Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…

Vinho do Porto, mudar é preciso
E dispensam-se os lamentos
O vinho que seleccionei para esta crónica é um Porto 10 anos. A escolha foi intencional e tem a ver com a polémica que se instalou no sector a propósito de um artigo que saiu no EXPRESSO de 14 de Janeiro que dava conta de uma análise feita na Holanda a vinhos do Porto 10 anos que afinal não tinham 10 anos, com vinhos de muito menor idade a entrarem no lote. Logo se levantou uma revolta no sector, com o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto e a Associação de Empresas do Vinho do Porto a virem em defesa da genuinidade e qualidade dos vinhos e a lamentarem a notícia holandesa que sugeria um vinho falsificado. Vamos por partes: a legislação dos vinhos do Porto com indicação de idade (10, 20, 30 e 40 anos) sugere que aqueles vinhos correspondam a uma média da idade indicada, ou seja, um Porto com indicação de idade pode ter vinhos mais novos e outros mais velhos; por outro lado é atributo da Câmara de Provadores do IVDP aprovar os vinhos como tendo carácter e «estilo de 10 anos», de acordo com o perfil reconhecido no sector e com fundamento na história daquela categoria. É aqui que entra o lado subjectivo que parece ninguém quer contestar e que, aproveitando esta polémica ora gerada, se poderia apontar para uma revisão da legislação. Bastava (ainda que não se trate de uma mudança fácil…) que a lei dissesse que, para um vinho indicar 10 anos no rótulo, todos os vinhos do lote deveriam ter 10 ou mais anos. Dessa forma já nada disto acontecia. É, por exemplo, um método usado no whisky com indicação de idade. Se deixarmos ao livre arbítrio de quem decide, se tem ou não tem estilo 10 anos, podem acontecer mais vezes situações com esta da Holanda. Sobre isto é exemplar a história que em tempos Bruce Guimaraens (já falecido), da empresa Fonseca e pai de David, o enólogo da empresa, me contou: enviou para aprovação um lote para um 10 anos e foi chumbado porque tinha cor a mais e não correspondia ao «estilo 10 anos». Bruce não foi de modas e juntou um conjunto de vinhos de muito menor qualidade mas com a cor «do estilo 10 anos» e esse lote foi aprovado. Aí Bruce foi ao IVDP com as duas amostras e lamentou profundamente que tivessem chumbado um vinho de muito melhor qualidade, aprovando um bem mais fraco mas com a cor mais acastanhada. Fazer depender a aprovação da subjectividade do «estilo 10 anos» origina coisas destas. Para finalizar, Bruce conseguiu a aprovação do primeiro lote…! O que é preciso agora é mudar a lei. Os comunicados que vieram contestar a notícia enfermam de um «preconceito de Calimero» e só faltou dizerem que «it’s an injustice…», como dizia o pintainho. A legislação não é imutável e tem de ser mais claro para todos o que se pode, ou não, fazer quando se quer preparar um 10 anos ou um outro Porto com indicação de idade. Bem mais importante era que as duas instituições despendessem mais energia na promoção do Vinho do Porto. Quantos consumidores, inquiridos na rua, sabem o que é um Porto tawny? E um vintage? Alguns, intelectuais por certo, poderão até dizer com ar sabedor que um vintage é um Porto com 20 anos (gente com estudos…). Sem comunicação, informação e promoção, o Porto vai continuar num casulo. O que é que se está à espera? Que um consumidor, perante a pergunta «Foi você que pediu um Porto Ferreira?, diga sim senhor, mas só se houver um bom balanço entre juventude e maturidade, num estilo 10 anos? Há que mudar o que é preciso e, no Vinho do Porto, não faltam temas.
Sugestão da semana:
Quinta do Vale Meão Vinho do Porto 10 anos
Região: Douro
Produtor: F. Olazabal & Filhos
Castas: várias
Enologia: Francisco Olazabal
PVP: €25 (preço sugerido pelo produtor)
Esta é a primeira edição de um tawny 10 anos da quinta que fica no Douro Superior e fez parte do património de Dona Antónia Adelaide Ferreira, sendo hoje pertença dos seus descendentes.
Dica: óptimo compromisso entre juventude e maturidade, já com muitos frutos secos no aroma e sabor. Macio, afinado, pronto a beber. Sirva fresco.
Concordo com o João Paulo Martins.
É preciso coragem e seriedade, para encarar o problema de frente e mudar: A Legislação e a Promoção e Informação.
Só que isto não pide ser feito só pelos “aparatchicks” do IVDP… mas com base no Conselho Interprofissional do IVDP, que reúne Produção e Comércio; juntemos-lhe o Conselho Consultivo (do Presidente do IVDP) e, as Associações (caso existam), de jornalistas enogastronomicos, sommelliers e/ou outras individualidades de livre pensamento, e teremos um Blend Equilibrado e único que fará o futuro e a riqueza de um estilo de Porto tão importante como o dos Tawnies com idade. 10, 20, 30, 40, 50 e +80 anos.
Quanto à Promoção e Informação, comecemos por simplificar (e democratizar/modernizar) as mensagens; e. g.: 1. @s Millenni@ls e su@s irm@s e prim@s mais velh@s gostam de Portos de 20, 30 e 40 anos, quando os provam… E não precisam de ir a Cambridge ou a Oxford para os apreciar, embora algum@s também vão; 2. @S nov@s Emigrantes, agora pomposamente chamad@s de “Expats” podem voltar a ser mais um bom veículo de promoção do vinho do Porto, pelo mundo, como o foram os nossos compatriotas nos anos 50, 60 e 70 do Sec. XX; melhor ainda
Aproveitemos também estes “nichos”, que ainda têm a vantagem de assegurar, um “Upgrade” Socio-Economico direto e de Valor Acrescentado.
ABDD.
A Bem Do Douro!
Paulo Osório