E, se recuarmos muito, só paramos na Bíblia Acontece com frequência. Temos tendência a pensar…
Quando o formato interessa
E alegra uma mesa cheia
Tornou-se habitual ver garrafas de grandes formatos nas lojas de vinhos e também, sobretudo no Natal, nas grandes superfícies. O que mais se encontra é o formato magnum que corresponde a 1,5 litros, ou seja, duas garrafas. Depois surgem as double magnum (3 litros) e por aí fora até aos 18 litros, estas últimas muito raras mas que existem, existem. Se em tempos idos o engarrafamento em magnum estava destinado aos vinhos de topo, actualmente todas as gamas são também engarrafadas neste formato, até mesmo vinhos que em garrafa normal custam 4 ou 5 euros. Infelizmente na restauração é muito raro encontrar um serviço de vinho a copo feito a partir de garrafas magnum ou, ainda melhor, double magnum. A verdade é que faria todo o sentido, sobretudo nos vinhos muito, muito caros ou raros, que não estão acessíveis ao comum dos mortais. E digo infelizmente porque para o consumidor são várias as vantagens neste tipo de serviço: pode provar um vinho raro ou muito caro e satisfazer assim a curiosidade sem ter de desembolsar muito dinheiro e ainda, o que não é despiciendo, ter a certeza que vai beber um vinho cheio de saúde, o que não é 100% seguro se comprar uma garrafa e levar para casa (problemas podem ser vários, da rolha até mau acondicionamento, por exemplo); no restaurante o ónus da perfeição do vinho servido está do lado do restaurador. E pode custar €80 ou €100 um copo? Pode, mas é bem diferente de pagar 800 por uma garrafa. O restaurante JNcQUOI Avenida, em Lisboa, há 5 anos que leva a efeito o Big Bottle Day, sempre a uma 6ª feira e, segundo fomos informados, foram já 300 as garrafas servidas (dos 6 aos 18 litros). A mais recente decorreu dia 2 e os vinhos servidos (todos em garrafa de 6 litros) incluíam 4 Bordéus e um Côtes-du-Rhône. Deve ter sido uma bela experiência mas há sempre o risco de um vinho excelente ser destronado pelo do lado. Diz-se (e eu assino…) que estes vinhos famosos devem ser bebidos isoladamente, exactamente para que cada um possa ser apreciado por si. Fui uma vez convidado para este Big Bottle Day e aconteceu isso mesmo: bebi um Almaviva (chileno) e um Opus One (Califórnia), ambos em double magnum e o Opus One 2014 esmagou completamente o chileno sendo que, se tivesse sido provado a solo, o Almaviva iria dar muito boa conta de si. Quanto mais estrelas se juntam num mesmo evento mais provável é que assim aconteça e por isso há quem fique muito incomodado quando num almoço se entra no delírio de abrir garrafas como se não houvesse amanhã. Esta prática do JNcQUOI bem que podia ser replicada noutros restaurantes. Neste momento virão sempre alguns lamúrios que é um grande risco, que se não se consumir é um grande prejuízo, e por aí fora. Neste, como noutros domínios, o sucesso só chega a quem ousa e, como diria António Silva (actor), “quem não tem condições, não se estabelece”. Com boa divulgação e vinhos atraentes que possam chamar os enófilos, é mais que certo que o projecto só pode mesmo ser um sucesso. Recorrendo à ideia sugerida pelo velho jargão trotskista, aqui não se trata de “ousar lutar, ousar vencer”, mas sim, ousar servir e ousar beber! Nem mais…
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Menin Grande Reserva branco 2021
Região: Douro
Produtor: Menin Douro Estates
Casta: Arinto
Enologia: Tiago Alves de Sousa/João Rosa Alves
PVP: €50
Todo o mosto fermentou em barrica e aí permaneceu por 9 meses, com removimento periódico das borras.
Dica: aromaticamente é muito original e, por isso, desconcertante, com notas de hortelã, ervas aromáticas e lichias. Perfeita integração da madeira no conjunto. Fino e elegante, a merecer prova atenta (mas de mente aberta).
Freixo Terroir tinto 2020
Região: Reg. Alentejano (Redondo)
Produtor: Herdade do Freixo
Castas: Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon
Enologia: Diogo Lopes/Dina Cartaxo
PVP: €12,60
Vinhedos na Serra d’Ossa. Depois da vinificação em inox, cerca de 70% do vinho estagia 9 meses em barrica. Este produtor tem um amplo portefólio, com gama muito variada de preços. Deste fizeram-se 50 000 garrafas.
Dica: muito acessível no estilo, polimento geral evidente, todo ele pensado para consumo imediato. Seguramente muito gastronómico.
Antónia Adelaide Ferreira tinto 2019
Região: Alentejo
Produtor: Sogrape Vinhos
Castas: Touriga Nacional, Touriga Francesa e V Velhas
Enologia: Luis Sottomayor
PVP: €90
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