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Mais clássicos precisam-se

Setúbal dá um passo em frente

Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje que apresento o Beaujolais Nouveau, um tinto curioso e que merece ser conhecido. Pode ser bom parceiro para as castanhas assadas, bebido fresco mas, com cuidado, que é mais alcoólico que a tradicional água-pé.
Entretanto saiu um Regulamento na região de Setúbal que tipifica os vinhos tintos feitos exclusivamente de Castelão, a emblemática variedade que durante décadas foi a casta identitária das zonas de Palmela e Arrábida. É verdade que nos últimos 30 anos a região foi verdadeiramente invadida por castas de outras regiões (do país e de fora) e, como me disse há uns anos Filipa Tomaz da Costa (enóloga da Bacalhôa), “durante anos trabalhei com seis castas, agora trabalho com dezasseis”.

Com esta invasão a Castelão perdeu protagonismo, ainda que continue a ter forte implantação na região, uma vez que estão aqui 40% dos 9159 ha de Castelão existentes no país. O Conselho Geral da CVR de Setúbal decidiu criar a designação Castelão Extreme (com x, um aportuguesamento do termo inglês extreme) para vinhos oriundos de vinhas com mínimo de 40 anos e que sejam feitos exclusivamente com a casta Castelão. Segundo informa a CVR, ainda haverá na região 600 ha de vinhas que cumprem os requisitos. O vinho que daqui sairá terá de ter 36 meses de estágio, dos quais 12 em garrafa. Teremos assim, dentro de 3 anos, um verdadeiro Castelão clássico, agora chamado de Extreme. Não bastará indicar Castelão no rótulo (para isso basta ter 85% da casta), há que cumprir vários procedimentos. Na Bairrada também existe a designação Bairrada Clássico. Ainda que, para o consumidor, a casta emblemática seja a Baga, a verdade é que ao criar a legislação se ponderou a dificuldade em ter, regularmente, grandes vinhos de Baga. Por isso, para ser Clássico, apenas se requer que o lote inclua 50% de Baga, podendo o lote ser completado com Alfrocheiro, Camarate, Castelão, Jaen e Touriga Nacional, com 30 meses de estágio.

Teoricamente não parece ser uma ideia vencedora; de facto, um vinho que tenha 50% de Baga e 50% de Touriga Nacional, vai buscar o classicismo onde? É verdade que a Touriga existia há muito na região com o nome de Preto Mortágua, mas perante um vinho com o lote citado, não se percebe bem onde anda o classicismo. A verdade é que, salvo a Touriga Nacional, as outras castas têm uma presença muito minoritária na região. A variedade identitária da região é a Baga e por isso deveria ser, também aqui, a variedade, se não única pelo menos em 85% do lote final. Para alguma coisa se criou o grupo Baga Friends. O modelo já leva uns 10 anos de vida e, entretanto, a criação do Espumante Baga Bairrada veio dar novo alento à casta. Estou em crer que esta “diluição” da Baga num lote com outras castas enfraquece o conceito e provavelmente é por isso que não existem muitos tintos da Bairrada que ostentem a designação Clássico.

A legislação pode sempre ser alterada, tarefa que cabe ao Conselho Geral, mas nada está previsto para breve. Também na Bairrada existe a designação Clássico para vinhos brancos feitos a partir de Bical, Arinto, Cercial, Fernão Pires e Rabo de Ovelha. Resultado final: 7 Clássicos tintos e 2 brancos. Não é muito animador, convenhamos. Regressamos (invariavelmente) a Fernando Lopes Graça: Acordai!

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Beaujolais Nouveau 2024
Região: (França) Beaujolais
Produtor: Georges Duboeuf (Distrib: Ivin)
Casta: Gamay
PVP: €14
Lançamento mundial ontem, dia 21. Desde ontem que está disponível em tudo quanto é boteco.
Dica: muito aberto na cor, vivo, fresco, jovial, um tinto que se bebe com imenso prazer.

146 Adega da Família Vinhas Centenárias branco 2022
Região: Reg. Tejo
Produtor: Rui Fortunato
Casta: Fernão Pires de vinhas velhas plantadas em 1931
Enologia: Joana Pinhão
PVP: €20
Fermentado e estagiado em barrica. Vinhas em chão de areia; 730 garrafas produzidas. Projecto familiar a começar agora na zona de Almeirim.
Dica: fruta madura, algo tenso no aroma mas com madeira bem integrada. Bom volume, um branco com carácter. Projecto a seguir no futuro.

Quinta do Pessegueiro Plenitude tinto 2022
Região: Douro
Produtor: Quinta do Pessegueiro
Castas: várias em vinhas velhas
Enologia: João Nicolau de Almeida/Hugo Helena
PVP: €60
Esta é a 4ª edição deste vinho topo de gama da empresa. A quinta fica um pouco acima do Pinhão, na margem sul. Tem enoturismo a funcionar (com marcação), beneficiando de uma localização ímpar.
Dica: muito rico no aroma, grande textura de boca, conservando-se num registo sempre elegante, o que não é fácil. Moderado no álcool, superlativo no perfil que apresenta.

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