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Para um Vintage, todas as épocas do ano são boas
Após longo repouso na garrafeira, entendi que estava na hora que beber este Porto vintage. Encontrei nele duas características que me parecem merecedoras de realce. Por um lado, trata-se de uma marca descontinuada pela Quinta do Noval, ganhando por isso aquela aura de “produto que vai acabar”. Foi feito pela última vez em 2015 e o nome corresponde uma zona de Vale Mendiz onde vários produtores têm vinhas e existe mesmo uma quinta e hotel rural como esse nome. Durante pouco mais de uma década, a Quinta do Noval usou aquele nome para uma segunda marca em anos de boa produção. Não voltar a ser produzido, ainda que possa parecer contraditório, faz dele um vinho de preço mais acessível ao consumidor, uma vez que a marca nunca chegou a adquirir aquele prestígio que poderia apontar para a raridade e consequente aumento do preço. Por outro lado, atendendo ao tempo que leva de vida, é seguro que está a entrar na idade adulta, quando os vintages já ultrapassaram os sobressaltos da juventude e entram num plateau onde permanecerão, espera-se, por muitos anos.
Passemos à fase seguinte, ou seja, o que fazer com ele. Em primeiro lugar há que retirar a garrafa da sua posição horizontal com alguma antecedência em relação ao momento de consumo; dois dias sossegada, em pé, será suficiente. Depois, atendendo à idade, terá de ser cuidadosamente decantado, ou para um decanter onde será depois servido, ou para um jarro. Mais útil de que se poderia pensar, o jarro serve de “abrigo temporário” para o vinho decantado. Lava-se então a garrafa e volta-se a colocar o vinho na mesma botelha agora lavada, o que se aconselha, no caso de haver vários vinhos em prova, evitando-se assim a confusão. Antes de todo este trabalho é preciso fazer um pequeno teste mal se tira a rolha, para ver se não tem aromas defeituosos que são o pavor de qualquer enófilo, nomeadamente o cheio a rolha, bafio, trapos sujos, acético, etc. Vamos imaginar então que está tudo bem e vamos colocar o decanter ou a garrafa no frio até à hora de servir. No frio? Mas é claro, o vinho deverá ir para a mesa a cerca de 15º e rapidamente, após ser servido, chegará à temperatura certa (17/18º). Alguns puristas mal informados poderiam afirmar que ainda não estamos na época de servir um Porto vintage, o inverno ainda vem longe e as noites que pedem uma bebida reconfortante ainda não se vislumbram. A nossa tese nesta matéria é que o vintage é como o Natal, é quando gostamos que seja, quando o grupo de amigos o justifica e o menu o pede. O resto são assuntos menores.
Até pelo preço que este vinho tem se conclui que nunca poderá ser devido ao custo exagerado das garrafas que não bebemos um bom Vinho do Porto. Além disso, almoço de grupos, custos a dividir e uma garrafa destas pensada para meia dúzia de convivas não é, de forma alguma, um peso na conta final. Relembremos, apenas para os que estão menos familiarizados com o tema, que o Porto Vintage corresponde a um vinho retinto, de superior qualidade e engarrafado dois anos após a colheita, aprovado como tal pela Câmara de Provadores do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. Além desta família dos vinhos do Porto que evoluem na garrafa, temos depois os tawnies, os vinhos que envelhecem em casco e que, por via disso, adquirem tonalidades acastanhadas. No entanto, quando novos, esses vinhos do Porto tawny eram tão retintos como este. É o tempo que passaram nos cascos (às vezes décadas ou mesmo uma centúria) que opera grandes modificações na tonalidade do vinho. Desses falaremos noutra crónica. Para este vou chegar-lhe um queijo seco ou, melhor, uma tábua de queijos que inclua, idealmente, um Stilton.
Sugestão da semana:
Porto Vintage Silval 2005
Região: Douro
Produtor: Quinta do Noval
Castas: várias
Enologia: à data, António Agrellos
PVP: €50 (preço médio por consulta na Net)
Mesmo neste caso de vintage pensado para o consumo em jovem, o tempo em cave pode prolongar-se por muitas décadas, sempre com qualidade.
Dica: além dos queijos, tartes de frutos vermelhos podem também ser uma boa opção.
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