Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
E já passaram 20 anos
As lições do Berlin Tasting
Decorreu há duas semanas em Berlim uma prova de vinhos com carácter de celebração. Os vinhos eram de um produtor chileno, Eduardo Chadwick (na foto), dono de uma empresa familiar que comercializa marcas como Chadwick (o topo de gama), Seña, Dom Maximiano e Kai, entre outros. A parte mais interessante é o porquê da celebração: foi em 2004 que este produtor resolveu mudar a estratégia de promoção dos seus vinhos a nível internacional. Diga-se que o seu nome já era bem conhecido uma vez que tinha iniciado uma colaboração com a família Mondavi, da Califórnia. O “papa” dos vinhos californianos que tinha ajudado a colocar a marca Mondavi e Opus One no altar dos grandes néctares, interessou-se pelo Chile e firmou um acordo com a família Chadwick para fazerem um vinho em conjunto. Dessa colaboração nasceu o tinto Seña, com a primeira edição em 1995. O vinho tem edição anual (em Portugal é representado pela Luxury Drinks e está disponível nas melhores garrafeiras a um PVP que rondará os €135). Poder-se-ia pensar que tal joint venture poderia ser a rampa de lançamento que faltava ao produtor. Erro. Nem com provas em vários países estava a ser possível dar o salto. Foi então que se organizou o Berlin Tasting 2004, para o qual, como mentor, foi convidado Steven Spurrier, figura incontornável do vinho e organizador do célebre Julgamento de Paris (1976) em que se fez uma prova cega de vinhos franceses e californianos e o resultado deixou o mundo do vinho atónito, com os americanos a ganharem dianteira. Em 2004, Eduardo fez algo de parecido: juntou em Berlim a nata dos provadores e colocou os seus topos de gama em prova cega com gigantes como Ch. Margaux, Ch. Latour, Ch. Lafite, Sassicaia, Solaia e Opus One, quase todos da vindima de 2000 e vários com 100 pontos Parker. Ao todo 6 dos seus vinhos contra 6 dos mais famosos do mundo. Aqui também houve um choque quando os dois primeiros lugares foram para os seus tintos chilenos. Este foi o salto que o produtor precisava para mostrar a valia dos seus tintos e o lugar que deveriam ter no panorama internacional. A esta prova, e ente 2004 e 2013, sucederam-se 21 provas por todo o mundo. Depois o resto veio por acréscimo: notas de 100 pontos para vários vinhos de várias colheitas (incluindo pontuações de James Suckling) e os vinhos a mostrarem grande consistência ano após ano. A prova deste ano, em que estive presente, já não era comparativa mas sim um balanço de várias colheitas das quatro marcas atrás referidas. Podia fazer-se uma prova semelhante entre vinhos portugueses e outros de Bordéus? Poder, podia, mas não creio que fosse útil porque estamos em campos muitos diferentes; os vinhos chilenos usam desde sempre as castas bordalesas e por isso a comparação Novo Mundo/Velho Mundo faz sentido; seria possível com vinhos portugueses varietais de castas francesas mas esses não são os nossos topos de gama nem representam o que de melhor e mais original por cá se faz. Haverá com certeza uma solução escondida ainda não tentada mas… que um evento destes nos fazia falta, disso não há dúvida! E, nas provas cegas não se provam preços, apesar de alguns acharem que esse é o caminho certo.
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Boa-Vista Touriga Franca tinto 2020
Região: Douro
Produtor: Sogevinus Fine Wines
Casta: Touriga Franca
Enologia: Ricardo Macedo/Jean-Claude Berrouet
PVP: €28
A casta continua a ser a mais plantada na região e mesmo nas vinhas velhas da quinta é a que surge em maior percentagem, confirmando que é a variedade mais importante do Douro.
Dica: muita estrutura mas grande finura de conjunto, com madeira muito bem integrada. Polido, macio, elegante, tudo de bom, apesar da tenra idade.
Cedro do Noval branco 2022
Região: Douro
Produtor: Quinta do Noval
Castas: seis castas brancas da região
Enologia: Carlos Agrellos
PVP: €17
O mosto é fermentado em inox mas 20% do mosto fermenta em barricas onde permanece por 5 meses.
Dica: muito vegetal verde no aroma, aqui com a barrica a amparar o conjunto e a conferir complexidade. Um branco de sucesso, bom parceiro da mesa.
Casa Relvas Sommelier Edition tinto 2021
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Casa Relvas
Castas: Touriga Francesa, Alicante Bouschet e Touriga Nacional
Enologia: Nuno Franco
PVP: €15
O lote foi feito ente o enólogo e um grupo de sommeliers. Por cada garrafa vendida, a Casa Relvas contribui com 50 cêntimos para ajudar na formação de sommeliers. 20 000 garrafas produzidas.
Dica: muita proporção e equilíbrio ajudam a que o vinho resulte muito gastronómico e passível de consumo imediato.
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