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As feiras e os benefícios delas

Boa altura para renovação da garrafeira

Qualquer época do ano é boa para a «limpeza» da garrafeira, assim haja espaço e folga no cartão bancário. As feiras de vinhos – normais em finais de Verão – já foram, há umas boas duas décadas, grandes momentos em que muitos produtores aproveitavam para lançar as novas colheitas. Os catálogos eram apetecíveis mas já então se praticavam técnicas de venda que muito irritavam os consumidores: no catálogo anunciava-se um grande vinho, daqueles mais cobiçados, mas não se dizia que o produtor apenas tinha disponibilizado meia dúzia de caixas para todo o país. Conclusão: procurava-se mas nunca se encontrava a tal maravilha que se anunciava a preços convidativos! Esse tempo passou e hoje, por força das promoções enganadoras que as grandes superfícies praticam todo o ano, o tal fascínio das feiras esfumou-se. Isso não significa que não se façam boas compras mas é verdade que uma feira será muito mais proveitosa para quem estiver atento à imprensa que fala destes temas e onde se possa recolher informações sobre os vinhos. Com a proliferação de marcas, o mais provável é que o consumidor se sinta perdido sem saber o que comprar. Nestas situações há alguns elementos que podem dar-nos pistas: o nome do produtor pode ser um dado importante; a marca pode ser nova mas, se temos confiança no produtor, vamos assumir que será uma boa aposta; o nome do enólogo – se indicado – pode também dar-nos uma boa informação, ainda que o desenho e o perfil dos vinhos seja feito pelo produtor e ao enólogo se peça que interprete essa vontade. O preço pode orientar-nos; há uma gama de preços que todos os produtores consideram difícil: vender vinhos entre os €10 e os €20 não é nada fácil e, por norma, convém ganhar algum fôlego nas gamas mais baixas para depois se dar a ideia ao consumidor que o salto para aquele patamar é justificado. A verdade é que temos belíssimos vinhos neste nível, como aquele que hoje sugiro. É neste patamar que se costuma dizer que Portugal não tem de temer um confronto em prova cega com quaisquer vinhos do mundo.
A ideia que os vinhos dos outros são todos caros e que nós é que temos vinhos baratos cai por terra quando se consultam catálogos de feiras de outros países, como a França, onde – na gama até €12 – encontramos zonas como a Alsácia, o Loire, Languedoc, Côtes-du-Rhône ou Sudoeste com dezenas de vinhos nas feiras. Sinais da crise é vermos que regiões consagradas como Sauternes, Bordéus ou Borgonha também têm vinhos a estes preços de saldo. Por cá creio que é exactamente neste patamar que as compras se podem revelar mais compensadoras. Tenho para mim que comprar vinhos de €3 nas feiras para poupar 50 cêntimos é perda de tempo. Há que tirar partido de marcas que conhecemos mas que tínhamos dificuldade em encontrar e, por outro lado, aproveitar para renovar a garrafeira. Para isso convém também fazer uma limpeza: tirar os rosés e colocá-los na primeira linha de prova – entre castanhas e últimos churrascos de ar livre poderemos acabar o stock – tal como os Verdes que não merecem guarda. Uma boa preparação do Outono/Inverno é o que se pede.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Lour-Inho branco 2020
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Cortes de Cima
Castas: Loureiro e Alvarinho
Enologia: Anna Jorgensen
PVP: €30
As vinhas situam-se em Milfontes, com forte influência marítima. As castas foram vinificadas separadamente em madeiras também diferentes. Posteriormente é feito o lote e engarrafado.
Dica: é uma versão diferente e um pouco radical destas castas que, assim, ficam difíceis de identificar. Mas é um branco curioso que merece ser conhecido.

João Portugal Ramos Alvarinho branco 2021
Região: Monção e Melgaço
Produtor: J. Portugal Ramos
Castas: Alvarinho
Enologia: J. Portugal Ramos
PVP: €9,99
As vinhas estão na zona de Monção. Além deste Alvarinho João Ramos tem também um outro branco da casta Loureiro, esta mais característica do vale do Lima.
Dica: pode ser apreciado agora mas dará seguramente melhor prova daqui a um ou dois anos. Muita frescura, belíssima acidez, fruta de muita qualidade.

P+S Post Scriptum tinto 2020
Região: Douro
Produtor: Prats & Symington
Castas: Touriga Nacional (51%), Touriga Francesa, Tinta Barroca e Tinta Roriz.
Enologia: Bruno Prats, Charles Symington, Pedro Correia, Miguel Bessa
PVP: €16
Este tinto funciona como segunda marca da empresa, sempre à sombra do Chryseia. Com ele tem alguns pontos de contacto, no aroma e na bela estrutura que tem em boca. Produzidas 75 000 garrafas.
Dica: um Senhor à mesa, absolutamente consensual, polido e de óptima relação qualidade/preço. Um Douro de quase luxo, uma grande aposta.

 

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