Já é possível algum balanço da vindima de 24 À hora desta crónica “vir a…
A hora da cerveja e da água
A vindima e as suas regras
A vindima é uma festa. Os produtores, por muito que se queixem ao longo do ano, sabem que esta é a época de convocar amigos, familiares, estagiários que querem aprender, sobrinhada em idade de começar a “puxar pelo cabedal” e ascendentes de todas as idades que gostam de ver como a nova geração está a lidar com o assunto. Para os anciãos, o momento mais esperado é o do jantar, nome moderno para uma refeição que no campo sempre foi conhecida como ceia; jantar era por volta do meio dia quando as gentes do campo regressavam da primeira fase do trabalho onde estavam desde “sol fora” outro termo caído em desuso e que indicava o momento em que, aos primeiros raios de luz, era preciso levantar, deixar o gado tratado antes de ir para a fazenda: galinhas, cabras, porcos, coelhos e outro gado que houvesse agradeciam a simpatia. Algum gado era mesmo levado para o campo para se alimentar e/ou desbastar balseiros (como as cabras) ou para ajudar no transporte, como os burros.
Conforme o que se dava a comer às cabras, assim o queijo fresco que se fazia à noite poderia mudar de aromas e sabores. Uma arte rural. Mas na vindima actual dois elementos são básicos: a cerveja e a água. Há já muitos anos escrevi uma crónica sobre este tema que intitulei “com quantas grades se faz uma vindima?” e alguns puristas ficaram chocados por acharem que a gente do vinho não bebe cerveja! Pois é, bebe e muita, porque com calor é o que apetece. Já no capítulo da água é bom ter a noção que, actualmente, para se fazer vinho é preciso gastar muita água: limpar adegas, lavar cestos do transporte das uvas, deixar tudo limpo ao fim do dia, tudo isso gasta litros e litros de água. Quanta? Ainda não consegui um valor certo, apesar de já ter feito esta pergunta a muita gente mas não estaremos muito longe da verdade se dissermos que a proporção será de 1 para 4, ou seja, para se fazer 1 milhão de litros de vinho será preciso gastar entre 3 a 4 milhões de litros de água.
Recordemo-nos que a higiene em todos os equipamentos da adega é uma das maiores conquistas dos tempos modernos e uma ajuda tremenda para a boa saúde dos vinhos. As fotos antigas do Douro, da Borgonha ou de Bordéus com os vindimadores de cestos de verga às costas é verdadeiramente “arqueologia rural”. Permanecer apostado no uso de equipamentos que podem ser um ninho de bactérias não é ser tradicionalista, é só ignorância!
Já na ceia, a conversa é outra: é altura do convívio, de provar bons vinhos em prova cega (para educar a memória vínica), de comer boas saladas de tomate do campo e os restantes legumes da época, dos pepinos aos pimentos. Comida de tacho, a que agora se chama “de conforto”, nome ajustado para o estado em que fica a alma no final de um dia destes. Até nos esquecemos que, se calhar, nem temos quem nos compre as uvas… Tempos ingratos, estes…
Correcção: na crónica do passado dia 30 de Agosto, a hierarquia dos produtores de moscatel de Setúbal não estava correcta. Assim, aqui fica por ordem de quantidade de vinho moscatel certificado em 2023, a lista dos maiores produtores da região: Coop. Pegões, J. M. Fonseca, Adega Coop. Palmela, Bacalhôa Vinhos, Soc. Vinícola de Palmela, Venâncio da Costa Lima, Ermelinda Freitas, Xavier Santana, Adega Camolas, Quinta do Piloto, Horácio Simões e Filipe Palhoça.
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Vinha do Altar Reserva branco 2023
Região: Douro
Produtor: Wine & Soul
Castas: Viosinho, Gouveio e Arinto
Enologia: Wine & Soul
PVP: €11,90
Vinhas na zona de Sabrosa a 600 m de latitude, viradas a norte. Vinificado em inox, estagiou depois sobre borras finas durante 7 meses.
Dica: branco de boa proporção, com corpo mas com uma bela acidez a dar vida ao conjunto. Não precisa de esperar mais por ele.
Espumante Ravasqueira Grande Reserva Brut Nature 2015
Região: s/ Indicação de Origem (IVV)
Produtor: Ravasqueira Vinhos
Casta: Alfrocheiro
Enologia: equipa dirigida por David Baverstock
PVP: €48
Tem origem numa vinha de 1,7 ha plantada em 2000. Estagiou 4 anos com as borras antes do dégorgement. Deu origem a 3280 garrafas.
Dica: um rosé (sem indicar a cor), bolha fina e muito elegante, perfeito companheiro para aperitivos ou mesmo a solo.
Altas Quintas Reserva tinto 2019
Região: Alentejo
Produtor: Altas Quintas
Castas: Touriga Nacional e Alicante Bouschet
Enologia: João Lourenço
PVP: €32
Vinhas da zona de Portalegre, serra de S. Mamede. O vinho é actualmente feito na Herdade Porto da Bouga.
Dica: concentrado na cor, aroma com muita fruta negra, com taninos firmes, todo ele num estilo sério e austero. A beber e guardar.
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