Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…

São caros, eu sei….
A qualidade reconhecida tem destas coisas.
Os três vinhos que sugiro esta semana enquadram-se na família dos produtos caros. Não vou chamar produtos de luxo porque esse termo tem uma forte carga elitista. Neste caso estamos a falar (de novo…) de vinhos do Douro, sendo que um deles é Vinho do Porto. Quem se interessa por grandes vinhos, nomeadamente das grandes e famosas regiões do mundo, sabe que alguns vinhos chegam ao mercado a preços escandalosos. Só um exemplo rápido: na oferta de vinhos en primeur da colheita de 2022, os preços (ainda por definir) regem-se para já pelos de 2020 para que os consumidores tenham uma ideia aproximada. Pois o Château Ausone (Saint-Émilion) custava em 2020, a pequena de fortuna de €780 a garrafa. Ora, se aqui estamos a falar de um tinto super-jovem, que comentário podemos fazer em relação ao vinho da Quinta das Carvalhas que sugiro? À borla, diria eu…! É que um Porto com 50 anos e em cujo lote também entrou vinho de 1920, não só é uma obra de arte como deveria ter preço a condizer mas…é a vida! Pedro Silva Reis, CEO a empresa, é também o master blender que perpetua a arte do lote que sempre foi o grande atributo dos «homens de Gaia», por oposição aos «homens do Douro» mais ligados à produção. Trata-se de uma arte que exige grande nariz, muita memória, muita paciência e conhecimento do stock da casa. Não se chega lá por via académica, apenas pela prática adquirida ao longo de muitos anos.
Chryseia é, de há 20 anos, uma referência dos tintos do Douro. Tem a particularidade (para os distraídos que não notaram) de fazer mais de 30 000 garrafas a um preço que se pode considerar caro. Mas, este «mas« é muito importante, o vinho esgota e vende-se todo por alocação e isso quer dizer que o preço está justo. Não chegamos lá? Há quem chegue, e como tem edição anual, isso quer dizer que, quem compra uma vez, adquire segunda e terceira. É o sonho de qualquer produtor e é a demonstração da qualidade do produto. Sim (voltamos ao assunto de novo…), vender caro uma vez é uma brincadeira, vender caro sempre é para profissionais, não para pseudo-artistas que aterram de pára-quedas. O vinho tem a sua base na quinta de Roriz, uma propriedade magnífica que já passou por inúmeras mãos mas que em boa hora foi adquirida pela Prats & Symington, a empresa que ligou Bruno Prats (ex-Château Cos d’Estournel) à família Symington. Além deste tinto icónico, há mais dois «manos» de preço mais conveniente: o Prazo de Roriz a €10 (excelente relação preço/prazer,) e o Post Scriptum €17), uma segunda marca que já faz 100 000 garrafas, com uma enorme qualidade a justificar cada euro.
Quanta Terra branco tem história para contar: nasceu por acaso e, em resultado desse acaso, percebeu-se que se poderia repetir a experiência. Passou 6 anos em casco o que, como sabemos, tanto pode dar bons como péssimos resultados. Conseguir uma boa evolução sem oxidação é difícil e assegurar que o vinho tenha personalidade vincada pode ser tarefa árdua. Este é um bom exemplar do que de bom e original é possível esperar do Douro. Quem há 20 anos diria que tal era possível? Ninguém! E o que está para vir pode também ser muito prometedor.
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Chryseia tinto 2021
Região: Douro
Produtor: Prats & Symington
Castas: Touriga Francesa e Touriga Nacional
Enologia: equipa de enologia da Prats & Symington
PVP: €77
Este tinto teve a primeira edição em 2000. Resulta de uvas da quinta de Roriz e da Perdiz, acrescidas de outras da quinta da Vila Velha. Estágio em barrica de 400 litros. A produção, que inclui 1000 magnuns, ronda as 36 000 garrafas.
Dica: ano após ano este tinto é uma referência obrigatória do Douro. Cada vez mais distinto e fino mas sempre sem perder a matriz da região e das castas.
Quanta Terra branco 2016
Região: Douro
Produtor: Quanta Terra
Castas: Gouveio e Viosinho
Enologia: Jorge Alves/Celso Pereira
PVP: €70
Iniciou-se na vindima de 2011 e começou por resultar de uma barrica esquecida. Esta já é a 5ª edição, guardado intencionalmente. Feitas 1833 garrafas e 150 magnuns.
Dica: excelente evolução aromática mas sem oxidações, ganhou personalidade e carácter. Um branco de meia-estação que soube conservar a acidez e a elegância.
Porto Quinta das Carvalhas tawny 50 anos
Região: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Castas: misturadas na vinha
Enologia: Pedro Silva Reis/Tiago Silva Reis
PVP: entre €250 e €300
Como todos os tawnies com indicação de idade este resulta de um lote de vinhos de várias idades, com uma média aproximada de 50 anos.
Dica: uma beleza! Muito rico, muito concentrado mas com enorme elegância e uma frescura cativante. Final interminável. Vale cada euro.
This Post Has 0 Comments