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Não foi bem uma revolução

Mas não faltaram as mudanças

Com muita frequência tenho sugerido aqui vinhos brancos. Isso não se deve a um qualquer sectarismo em relação aos tintos, antes reflecte aquilo que tem sido uma mudança de paradigma no que à diversidade e qualidade dos brancos diz respeito. Neste tema específico acho que não devemos ter qualquer nostalgia em relação ao passado, do tipo, os brancos agora estão todos iguais e antigamente é que era bom. Não é verdade, qualquer que seja o prisma de análise. Os vinhos (brancos e tintos) aqui ou em qualquer outro país produtor, dividem-se, pelo menos, em dois grupos: os vinhos-bebida e os vinhos com ambição. No primeiro grupo encontramos o contingente geral, os milhões de garrafas que alimentam os consumidores que se abastecem em grandes superfícies. São vinhos bem feitos, esses sim sempre iguais, não querem ser mais do que uma companhia agradável da refeição. São aqueles que costumo dizer, brincando, que é fácil fazer já a nota de prova da colheita de 2024; o modelo é sempre igual. Já aqui trouxe, como sugestão, alguns deles porque, com uma boa relação qualidade/preço, são por vezes vinhos interessantes. Antes falava-se em vindima. Ponto. Era tudo a eito, brancos e tintos. Hoje há, não uma mas várias vindimas; brancos antes dos tintos, por casta e por tipo de vinho que se quer fazer, por localização da vinha, por análises da maturação das uvas para saber com que acidez e álcool provável contamos. Depois, na adega, não há uma, mas muitas maneiras de fazer o vinho branco: em cimento, em inox, em lagar, com ou sem películas, com ou sem engaço, em barrica nova ou usada, em balseiro, com ou sem controle de temperatura da fermentação, com ou sem leveduras inoculadas, estagiado ou não em madeira, colado e filtrado, sim ou não. E quando chegamos ao engarrafamento também há mais decisões: com rosca, com rolha de aglomerado ou de cortiça natural? em que garrafa? mais leve (com menor pegada de carbono) ou mais pesada que confere um tom mais sério (há quem diga mais «nobre») ao vinho. As dúvidas continuam: todo em garrafas normais ou também em magnuns e meias garrafas? E para acabar, que rótulo usar, com ou sem design de assinatura, em que papel, com que textura, etc. Termina-se o assunto com o embalamento. Em caixa de cartão ou de madeira?
Todas estas mudanças são relativamente recentes, têm apenas algumas décadas. Os vinhos ganharam muito com isso e os consumidores portugueses vieram a descobrir zonas de brancos onde antes se pensava que eram só os tintos que mereciam nota (caso flagrante do Douro e do Alentejo mas também da Bairrada) e as escolhas hoje são imensas. Aqui há 30 anos, pôr um branco no mercado a €20 ou €30 era uma ousadia que roçava a loucura. Hoje temos vinhos brancos a custar mais de €100. Se valem esse preço é discussão académica. Se se venderem é porque valem e só valem se esse preço alto tiver continuidade no tempo. Sim, que isso de fazer um vinho muito caro apenas uma vez é uma brincadeira para iludir parolos. Antigamente havia bons brancos? Claro que sim mas…o acaso tinha uma palavra a dizer. Das uvas faz-se vinho mas, como se vê, ele não se faz por si. É difícil fazer muito bom, difícil vender e mais difícil ainda receber o produto da venda. Andam aí uns sonhadores que não subscrevem isto mas, com certeza, não têm de pagar as contas. Nesses casos é fácil sonhar e mandar uns bitaites.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Ameal Loureiro branco 2022
Região: Vinho Verde
Produtor: Quinta do Ameal
Casta: Loureiro
Enologia: José Luis Moreira da Silva
PVP: €9,50
A quinta é hoje pertença da empresa Esporão que, no Douro, é também proprietária da quinta dos Murças. As uvas são do vale do Lima, a pátria da casta Loureiro.
Dica: fino de aromas, citrino e elegante, perfeito companheiro para peixes delicados e marisco. A beber no ano.

Quinta da Alorna Reserva branco 2021
Região: DOC do Tejo
Produtor: Quinta da Alorna
Castas: Arinto e Chardonnay
Enologia: Martta Simões
PVP: €7,99
Esta combinação de castas, com o Arinto feito em inox e metade do Chardonnay fermentado em barrica, tem-se revelado um caso de sucesso.
Dica: absolutamente consensual, mostra grande equilíbrio entre fruta fresca e notas de tosta da madeira. Muito polivalente à mesa.

Cartuxa Colheita Tardia branco 2018
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida
Castas: Roupeiro, Arinto e Sémillon
Enologia: Pedro Baptista/Duarte Lopes
PVP: €45
As uvas, atacadas de podridão, fermentaram em inox, tendo terminado o processo fermentativo em barrica usada. Resulta doce mas com acidez elevada.
Dica: clássico vinho de sobremesa, pode também ser servido com uma entrada de foie gras. Há que servir muito frio para amenizar a doçura.

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