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Notícias dos sobreviventes

Estas marcas vêm de longe

Em ambiente de festa e alegria pelas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, resolvi pegar aqui em marcas que acompanharam pelo menos duas gerações de enófilos e que nasceram em épocas onde o que mais se consumia era vinha a granel e em garrafão. Assim sendo, um vinho engarrafado era logo um sinal de que havia festa no horizonte. Lembro-me que em minha casa se comprava para dias especiais o Teobar (marca feita a partir do nome do proprietário das Caves Dom Teodósio – Teodósio Barbosa – e, a pedido especial da mamã, comprava-se o Grandjó, um branco doce que fazia as delícias da matriarca. Nos anos 60 surgiram algumas marcas emblemáticas, como foi o caso do Vinha Grande, nascido em 1960 e que, dizia-se, era o Barca Velha dos pobres, um tinto que estagiava nas barricas que tinham servido ao célebre vinho. Nasceu com essa fama e a verdade é que durante décadas fazia figura do nº 3 da Sogrape, a seguir ao ícone e ao Reserva Especial. A gama da empresa alargou-se imenso mas a fama do Vinha Grande não esmoreceu e dele ainda hoje se produzem cerca de 240 000 garrafas, entre “normais” e magnum. É, pelo preço acessível que tem, um excelente exemplar do Douro, rico, cheio, maduro mas polido e onde os 14,5% de álcool quase que passam despercebidos. Quer fazer um brilharete com poucos gastos? Não procure mais.
O Bucellas Caves Velhas é um vinho heróico; não só mantém a grafia antiga da região como foi resilientemente um branco que conseguiu evitar a morte da região, quando a pressão urbana começou a fazer-se sentir. Ainda nos anos 80 não havia mais por onde escolher, o nome do vinho e da região estavam intimamente ligados. Criada por Camillo Alves – a grande figura de Bucelas – a marca foi durante muito tempo supervisionada por Manuel Vieira, enólogo que esteve ligado a muitos dos grandes vinhos que se fizeram no sul do país a partir dos anos 50 e 60. Quando conheci a empresa, nos inícios de 90, sentia-se por ali uma enorme resistência à modernidade que estava a chegar: nada de inox, ali era tudo em balseiro e o vinho vendido com vários anos de estágio. Chegou o inox e chegou a concorrência e, felizmente, nada ficou como dantes. Hoje a região continua orgulhosamente a assumir-se como a pátria da casta Arinto; foi ali que ela nasceu e dali partiu em todas as direcções, tendo-se tornado hoje a mais importante casta branca portuguesa. Não é pouco. E hoje o Bucellas Caves Velhas continua à disposição de todos, é marca de acesso fácil em grande superfície.
O vinho Tapada do Chaves tornou-se a partir dos anos 60 uma referência absoluta do Alentejo. A vinha mais antiga da quinta de Portalegre foi plantada em 1901 e era dali que saíam os tintos que deram fama à casa. A marca, também famosa em brancos, permaneceu no altar dos grandes vinhos da planície, hoje secundada por uma plêiade de novos nomes. A empresa, entretanto, foi mudando de mãos, quer do ponto de vista enológico (João Portugal Ramos assinou alguns dos grandes tintos da segunda metade dos anos 80) mas também os proprietários se sucederam, tendo sido adquirida na década passada pela Fundação Eugénio de Almeida. A fama mantém-se, não com o brilho de outrora, mas a marca foi uma espécie de farol que apontou, a quem quis ver, a originalidade dos vinhos da serra de São Mamede. Estes não eram os sobreviventes que o Sérgio Godinho falava no seu disco mas merecem não ser esquecidos.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Vinha Grande tinto 2020
Região: Douro
Produtor: Sogrape Vinhos
Castas: Touriga Francesa, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Barroca
Enologia: equipa dirigida por Luís Sottomayor
PVP: €11
A marca, desde que nasceu teve edições quase todos os anos. O prestígio que adquiriu reflecte-se ainda hoje nos preços qua atinge em leilão. As uvas provêm de várias propriedades. A compra em magnum é altamente aconselhável.
Dica: um tinto de grande polivalência à mesa, cheio e com grande textura.

Bucelas Caves Velhas Arinto branco 2022
Região: Bucelas
Produtor: Enoport
Castas: Arinto
Enologia: Nuno Faria
PVP: €5,99
Fizeram-se 87 000 garrafas. A colheita de 2023 está agora a começar a entrar no mercado mas esta ainda está disponível.
Dica: fruta citrina, elegante no corpo, um branco absolutamente consensual.

Tapada do Chaves tinto 2017
Região: Alentejo – Portalegre
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida
Castas: Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet
Enologia: Pedro Baptista
PVP: €30
Ano seco, pouca produção, mostos concentrados, elevado teor alcoólico. Um alentejano e tanto.
Dica: um tinto que pede pratos fortes da culinária regional, sobretudo se envolverem porco preto e enchidos.

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