Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…

Sim ao arrefecimento global
E não aos erros do passado
Há sempre alguém que dos diz que temos de seguir os exemplos dos nossos antepassados, aprender com os velhinhos, enfim, procurar reproduzir o que antigamente se fazia. No que se refere ao serviço dos vinhos é bom que se faça tábua rasa do conhecimento antigo. Devo confessar que pertenço àquele grupo de consumidores que, em tempos idos (e não há tantas décadas como isso), colocava as garrafas de tinto bem perto da lareira para “chambrear”, conceito que nos chegou via França (com sorte ainda foram os soldados de Junot…) e que foi mal apreendido. Colocar à temperatura da “chambre” era conveniente (sobretudo nos países muito frios) porque os vinhos estavam na cave onde, literalmente, se morria de frio e eram trazidos para a sala com antecedência. Daqui até à lareira foi um pequeno passo. Tal como aconteceu com outros hábitos, o de beber o vinho tinto mais fresco foi uma conquista importante e relativamente recente. Conta-se a história que Fernando Nicolau de Almeida, o pai do Barca Velha, gostava dos tintos, sobretudo com alguma idade, bem acima dos 20º de temperatura, o que não seria tolerável hoje. Em boa verdade os consumidores têm na cabeça a temperatura de 18º para os tintos mas essa é uma temperatura bem abaixo do que se pensa. Foi isso que comprovei quando, num curso de provas, pedi para que cada um escrevesse no papel a que temperatura estava o tinto (que servi propositadamente a 24º) e quase todos disseram que estava a 18º! Com o hábito chegamos à temperatura certa num instante. Para refrescar vinhos temos várias práticas, umas mais aconselháveis que outras. Sugiro vivamente que se provem os vinhos antes de os refrescar. Alguns problemas, nomeadamente cheiro a rolha, são bem mais fáceis de detectar se o vinho não estiver muito frio. Após essa aprovação temos: o frigorífico, a manga de gelo, o balde de gelo e o congelador. No balde com cubos de gelo é obrigatório colocar água; é dessa forma que o branco fica fresco mais depressa e, ainda mais rapidamente, se se colocar umas boas colheradas de sal na água, agitando-a. Não há regras para brancos e tintos mas castas que geram tintos muito abertos de cor e de baixa graduação (Bastardo, Mourisco, Alvarelhão, Marufo, Malvasia Preta, Donzelinho, por exemplo) merecem ser consumidos mais frescos do que os tintos mais encorpados. Mesmo no caso dos brancos não existe uma temperatura única, sendo certo que os Vinhos Verdes do ano e sem estágios (em madeira ou inox) devem ser consumidos mais frescos do que os outros mais gordos, fermentados ou estagiados em barrica, por exemplo. Então falamos de 9 ou 10ª para os mais leves e jovens e 12 a 13º para os brancos mais encorpados. Os tintos, mesmo os mais estruturados, ficam prejudicados por serem consumidos acima dos 20º: a temperatura faz sobressair o lado alcoólico do vinho que, assim, perde elegância e frescura. Ao invés, se bebido demasiado fresco (12 ou 13º), o tinto irá fazer sobressair os taninos, perdendo-se o lado da fruta. A regra só pode mesmo ser: beber vinho à temperatura certa, conceito que, como se imagina, varia conforme a estação do ano. O congelador é para último recurso, apenas. Para quem não quer levar estas ideias muito a peito, fique com a certeza que é nesta época, e talvez no Outono, que os tintos se conseguem beber…à temperatura ambiente!
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Carvalhido branco 2022
Região: Douro
Produtor: Quinta do Carvalhido
Castas: Viosinho e Rabigato
Enologia: Francisco Baptista
PVP: €14,50
Projecto da família Drumond Borges, vinhas em Vila Flor. O portefólio contempla também um rosé e um tinto e uma gama superior – Quinta do Carvalhido. Este é um branco directo e franco, sem segredos mas bem organizado.
Dica: boas notas de fruta e algum floral, a mostrar-se em bom equilíbrio. Saliente-se a frescura da boca que torna o vinho muito apetecível.
Ipiranga por António Braga Primeira Edição Alvarinho branco 2022
Região: Vinho Verde
Produtor: Terra Vinea
Casta: Alvarinho
Enologia: António Braga
PVP: €33
Este é um dos vinhos do novo projecto deste enólogo, ex-Sogrape. As uvas têm origem numa quinta em Monção. O mosto fermentou em barrica usada de 500 litros. Fizeram-se 2335 garrafas.
Dica: excelente equilíbrio entre a fruta do aroma, o corpo e a acidez, resultando um branco que apetece beber já mas que o bom senso aconselha também a que se conservem algumas garrafas em cave. Futuro promissor.
Monte Branco tinto 2019
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Luis Louro
Castas: Alicante Bouschet, Aragonez e Trincadeira
Enologia: Luis Louro/Inês Capão
PVP: €45
As vinhas, em Estremoz, contemplam 28 ha de vinha própria e 18 alugados. No portefólio incluem-se as marcas Alento e Ca e Lu (abreviaturas dos enólogos) e que correspondem a experiências/gostos de cada um.
Dica: austero, ainda fechado e com muitos anos pela frente, com fruta negra e tons balsâmicos. Após decantação revela-se bem cordato e apto para pratos de bom tempero, da caça ao porco preto.
This Post Has 0 Comments