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Menos produção? Ainda bem!

Será cedo para previsões definitivas mas…

Estamos a dias de se iniciar nova campanha e, em algumas regiões, o mês de Agosto é já de intensa vindima. Recordo-me de um produtor no Alentejo que, nos últimos anos, acabou a vindima a 18 Agosto. É muito difícil qualquer comparação entre estas datas e o que se passava há algumas décadas. Há mesmo zonas, como o Tejo e Alentejo onde, desde há vários anos, se vindimam algumas castas mais precoces ainda em Julho. As alterações do clima são as responsáveis por estas mudanças e, pelo que se vê, tudo se vai agravar no futuro. As variações vão também obrigar à substituição de castas, deixando no campo as que melhor resistem ao calor e substituindo as que são mais sensíveis.

Como já em tempos referi, estas alterações acabaram por ser benéficas para zonas onde mais calor significou colheitas mais regulares e de qualidade constante; estou a pensar na zona de Bordéus onde agora os bons anos se sucedem, alegrando produtores locais que já têm mercados seguros. Para os outros que se vêem aflitos para vender os vinhos, as colheitas abundantes e frequentes apenas agravam o negócio. Ironicamente quase se pode dizer que, por cá, muitos produtores suspiram por uma colheita miserável e desgraçada, ajudando assim a aliviar os enormes stocks que não se conseguem escoar.

Para a colheita deste ano o IVV (Instituto da Vinha e do Vinho) avança com previsões que são muito diversas. A mais surpreendente (e vamos todos esperar que se confirme) é o exponencial aumento da produção dos Açores (+ 105%) em relação ao ano anterior. O consolo é relativo se se pensar que desde 2019 os Açores têm conhecido colheitas de quantidade ridícula, numa altura em que os vinhos, sobretudo da ilha do Pico, têm algum reconhecimento nacional e internacional. Algumas regiões do continente contam aumentar a produção, como o Dão e Beira Interior e, residualmente, o Algarve. Todo o resto do país irá conhecer quebras, dos 5% nos Verdes até 20% no Douro. A forma como irá decorrer o mês de Agosto será determinante para os resultados finais. Em vinhos como o Porto, a quebra de produção pode ser um factor positivo porque haverá mostos de maior concentração e, assim, vinhos mais ricos. Se estivéssemos em época de aumento alargado da procura, uma menor produção seria um sinal negativo mas, face aos stocks existentes, e à diminuição do consumo (assunto já referido em anterior crónica), uma colheita menos abundante nada tem de dramático.

De qualquer forma para que tudo corra bem vai ser preciso que não faça calor demais, não chova muitos dias seguidos e não existam aqueles ataques finais de cicadela que tão dramáticos foram em algumas zonas do país. O resultado destes ataques só é evitável com tratamentos, quase sempre agressivos, e que não estão integrados no caderno de procedimentos da agricultura bio. Um sarilho. Já a chuva em excesso provoca o apodrecimento dos bagos e a colheita fica seriamente comprometida. Assim sendo, as previsões dão-nos uma perspectiva do que aí vem mas, nesta fase, ninguém no seu perfeito juízo pode ter certezas. Coisas da agricultura…

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Quinta da Romaneira Pulga branco 2023
Região: Douro
Produtor: Quinta da Romaneira
Castas: Boal (75%) Viosinho e Rabigato
Enologia: Carlos Agrellos
PVP: €43
A casta Boal é conhecida em França como Sémillon. O mosto fermentou em barrica, das quais 40% novas. Muito bom o diálogo entre a madeira e a fruta.
Dica: moderno no estilo, gordo, com muito boa acidez, um branco perfeito para peixes com molho de manteiga, por exemplo. A prova melhora com copos largos.

Casa de Vilacetinho Reserva branco 2020
Região: Vinho Verde (Amarante)
Produtor: Casa de Vilacetinho
Castas: Avesso
Enologia: José M. Antunes/Fernando Moura
PVP: €20
A primeira marca no mercado data de 1957. A propriedade dispõe de 30 ha de vinhas, em terrenos graníticos. Uva prensada com engaço e final da fermentação em barrica usada. Posteriormente passou mais dois anos no inox. Produção de 5000 garrafas.
Dica: citrino dourado na cor, um Verde volumoso mas com excelente acidez. Pode ser vinho de meia estação ou para acompanhar pratos mais estruturados.

Quinta das Carvalhas Reserva tinto 2022
Região: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Castas: Touriga Nacional (50%do lote) e uvas de vinhas viradas a norte
Enologia: Jorge Moreira
PVP: €35
A quinta das Carvalhas está situada no Pinhão, bem no coração do Cima Corgo. Tem centro de visitas e loja. O mosto teve fermentação em cuba e o vinho um ano em barricas, 20% novas. Produção de 25 000 garrafas.
Dica: fruta negra, perfil austero mas com excelente brilho e alguns florais de Touriga Nacional. Impressiona pela elegância de conjunto. Muita classe a preço ajustado.

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