até o vidro (mais leve) e a cápsula (reciclável) são mais amigas do ambiente.
Dica: jovem no perfil, aberto na cor e na fruta viva, um tinto bem exposto, sem segredos e muito apto para consumo imediato.
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