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Vinho sem água é difícil…

E, na dúvida, beba rosé

1. À data em que escrevo já vários produtores do Alentejo iniciaram as vindimas. Isto só por si não é propriamente novidade; relembro quando, há talvez uns 20 anos, fiquei boquiaberto quando soube que no Ribatejo a empresa Fiuza estava a vindimar Sauvignon Blanc ainda em Julho. É claro que tudo isso choca com o nosso imaginário de vindimas que, invariavelmente, caía sempre em Setembro, e muitas vezes se prolongava até Outubro. Actualmente aos enólogos apenas são autorizadas férias em Julho já que, a partir de Agosto, há que estar em sentinela. Já nem aquela desculpa da «pouca maturação fenólica» é aceitável para ficar mais uns dias na praia. Conheço também uma empresa do Alentejo que nos últimos anos acabou a vindima, ainda que por coincidência, sempre no mesmo dia: 18 de Agosto, data em que zonas como Lisboa ou Vinho Verde, poderão nem sequer ter começado os trabalhos. São alterações climáticas, é o clima a fazer das suas. No Douro nada de muito brilhante se vislumbra: pouca produção porque os bagos estão raquíticos e, mesmo nos casos onde a rega era possível, existe o problema…de falta de água. Sem água, sem muita, muita água, não se faz uma vindima. Podemos, sem qualquer exagero, falar da proporção de 1 para 3, ou seja, por cada milhão de litros de vinho produzidos são precisos, pelo menos, 3 milhões de litros de água. Ora, fica a pergunta: onde é que ela está? O drama segue nos próximos dias e, para quem acha que ajuda, é melhor começar a rezar.

2. Entretanto não cessam de chegar ao mercado os novos vinhos. É de destacar a enorme, para não dizer gigantesca, proliferação de vinhos rosés. Com algum risco de estar enganado, quase me atrevo a dizer que serão poucos os produtores que neste momento não incluem o rosé no seu portefólio. Hoje trazemos mais um e nas próximas semanas assim continuaremos. A justificação tem tudo de positivo: o vinhos estão em geral muito bem feitos, moldaram-se ao perfil internacional ditado pela região francesa da Provence, mas ganharam já o seu estatuto e a sua carta de alforria: já não estão à sombra do pai, já não precisam nem de gás nem de açúcar para vingar no mercado e todos ficamos a ganhar. É verdade que a hierarquia de preços nestes vinhos é enorme e nem sempre justificável: por norma são vinhos de feitura fácil, sem estágios prolongados e que podem chegar cedo ao mercado. Tal como noutros tipos de vinho, vende mais caro quem pode, não quem quer. É também verdade que, numa prova cega, alguns vinhos de €4 podem ficar mais bem classificados que outros de €20 mas essa é uma dúvida que também se coloca em relação a muitos outros vinhos. O nome do produtor, o prestígio da marca, a oferta e a procura podem ser razões suficientes para a grande variedade de preços que se encontram no mercado. Há alguns com preço justificadamente mais alto – estágio em madeira, selecção de uvas, raridade da casta, entre outras – mas a maioria resulta de uma simples fermentação em inox e, pelo baixo custo, pode originar um vinho acessível. As escolhas ficam do lado do consumidor

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Tapada de Coelheiros branco 2019
Região: Alentejo
Produtor: Herdade de Coelheiros
Castas: Arinto e Roupeiro
Enologia: Luis Patrão
PVP: €30
A fermentação arranca no inox mas depois termina em foudres austríacos de 2 000 litros. Fica depois em estágio sobre borras durante um ano.
Dica: um vinho ainda jovem e que poderá evoluir bem em cave. Por isso conserve algumas garrafas para provas futuras.

Colinas do Avesso Private Collection Maceration branco 2018
Região: Vinho Verde
Produtor: Quinta da Lixa
Casta: Avesso
Enologia: Carlos Teixeira
PVP: €27
O vinho fermentou em lagar e teve longo estágio sobre borras, apresentando por isso uma cor mais carregada. Faz parte de uma colecção de 3 vinhos «Colinas do Avesso».
Dica: maduro no aroma mas com bom registo de fruta, acidez perfeita e um perfil cheio mas onde não se perde a elegância. Um Verde original.

Mamoré de Borba rosé 2021
Região: Alentejo
Produtor: Sovibor
Casta: Touriga Nacional
Enologia: António Ventura
PVP: €14,90
Primeira abordagem aos rosés por este produtor mais conhecido, entre outros pelos seus vinhos de talha. Deste, que também passou pelos potes de barros, fizeram-se apenas 1034 garrafas.
Dica: fino de aromas, com alguns frutos vermelhos, tudo delicado. Macio, guloso na boca, com boa acidez, pode ser um bom aperitivo ou companheiro à mesa.

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