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Segredos escondidos e que assim vão continuar
Segredos escondidos e que assim vão continuar
Um dos vinhos que selecciono esta semana – Isaac – é do Douro e leva o epíteto de Assemblage porque junta uvas de duas zonas distintas, uma com vinha muito velha (mais de 100 anos) da zona do Baixo Corgo, e outra mais recente, do Cima Corgo. A primeira tem, segundo informa o enólogo, cerca de 23 castas diferentes. O tema pode, ou não, ser assunto, é como se desejar. Ainda é relativamente vulgar encontrar no Douro vinhas velhas com muitas castas misturadas que representam a forma antiga de plantar a vinha. Procurava-se dessa forma equilibrar o vinho com as diferentes características que cada casta imprimia. Como se fazia a vindima «a eito» e tudo era vindimado ao mesma tempo, umas uvas ainda estariam pouco maduras e conferiam mais acidez ao mosto e outras, mais maduras, forneciam mais açúcar e, logo, mais álcool. Na moderna viticultura prefere-se plantar por casta e vindimar cada uma no seu ponto óptimo de maturação, fazendo-se então o lote na adega e não na vinha. O tema é controverso porque há quem dê tudo para ter uma vinha velha com castas misturadas em vez de uma nova, com tourigas, roriz, sousão ou tinta amarela. O vinho da vinha velha, sabe-se, tem normalmente menos cor, menos expressão de fruta mas uma grande complexidade aromática (bem difícil de definir) que advém do facto das raízes serem muito longas e buscarem alimento e algumas notas a que chamamos «minerais» em camadas profundas, tudo ao contrário da vinha mais nova e mais alimentada à superfície. Nestas vinhas velhas encontramos castas com nomes tão singulares como Tinta Pomar, Tinta Nevoeira, Casculho, Tinta Roseira, Tinta Malandra, Mourisco de Semente, Tinta Bairrada e Boal Tinto, a que poderíamos juntar outras como Touriga Brasileira, Tinta Francisca, Malvasia Preta ou Cornifesto. O gozo que dá continuar a usá-las é, dizem, contribuir para a preservação deste património fabuloso que temos e que faz de Portugal o país com mais castas autóctones. São cerca de 250 variedades, por vezes com nomes românticos como Amor Não Me Deixes, ou enigmáticos como Estreito Macio. O interesse de muitas delas é simplesmente ampelográfico, algumas com pouca valia enológica, ou porque têm pouca cor, ou porque o bago é muito grande e o sumo é muito diluído, entre muitas outras razões. Têm então um quê de misterioso e nunca se sabe bem o vinho que vão originar. Muitas beneficiariam de estudo laboratorial para serem melhoradas (como aconteceu com a Touriga Nacional a partir dos anos 80), mas muitos produtores preferem usá-las assim: rústicas, pouco produtivas e sem grandes qualidades para serem vinificadas e comercializadas como vinhos varietais. Ainda assim, algumas empresas, como a Real Companhia Velha, têm colocado no mercado vinhos feitos com estas castas antigas e os resultados são de enorme valia porque permitem aos consumidores o contacto com outras realidades que vão além das omnipresentes Touriga Nacional e Touriga Francesa que actualmente marcam a grande maioria dos vinhos de topo, nomeadamente do Douro, mas também noutras regiões, como o Alentejo. Hoje vivemos num mundo onde tudo quanto é original e diferente tem grande aceitação e, nesse capítulo, Portugal tem imenso para oferecer. E sem ser preciso fazer caretas ou fazer vinhos intencionalmente defeituosos.
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Herdade do Peso Talha branco 2020
Região: Alentejo (Vidigueira)
Produtor: Sogrape Vinhos
Casta: Antão Vaz
Enologia: Luis Cabral de Almeida
PVP: €24
O mosto fermentou em talhas, em contacto com as películas. Após o fim da fermentação ficou mais 3 meses me estágio na talha. Produção de 2000 garrafas.
Dica: alaranjado na cor, aroma resinoso, austero mas muito limpo, complexo e rico. Maduro na boca, parece um tinto, um vinho carregado de tradição e saber.
Isaac Assemblage tinto 2015
Região: Douro
Produtor: Quinta do Isaac
Castas: castas misturadas (23)
Enologia: Pedro Sequeira
PVP: €150
O vinho resulta de um lote de vinhos do Baixo e Cima Corgo. Parte fermentou em barrica usada e outra parte em lagar com pisa. Foram engarrafadas 1600 unidades.
Dica: bom balanço entre concentração e elegância, muito puro na fruta mas moderado na exuberância. Polido, requintado, para momentos especiais.
Kopke São Luiz Reserva tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Sogevinus
Castas: Touriga Nacional e Tinta Roriz
Enologia: Ricardo Macedo
PVP: €16
Esta quinta emblemática fica na margem sul do rio, entre a Régua e o Pinhão. Durante muitos anos apenas produziu Vinho do Porto. Alargou, entretanto, a produção a DOC Douro.
Dica: boa concentração de cor, aromas de fruta negra madura. Boa frescura de boa e madeira bem integrada. Tudo em muito boa proporção.
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