Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…

Mudar não é verbo a usar pelas forças vivas
Quem sabe, uns binóculos poderão ajudar…
Esta é uma crónica sobre tintos, ainda que tal não tenha sido intencional. Não me parece relevante fazer a estatística das escolhas de 2024, mas é verdade que os brancos tiveram nestas crónicas uma presença frequente. Após décadas em que se achava que só o tinto era coisa decente, os brancos “revoltaram-se” e inverteram a situação, tendo havido imensos consumidores que se converteram e ficaram rendidos à qualidade crescente dos brancos.
Os tintos desta semana merecem conversa. O Cartuxa Reserva tinto é um assunto muito sério; é que, fazer 80 000 garrafas para as colocar no mercado a um preço elevado, não está ao alcance de qualquer produtor. Será seguramente a ambição de muitos, mas trata-se de um processo demorado – o primeiro Reserva nasceu em 1987 – e o preço, como se imagina, foi crescendo na proporção do sucesso. Já há uns bons anos que o vinho está neste patamar elevado de preço mas o acolhimento que tem junto dos consumidores, nomeadamente do Brasil, não diminuiu e, esse, que pode parecer um pequeno detalhe, é factor primordial: consistência de qualidade e satisfação do consumidor, colheita após colheita. Parece evidente, não? Se falarmos de Negócio com N maiúsculo, então é claro que é um assunto para profissionais e isso é cada vez mais evidente.
O tinto Tejo recorda-nos que a casta Castelão é histórica na região, ainda que os melhores tempos de fama já tenham passado, sobretudo com a chegada de outras variedades. Falamos de uma região onde 51% da produção continua a ser de vinho branco, coisa rara entre nós. A Castelão, até pela plasticidade que apresenta, pode ser uma casta multiusos, dos tintos, espumantes e rosés. E, mesmo em tintos, é possível obter estilos muito variados: se o gosto do produtor for para os vinhos concentrados e extraídos, a Castelão diz presente, mas, noutro grupo, se se fizer o vinho para um público mais abrangente, um tinto mais aberto e fácil, ela não vira a cara. O de hoje é do segundo grupo.
O Quinta da Giesta Grande Reserva é agora assumido como o topo de gama do produtor que reorganizou todo o portefólio. Os vinhos têm origem nesta quinta familiar, cujas vinhas têm perto de 40 anos. O designativo Grande Reserva não é muito vulgar no Dão mas este produtor (penso eu) terá adoptado o conceito de nuestros hermanos (Rioja e Ribera del Duero, p.e.) que são muito exigentes com o tempo de estágio em garrafa para a atribuição daquele designativo. Estes designativos de qualidade estão muito mal tratados em Portugal, por inoperância do legislador. E se do lado de lá da fronteira o método usado é mais lógico e mais sério – para tinto Grande Reserva – estágio de 60 meses, 18 dos quais em barrica -, porque não espreitar para lá, se for preciso com uns binóculos, e adoptar algo de semelhante entre nós? É que, atribuir aquele designativo apenas em função da classificação que o vinho obteve na Câmara de Provadores da região, pode dar muito mau resultado, com vinhos Grande Reserva a €4 no supermercado. Mas mudar algo na legislação e passar no crivo do Conselho Geral das CVR’s é tarefa hercúlea. É o que temos, são os produtores e empresas (representados no Conselho Geral) que nos saíram na rifa…
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Cartuxa Reserva tinto 2018
Região: Alentejo
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida
Castas: Alicante Bouschet e Aragonez
Enologia: Pedro Baptista
PVP: €50
Estágio de 15 meses em barricas novas e 3 anos em garrafa. A marca é um incrível caso de sucesso pela relação preço/quantidades produzidas. Graduação: 15º
Dica: cálido, maduro mas não pesado, um tinto que impressiona, ainda algo misterioso, fechado mas cheio de qualidades. Um grande alentejano a mostrar que a região é um verdadeiro puzzle de vinhos e estilos.
Adega do Cartaxo Tejo Castelão tinto 2023
Região: DOC do Tejo
Produtor: Adega Coop. do Cartaxo
Casta: Castelão
Enologia: Pedro Gil
PVP: €14,50
No âmbito das comemorações dos 70 anos da Adega têm sido lançados vários vinhos e dois deles homenageiam o rio que marca a paisagem; existe assim, além deste, um Tejo Fernão Pires. Pouca extracção para ganhar em leveza. Vinho exclusivo para garrafeiras e restauração. Foram feitas 6045 garrafas. Graduação: 13,5º
Dica: vivo e muito fresco na fruta, elegante e polivalente à mesa. Macio na boca, fácil de gostar, merece uma temperatura de serviço, no máximo, 14º.
Quinta da Giesta Grande Reserva tinto 2016
Região: Dão
Produtor: Soc. Agr. Boas Quintas
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alicante Bouschet (esta ainda pouco usada na região)
Enologia: Nuno Cancela de Abreu
PVP: €110
Após longa fermentação e maceração, o vinho estagia em barricas novas de carvalho da Borgonha, onde ficou um ano e meio. Deste Grande Reserva fizeram-se apenas 3 380 garrafas. Graduação: 13,5º
Dica: o vinho mostra que a idade não pode nem deve ser problema, quando e fala de vinhos. Cor, estrutura, vigor aromático e madeira de luxo, tudo aqui combinado. O resultado é um tinto de enorme gabarito.
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