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Vindima em balanço

Cestos lavados, vamos a contas

Esta crónica foi escrita no último dia do mês de Outubro. Um dos enólogos com quem falei tinha acabado a vindima no Douro há apenas uma semana, algo que também aconteceu no Alentejo onde a vindima só acabou na mesma altura. Não foi assim para todos já que, neste dia em que escrevo, um produtor da Vidigueira me disse que tinha começado a vindima em 28 de Julho e que a 9 de Setembro estavam os cestos lavados. Confuso? É natural, este ano tivemos situações muito diversas conforme as regiões do país. Desastre mesmo foi nos Açores onde, na ilha do Pico, se colheu uma quantidade ridícula de uvas em consequência de acidentes climáticos, entre chuva, granizo, de tudo um pouco.

Para esquecer. O drama é maior se se pensar que desde 2019 o Pico não tem uma vindima com quantidade que se veja. Também na Madeira a vindima não correu bem, com uma das mais importantes castas – Verdelho – a ter produções mínimas. Más notícias dos ilhéus. Já no continente tivemos, em geral, uma boa produção, com menos quantidade do que que se chegou a pensar mas, sobretudo, com uma qualidade notável. Miguel Pessanha (Sogrape) afirma que na região dos Vinhos Verdes terão tido a melhor colheita de sempre, o que também aconteceu com os brancos do Alentejo e de Bucelas; o Dão teve quebras de produção nos brancos mas a qualidade é muito boa, apesar dos acidentes: desavinho, granizo, doenças e fogos. O pacote completo. Foi preciso ter paciência e saber parar, esperar, retomar, sempre em função da chuva.

Percebe-se assim que uns tenham acabado na 1ª quinzena de Agosto e outros na última de Outubro. Como sempre acontece, continuam a existir fenómenos não explicáveis. Diogo Lopes, enólogo e responsável por vários vinhos em zonas distintas, recorda que na zona de Lisboa a casta Castelão passou, no espaço de uma semana, de 11º para 17º de álcool provável, em consequência da chuva que parece assim ter desbloqueado todo o mecanismo da planta. O enólogo não consegue explicar. O tempo, sempre o tempo e o clima desta vez foram simpáticos para a maioria das regiões, com especial destaque para o Douro. Ali, o verão suave sem grandes picos de calor, a chuva moderada e por períodos curtos de tempo, tudo se conjugou para que se possa considerar “o” ano da Touriga Nacional, variedade que assume cada vez mais protagonismo na região, quer para DOC Douro quer para Vinho do Porto.

Nenhum enólogo se atreve a afirmar categoricamente, nesta altura do “campeonato”, que vai ser um grande ano de Porto Vintage mas, quer o grupo Fladgate quer a família Symington, reconhecem que tudo se conjuga para que 2024 seja ano de vinho de Porto de rara elegância e qualidade. Miguel Pessanha avança a ideia que o potencial é enorme e que a qualidade será mesmo superior à de 2011, o último grande ano de Vintage que todos recordam. O que todos não esquecem é do saber antigo que afirmava: é preciso deixar o vinho do Porto passar dois invernos para então, já com segurança, se poder afirmar se é ou não excepcional. Recordemo-nos que, por lei, só no 2º ano a seguir à vindima, é possível declarar um Porto como vintage. Será coincidência? Não me parece. Resta-nos assim, apreciadores dedicados, ter paciência. Lá para a Primavera de 2026 voltamos a falar.

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Ribeiro Santo Excellence Grande Escolha branco 2021
Região: Dão
Produtor: Magnum – Carlos Lucas Vinhos
Casta: Encruzado
Enologia: Carlos Lucas/Carlos Rodrigues
PVP: €20
As uvas provêm de parcelas diferentes, a maioria em Carregal do Sal. Foram feitas 4992 garrafas. Fermentação em barrica nova, estágio posterior em barrica usada. Este produtor tem um lote de brancos de grande qualidade.
Dica: aromas amendoados e de tosta, com as notas da casta resguardadas. Belíssima acidez e bom equilíbrio no palato. Requer correcta ligação com a comida (com molho de natas ou manteiga) ou mesmo queijos amanteigados.

Palmeirim d’ Inglaterra Vinhas Velhas branco 2023
Região: Trás-os-Montes
Produtor: Faloura
Castas: várias, misturadas em vinha com mais de 80 anos
Enologia: Rui Cunha/Sérgio Alves
PVP: €30
Solos de origem granítica, a parcela está a 350 m altitude. O mosto fermenta em inox e estagia sobre borras finas por 6 meses.
Dica: leve redução no aroma faz aqui realçar as notas minerais, conferindo ao vinho uma atraente austeridade. Fino e elegante na boca, excelente produto das vinhas velhas.

Tapada da Fonte Touriga Nacional tinto 2023
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Pista Wines
Casta: Touriga Nacional
Enologia: Joachim Roque/Ana Paulino
PVP: €18,50
Produzido na zona de Alter do Chão, a vinha está em solos argilo-calcários. O vinho é fermentado e estagiado em inox, sem passagem em madeira.
Dica: perfil ao sabor actual (pouca cor e pouca maceração), vivo no aroma com bons apontamentos florais. O bom e fácil desenho de boca torna-o parceiro ideal para prova imediata. Ambiente fresco. Polivalente à mesa.

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