E por que não de Alpiarça? O assunto de hoje é o whisky. Não tem…

Em modo de espera
Pelas cepas mas também pelas bichas
Janeiro é suposto ser uma época de clima frio, mesmo muito frio, com chuva e tudo o que daí deriva. É também a época em que a vinha está em modo de dormência, sem temperatura nem energia para renascer. Nesta altura, e durante o próximo mês, os produtores irão fazer a poda da vinha. Essa acção é determinante, não só para a próxima colheita, mas também para as seguintes. Qualquer um de nós, leigos, sabe podar uma planta, seja uma hortênsia seja uma vara de uma cepa. É sabedoria mais do que suficiente para as plantas que temos no jardim ou para a meia dúzia de pés de vinha que ornamentam o quintal. Sabemos sim, mas apenas de forma empírica e nada profissional. A poda é mais uma daquelas tarefas anuais que conheceu várias inovações nos últimos anos.
Já não são só os enólogos que são estrelas, também já há grandes crânios que conseguem identificar com enorme precisão qual exactamente o galho que tem de ser podado, por onde anda a energia da planta e o que se pode esperar dela, se podada desta e não daquela maneira. Vamos então assistir a fogueiras na vinha onde se queima o que se cortou ou que os vizinhos não quiseram e, principal e obrigatoriamente, se queimam as varas e as cepas que adoeceram com a moléstia que tira o sono aos produtores – a esca: planta atacada significa planta arrancada e queimada. Se fosse só isto ainda estávamos bem mas descobriu-se que a poda com tesoura pode acabar por levar a moléstia de uma cepa doente para outra saudável. Estudam-se soluções mais práticas do que estar a passar a tesoura por desinfectante após a poda de cada cepa. E o problema não é português, é geral, e as regiões de maior prestígio já fizeram soar os gritos de alarme. Diga-se que a poda é a primeira actividade que precede o despertar da vinha. Há que saber o que se faz para não ter desgostos. Climas mais quentes e de recorte tropical não têm esta espera: poda-se e a planta logo renasce, em função da elevada temperatura ambiente, como acontece em várias regiões do Brasil. Não é assunto para os vinhos de referência mas para os de €1,99 em supermercado com promoções, esses vinhos servem na perfeição. É tudo uma questão de escala.
As bichas, nome carinhoso que se usa para falar das lampreias, parece que estão atrasadas. Por norma é em fins de Janeiro que sobem os rios para ir desovar e é nessa altura que lhes é barrado o caminho e convertem-se num dos petiscos mais caros da restauração. Já houve anos em que se conseguia prová-las, a preços, digamos, aceitáveis, mas nos últimos dois anos o desespero apoderou-se dos apreciadores do pitéu: escassearam as ditas e os restaurantes serviram-nas a preço de ourivesaria. Mas não vamos ser pessimistas, vamos aguardar mais um pouco, pode ser que se consiga voltar a provar numa modalidade menos habitual mas de elevado apreço entre os “lampreieiros” – em escabeche. Caso as bichas resolvam aparecer, e em quantidade que se veja, já se sabe que muitos minhotos e outros apreciadores, irão à adega aprontar as garrafas de Verde tinto, o tal vinho que a tradição impôs como acompanhante do prato. Não é decisão consensual, isso posso garantir, mas com a qualidade que, entretanto, também chegou aos Verdes tintos, a coisa até se compõe.
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Berço branco 2023
Região: Douro
Produtor: Domingos Alves de Sousa
Castas: Avesso, Arinto e Viosinho
Enologia: Tiago Alves de Sousa
PVP: €35
Avesso e Arinto foram vindimadas um mês mais tarde que a Viosinho. Estagiou um ano em barricas, 20% novas. Graduação moderada de 12,5%.
Dica: muito pureza de fruta, subtil e elegante. Madeira superiormente inserida, resulta muito bem. Requer bons copos (largos) e peixes requintados.
Casa Cadaval tinto 2021
Região: DOC do Tejo
Produtor: Casa Cadaval
Casta: Merlot
Enologia: Pedro Sereno
PVP: €10
Foram produzidas 6 600 garrafas. A vinha já tem a bonita idade de 47 anos. O conceito aqui apontou para um tinto de perfil muito fácil de gostar e acessível a todos os consumidores.
Dica: muito fiel aos aromas da casta, com fruta negra e hortelã, leve nota de carne fresca. Tudo fino, directo e muito polivalente à mesa.
Quinta de Pancas Cabernet Sauvignon tinto 2022
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Quinta de Pancas (Winestone)
Casta: Cabernet Sauvignon
Enologia: David Baverstock
PVP: €15
Propriedade em Alenquer. Vinhas em solos argilo-calcários, clima mediterrânico com alguma influência atlântica. Casta foi plantada há décadas; existe um topo de gama com o qualificativo de Special Selection.
Dica: muito bom exemplar da casta, com notas de grafite, leve pimento verde e resinas. Com o bom equilíbrio na boca e com óptima acidez, resulta num tinto muito gastronómico.
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