skip to Main Content

Modernices, infidelidades e mais o resto

De Melgaço a Lagoa

Os vinhos desta semana têm, por uma razão ou outra, coisas para contar. Os motivos são as castas, a enologia empregue, a idade das vinhas, a localização inesperada das parcelas, o teor alcoólico (por ser alto ou baixo) ou a história do produtor; podem ser muitos os motivos para falar dos vinhos seleccionados na semana. Neste caso, e começando como faço muitas vezes sem pensar, de norte para sul, temos a nova edição do Soalheiro Clássico, a marca emblemática deste produtor de Melgaço. Quando o conheci o projecto era, na verdade, um vinho de garagem, ainda que na altura (finais de 80) o conceito ainda não estivesse na moda. Era mesmo ali que se amontoavam umas quantas cubas e foi a primeira marca de Melgaço no mercado que, creio, em Lisboa apenas se encontrava no restaurante Gambrinus(!). O projecto cresceu – alargou-se à produção de chás e de produtos de fumeiro de porco bísaro – e António Luis e Maria João, filhos do fundador, desenvolveram uma relação com muitos lavradores da região e aumentaram tremendamente a produção que hoje rondará um milhão de garrafas. São actualmente 160 famílias que fornecem uvas à marca e são esses que estão (magnificamente, diga-se…) retratados no livro Manta de Retalhos – Rostos do Alvarinho (bilingue e com 1000 exemplares de tiragem), agora editado e, para já, disponível para consulta online em www.mantaderetalhos.pt
O tinto da Fundação Eugénio de Almeida é um varietal de Cabernet Sauvignon, casta que já fez figura de estrela, já foi cabeça de cartaz e chegou a assustar os produtores nacionais que temiam a invasão desta e outras castas bordalesas. Não aconteceu porque, em boa hora, redescobrimos as nossas variedades e a capacidade que elas tinham de fazer “turismo interno”, viajando por todo o país. O coitado do Cabernet que é, em minha opinião, uma das grandes castas do mundo, viu-se assim traído e abandonado. Países que não têm a mesma riqueza de castas (Chile, Estados Unidos e Austrália, por exemplo), fizeram dela um ícone, a solo ou em duo. Ela não merecerá o nosso “abandono” mas acho que o resultado final foi bom porque os consumidores portugueses abraçaram as variedades nacionais. Hoje serão cerca de 30 os tintos cá produzidos que fazem jus à fama da casta e também por isso são notícia. A marca que seleccionei – Scala Coeli – ganhou notoriedade e o PVP subiu imenso. O 2012 custava em 2018 em torno de €34 mas, por exemplo, o 2015 mais do que duplicou este valor. São as leis do mercado a funcionar.
Morgado o Quintão é um projecto da família Caldas de Vasconcelos, no Algarve onde pontificam 15 ha de vinhas muito velhas de algumas castas antigas (como a Negra Mole) que a família resiste a arrancar, tal como resistiu a uma oferta de uma empresa que queria transformar toda a propriedade (mais de 60 ha) numa plantação de abacate. A aposta no enoturismo (mais de 10 000 visitas/ano) tem possibilitado a continuação do projecto. Aqui sentimos o velho Algarve, a paisagem, o casario e as pessoas que, por vezes, tínhamos como perdidas perante a invasão dos golfistas e afins. A visitar, sem hesitar. Boas notícias? Não…excelentes!

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Soalheiro branco 2023
Região: Vinho Verde – Monção e Melgaço
Produtor: Vinusoalleirus
Casta: Alvarinho
Enologia: equipa dirigida por António Luis Cerdeira
PVP: €12
A marca nasceu em 1982. O mosto fermentou em inox e aí estagiou sobre borras finas até ao engarrafamento. O portefólio já contempla agora uma ampla variedade de vinhos. Deste fizeram-se 300 000 garrafas.
Dica: muito fresco no aroma, fruta branca e leve nota mineral. Excelente acidez, muito bem integrada, todo o conjunto está em grande forma para o Verão.

Morgado do Quintão Vinhas Velhas branco 2022
Região: Reg. Algarve
Produtor: Morgado do Quintão
Casta: Crato Branco
Enologia: Joana Maçanita
PVP: €39,10
Este é o nome local da casta Roupeiro. Foram feitas 2150 garrafas e o vinho apesenta uma moderada graduação de 11,5% de álcool. Estagiou em barricas usadas.
Dica: moderado na fruta, com alguma presença de aromas levemente evoluídos que lhe dão um tom reservado mas com muito carácter. A acidez é muito boa e o vinho resulta perfeito para peixe e marisco pouco cozinhado.

Scala Coeli Reserva tinto 2019
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida
Casta: Cabernet Sauvignon
Enologia: Pedro Baptista
PVP: €120
Esta colecção de vinhos nasceu em 2011. São aqui usadas castas não tradicionais do Alentejo, variando em todas as edições. O vinho estagiou 15 meses em barrica nova e 2 anos em garrafa. Graduação de 14,5% álcool.
Dica: muito boa expressão da casta, com mirtilos, pimento verde, notas de grafite e madeira. Excelente expressão no palato com taninos ainda bem presentes, volumoso mas com elegância, todo ele a sugerir que pode evoluir bem em cave.

This Post Has 0 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Back To Top
Search