É possível, sim! Nas redes sociais surgiram recentemente um rol de comentários a propósito de…

Os melhores vinhos e as melhores uvas
Um romance de fim incerto
Algumas regiões vínicas encontraram uma hierarquia que identifica os melhores vinhos ou as melhores parcelas de vinha. Para o melhor e para o pior, a região de Bordéus criou em 1855 uma classificação dos produtores em cinco categorias. À época apenas foram classificados os vinhos do Médoc, Graves e Sauternes. Toda margem direita ficou de fora e Saint-Émilion só há poucas décadas criou a sua própria classificação que, ao contrário da de 1855, é revista de 10 em 10 anos. Outras zonas, como a Borgonha, trataram de classificar as parcelas em Grand Cru, Prémier Cru e Villages, tudo nos finais dos anos 30 do século passado, ou seja, quase a completar um centenário. O que acontece nestas parcelas Grand Cru? As uvas são caríssimas e os vinhos também, ainda que, na mesma parcela, onde há vários proprietários, o preço possa variar em função do produtor. Imagina-se que estas classificações não são isentas de polémica e que, mesmo nos anos 30, muito produtor deve ter gritado por ter ficado de fora e em Saint-Émilion, as últimas revisões da classificação deram origem a guerras em tribunal e tudo. O assunto é difícil e deve doer mas…alguém tem de tomar a decisão. Vem isto a propósito da falta de classificação idêntica no Douro. Dividida em 3 sub-regiões – Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior – a divisão é demasiado vaga e extensa em área para poder ser usada como critério classificativo.
Um tinto do Baixo Corgo é pior do que um do Cima Corgo? É duvidoso. E um branco do Cima Corgo é melhor que outro do Douro Superior? Talvez sim, talvez não, não há regra. E depois, dentro de cada sub-região, há zonas de eleição? Há com certeza, mas à falta de classificação, entra tudo no mesmo saco. Vejamos: todos os produtores falam de Murça como a melhor zona de brancos mas não existe qualquer classificação de parcelas ou delimitação das melhores vinhas. Então, ser assim tão boa traduz-se em quê? No preço das uvas, diz-se. Na colheita de 2023 as melhores uvas em Murça foram pagas a 650€/pipa (750kg) ou seja 0,86€/kg; no resto da região foi, dizem-nos, entre €350 e €400 a pipa. Os valores de Murça, para uma região considerada de excelência, são demasiado baixos para justificar a fama, sobretudo quando em Monção se pagaram, em 2023, as uvas de Alvarinho a €1,30/kg e, do lado de lá do rio Minho, entre €2,40 e €3. Não há nem incentivo à produção nem reconhecimento da qualidade quando não se valoriza quem produz, sobretudo porque há vinhos brancos com origem em Murça que se contam entre os mais caros do Douro. Com a uva a €0,86/kg como é que se justifica que um vinho custe perto de €100 a garrafa? Murça deveria ser região Grand-Cru? Provavelmente. Iria haver sangue a jorrar entre eleitos e preteridos? Seguramente.
Os exemplos não faltam de parcelas do Douro que, pela consistente excelência, mereceriam uma classificação mas para tomar qualquer decisão que seja é preciso coragem e ser capaz de cortar a direito. Mas, diz-se à boca cheia, antes de mais era preciso tirar o Estado do Instituto dos Vinhos do Porto e Douro. Todos os partidos, os do poder hoje e do poder ontem, como diria RAP, falam, falam, falam, falam, mas não os vejo a fazer nada.
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Esporão Reserva branco 2023
Região: Alentejo
Produtor: Esporão
Castas: Antão Vaz, Arinto e Roupeiro
Enologia: Teresa Gaspar
PVP: €18,80
Esta é já uma marca clássica da empresa. O perfil tem vindo a ser aprimorado, cada vez com menor incidência da madeira onde estagiou.
Dica: sempre um grande refúgio em momentos de dúvida, é um branco muito equilibrado, polido e polivalente à mesa. Só vantagens, portanto.
Anselmo Mendes Loureiro Private Escolha branco 2020
Região: Vinho Verde
Produtor: Anselmo Mendes
Casta: Loureiro
Enologia: Anselmo Mendes
PVP: €30
Ganhou o título de Melhor Branco Varietal no Concurso da Viniportugal, o mais importante que se realiza entre nós.
Dica: agora no seu melhor, um branco cheio de personalidade, fresco e muito aromático, com leve e positiva evolução. Copos largos e peixe de luxo, por favor.
Ramalhosa Touriga Nacional tinto 2021
Região: Dão (sub-região de Besteiros)
Produtor: Quinta da Ramalhosa
Casta: Touriga Nacional
Enologia: Patrícia Santos
PVP: €16
Novo produtor, primeiro vinho no mercado em 2017. Após a vinificação, cerca de 40% do vinho estagiou em barricas de 2ª utilização. Graduação muito moderada nos 12% de álcool.
Dica: muito floral e fresco no aroma, estilo descomplicado, elegante e fino na boca. Um grande amigo da mesa, a consumir a 15º de temperatura.
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