skip to Main Content

O novo Barca Velha, agora de 2015

Um tinto de luxo…a começar no preço!

A saída para o mercado de uma nova edição do tinto Barca Velha (BV) é sempre um acontecimento e, também, notícia de relevo. As razões são muitas e algumas delas algo inesperadas. Vejamos: é uma marca antiga, uma vez que a primeira edição foi em 1952; é verdade mas, à data da saída do tinto fundador, algumas marcas (que ainda hoje existem) já estavam no mercado, como, por exemplo, os tintos Periquita, Quinta da Aguieira, Caves S. João ou Evel. Não era o único tinto do Douro e por isso não é por aí. A razão principal, creio, ficou a dever-se a dois tipos de factores: os cuidados com que foi feito desde o início, sempre na busca da perfeição, e a raridade com foi saindo. Foi-se assim cimentando a ideia de que se tratava de um produto raro e, como tal, cobiçado. Tem uma outra característica que não é de somenos: é um dos tintos mais caros que se produzem em Portugal e, dentro dos vinhos de luxo, aquele que se faz, de longe, em maior quantidade. Este “pequeno” pormenor deveria servir de exemplo àquele grupo de produtores/enólogos/consultores que se entretêm a colocar vinhos caríssimos no mercado, achando que estão a descobrir a pólvora e que o povão, ignaro por natureza, se disporá a ir a correr comprar.

Falando da raridade, este vinho, teve nos tempos mais recentes, edições em 1999, 2000, 04, 08, 11 e agora 15, algo como 6 edições em 25 anos. Há duas modalidades para vender estes vinhos mais caros: a fórmula bordalesa – o vinho sai todos os anos e nos anos menos bons é mais barato – ou esta fórmula portuguesa que faz com que o vinho só seja colocado no mercado nos anos considerados excepcionais. No caso dos topos de gama de Bordéus o preço pode duplicar nos melhores anos. No nosso caso, ao ser mais raro, é sempre caro e o preço tem estado numa curva ascendente alucinante desde as colheitas dos anos 90. Torna-se assim um produto inacessível, ficando nas mãos sobretudo dos consumidores brasileiros e angolanos. Provavelmente não seria esta a ideia da Sogrape mas…é a vida!

Esta edição é relativamente pequena – 16 567 garrafas – tendo já havido edições próximas das 30 000. A decisão de ser ou não BV decorre das inúmeras provas a que o vinho está sujeito depois de engarrafado. Como a garrafa deste e do Reserva Especial são diferentes de quaisquer outras na empresa, quando se engarrafa neste formato é previsível que vinho venha a ser BV ou Reserva Especial. No dia da apresentação pública – passado dia 22, no Paço ducal de Vila Viçosa – o enólogo Luis Sottomayor, director de enologia da Sogrape, confirmou que, na véspera, tinham acabado de engarrafar, nestas garrafas especiais, o 2022. Disse também que 2016 não será nem uma coisa nem outra, e que têm 3 colheitas em cave – 2017, 18 e 19 – que continuam sujeitas às tais provas periódicas. Decisão? Lá mais para frente. O vinho mostrou-se em excelente forma, com um raro equilíbrio entre aroma (complexo e balsâmico), muito corpo, acidez no ponto e muito rico de estrutura e final. Este (e nem sempre assim foi), tem taninos finos ainda presentes que lhe asseguram a vida em cave em boa forma até, digamos, daqui a 15 anos. A distribuição é por alocação e a Sogrape apenas venderá poucas garrafas na sua loja.

O PVP não foi comunicado porque a empresa aprendeu com as anteriores edições que havia sempre um “buraco” demasiado grande entre a informação oficial e o preço a que, verdadeiramente, o vinho aparecia no mercado. Não andaremos longe da verdade se falarmos em €900 a garrafa. Bem mais caro, convenhamos, que a maioria dos grandes vinhos de Bordéus. Há que ter noção que esta valorização é claramente consequência da “pressão” angolano-brasileira. Quem quer brilhar afirmando que prova grandes vinhos do mundo, compra e paga caro pelos nomes que já têm, em alguns casos, centenas de anos de história. Em prova cega o Barca Velha brilharia? Sem qualquer dúvida mas, no dia a seguir a essa prova, o tal ricaço inglês ou chinês vai comprar Lafite e Latour. Mais uma vez há que dizê-lo com frontalidade: é a vida!
Origem das uvas: Douro Superior. Castas Touriga Nacional (40%); Tinta Roriz (2%); Touriga Franca (43%); Tinto Cão (5%); Sousão (10%).

This Post Has 0 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Back To Top
Search