Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…

Fecho das contas
E com fézada para 2025
Em final de ano há sempre duas coisas que nos preocupam (se assim o entendermos) e que nos obrigam a tomar decisões: uma, muito difícil mas não há como fugir, que é exactamente: com que vinho vou celebrar a passagem da meia noite? Esta é uma questão vital para a qual demos uns palpites na semana passada mas como alguns leitores poderão ter dificuldade em encontrar aqueles champanhes, uma vez que não vendem em qualquer lado (!), hoje volto à sugestão das bolhas, num registo mais prático, indicando vinhos que se poderão encontrar nas garrafeiras. Sobre espumantes há que registar duas ou três ideias: estamos a falar de vinhos cuja segunda fermentação se faz em garrafa e que repousam mais ou menos tempo em cave, dependendo do perfil que o produtor pretende. Uma coisa é certa: quanto mais tempo o vinho estiver em repouso, com as borras da segunda fermentação na garrafa, melhor. Melhor ainda se o repouso for em cave fria e muito húmida, condição sine qua non para se fazer um grande espumante. As marcas-ícone de Champagne e os nossos melhores espumantes repousam 10 ou mais anos no sossego da cave. É ali que adquirem a finura dos aromas e da bolha, dois factores que se privilegiam quando se prova um espumante/champanhe. A parte difícil é que (aqui estou a pensar nos melhores champanhes) este tempo de imobilização implica custos enormes e muito espaço. A Möet &Chandon comunica que do seu topo de gama – a cuvée Dom Pérignon – se fazem 6 milhões de garrafas por edição. É só fazer as contas: 10 anos em cave, 6 milhões de garrafas por ano (se fosse esse o caso) era tragédia anunciada. A solução que muitos produtores encontraram é não fazer todos os anos, guardar vinho também em inox e usar vinhos de várias colheitas para fazer a cuvée sem data que é a fórmula mais usada em Champagne. É com esse lote de vinhos de vários anos que o produtor consegue apresentar a sua marca de combate, sempre com perfil idêntico. No topo ficam então os vinhos datados e as cuvées de luxo que todas as casas fazem questão de ter, sempre em quantidades mais moderadas.
O fim do ano é também um momento de balanço. Se é para nos alegrarmos vamos falar dos vinhos que saíram para o mercado, da boa vindima que muitos produtores tiveram, algo que é sempre animador. Para sermos realistas vamos ter de falar das dificuldades que os pequenos produtores, sobretudo do Douro, tiveram para encontrar comprador para as uvas. Não havendo organismo que os defenda e estando as grandes casas do Vinho do Porto cada vez menos dependentes das uvas para os melhores vinhos, a situação não vai melhorar. Nem com uma fézada das antigas é de esperar que acabe o escândalo das compras de vinho a granel no estrangeiro quando o país é excedentário em vinho. Também será milagre que muitas adegas cooperativas que, diz-se à boca cheia, estão de corda na garganta, consigam sobreviver. Por arrastamento, os sócios que entregam uvas (e não recebem por elas) ficarão sem solução à vista. Fézada a roçar a súplica é que a Natureza seja um pouco mais simpática com algumas regiões: Açores à cabeça, logo seguida da Madeira. Para os mais crentes, não há que enganar: let’s pray!
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Espumante Soalheiro Alvarinho Bruto s/ data
Região: Reg. Minho
Produtor: Quinta de Soalheiro
Casta: Alvarinho
Enologia: Asun Carballo
PVP: €17,50
Este espumante, que teve a 1ª edição em 1995, segue as regras da produção pelo método clássico da 2ª fermentação em garrafa.
Dica: com uma acidez elevada, mostra um corpo bem desenhado e não virará a cara a um prato de mariscos.
Espumante Murganheira Vintage 2015
Região: Távora-Varosa
Produtor: Murganheira
Casta: Pinot Noir
Enologia: Marta Lourenço
PVP: €30
Este espumante branco de uvas tintas assume-se como topo de gama da casa, um vinho que expressa bem a adaptação da casta (muito usada em Champagne) ao clima frio da região. Preço imbatível.
Dica: aqui estamos no terreno da elegância e da finesse, e de um vinho que nos delicia o palato com a delicadeza, a fruta fina e a persistência no sabor. Já um clássico.
Espumante Respectus Brut Nature branco 2019
Região: Dão
Produtor: Soc. Agr. Boas Quintas
Casta: Encruzado
Enologia: Nuno Cancela de Abreu
PVP: €50
Este é o primeiro espumante desta quinta, com um estágio de 48 meses em cave antes do dégorgement. O Dão tem alguns espumantes mas continua a ser sobretudo uma zona de brancos e tintos tranquilos. Brut Nature significa que não tem açúcar residual.
Dica: A casta porta-se bem, com bons aromas de fruta branca e folha de chá. Um espumante delicado, com acidez muito viva, a pedir ostras, por exemplo.
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