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Originalidades regionais

Sempre à procura da novidade

Os vinhos que sugiro esta semana têm algumas características que merecem ser explicadas. Um deles, o branco, vem de Trás-os-Montes, uma zona que durante muito tempo esteve esquecida. Há sempre um teste fácil de fazer: perguntar a alguém apreciador de vinhos para dizer que marcas de Trás-os-Montes conhece de nome e quais conhece por ter provado. Com sorte poderemos ouvir nomes como Coop. Valpaços, Valle Pradinhos e…, a partir daqui a coisa torna-se difícil. Poderá haver razões históricas – a proximidade do Douro é factor inibidor – e algumas de carácter mas técnico, como seja o facto das castas serem praticamente as mesmas do Douro. A situação é muito injusta porque o estar perto do Douro não quer dizer que seja a mesma coisa e a existência de manchas de vinhas velhas é um dado que pode puxar pela região, assim se consiga tirar partido desse factor. Hoje já há um bom punhado de produtores e os vinhos estão cada vez melhores. No entanto, a visibilidade e o reconhecimento dessa qualidade pelos consumidores ainda tarda. A marca Costa Boal é uma das que está a dar mais visibilidade à região.
A quinta de Foz de Arouce está a sul da Bairrada e fora da região demarcada. No entanto a quinta sempre teve uma vinha velha (actualmente com 81 anos) da casta Baga, implantada em solo de xisto (diferente da Bairrada) e isso gerou vinhos com pontos de contacto e de divergência. São tintos que têm a longevidade bairradina (continuo a beber vinhos com 30 anos com enorme robustez e vigor…) mas, quando novos, são mais acessíveis. A quinta também tem vinhas de Touriga Nacional (que entra no tinto normal) e produz um branco de enorme qualidade feito com Cercial. A enologia sempre esteve a cargo da equipa de João Portugal Ramos, genro do proprietário. O Conde de Foz de Arouce foi toda a vida um grande apreciador de vinhos e bons petiscos. Visitei a quinta ainda em vida dele e, apesar da idade e pouca mobilidade, era evidente que o lado conversador não o abandonara. Uma vertical de todos os vinhos tintos foi reveladora da grande qualidade que aquele terroir gera. Este topo de gama é vinho para bons pratos de caça de pelo ou mesmo chanfana.
A quinta do Noval foi buscar a fama ao Vinho do Porto. A sua localização é simplesmente espectacular, os muros que se vêem da estrada Pinhão-Favaios são monumentais e de rara beleza. O factor extra da fama chegou com o vintage Noval Nacional, feito com uvas de cepas plantadas em pé-franco, ou seja, sem recurso a porta-enxertos. As cepas são mais débeis, morrem mais cedo mas originam um vinho muito especial e que é muito procurado por enófilos e coleccionadores (a edição de 2020 poderá rondar os €1700 no mercado); depois de ter estado na posse na família Van Zeller, o Noval foi vendido à AXA Millésimes em 1993 e só posteriormente começou a fazer vinhos DOC Douro. Os primeiros eram tintos poderosos, fechados e taninosos, daqueles que sabemos precisarem de 20 anos de cave. No entanto o perfil foi-se «democratizando» e actualmente, ainda que o vigor se mantenha, está um tinto de mais fácil prova, podendo ser apreciado desde já. E com a loucura de preços que se instalou na região é um vinho de boa relação preço/prazer.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Quinta do Noval Reserva tinto 2020
Região: Douro
Produtor: Quinta do Noval
Castas: Touriga Nacional (60%) e field blend de vinhas da quinta
Enologia: Carlos Agrellos
PVP: €50 (variável conforme o local de compra)
Este é, continuadamente, um dos grandes tintos do Douro, produzido na quinta que se situa no Cima Corgo. Existe outra marca – Cedro do Noval – mais acessível no preço e editada em branco e tinto.
Dica: o perfil continua tenso e robusto, ainda que bem mais fino e elegante que as primeiras edições. Um tinto duriense, com garra e muita classe.

Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria tinto 2019
Região: Reg. Beira Atlântico
Produtor: Conde Foz de Arouce
Casta: Baga
Enologia: João Perry Vidal/João Portugal Ramos
PVP: €75
A propriedade, na Lousã, está na família desde o séc. XVIII. Produziram-se 3526 garrafas.
Dica: este é um grande tinto, quaisquer quer sejam os critérios de avaliação. O registo é vigoroso mas as arestas estão muito bem polidas. Aposta segura.

Palácio dos Távoras Gold Edition branco 2019
Região: Trás-os-Montes
Produtor: Costa Boal Family Estates
Castas: Viosinho, Códega do Larinho e Fernão Pires
Enologia: Paulo Nunes
PVP: €90
Produção limitada a 666 garrafas. As uvas vêm de vinhas velhas, sendo que as castas estão também presentes no Douro.
Dica: volumoso, sente-se o peso e aromas da madeira nova, é um branco invernoso, com boa textura e que não deve ser bebido demasiado fresco.

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