Já é possível algum balanço da vindima de 24 À hora desta crónica “vir a…
Madeira Blandy’s para glorificar o vinho
Um néctar que teimamos em ignorar
Se existe vinho que merece o epíteto de património da humanidade é, sem dúvida alguma, o Vinho da Madeira, original e virtualmente eterno. É feito com as castas clássicas – Boal, Malvasia, Sercial, Verdelho e Terrantez e, em quantidades ínfimas, Bastado, Moscatel e Listrão no Porto Santo. A casta maioritária é a Tinta Negra, apta não só para Madeira generoso como também para tinto, rosé e branco tranquilos. A melhor produção e consistência colocaram a Tinta Negra em primeiro plano nas opções dos produtores ainda que muitos, onde declaradamente me incluo, não lhe notem as mesmas virtudes que as castas clássicas para produzir grandes generosos. Dada a escassez de uvas disponíveis, algumas das castas nobres são reservadas apenas para estes vinhos mais sofisticados e não para os de entrada de gama. É nestes, os chamados vinhos Frasqueira, que a qualidade atinge o zénite; estão obrigados por lei a 20 anos de casco e dois de garrafa antes de serem comercializados mas, muitas vezes, são bem mais velhos. Também podem surgir vinhos datados mas com a indicação Colheita que a lei apenas obriga a 5 anos de casco. Com alguma frequência aparecem em leilão vinhos Madeira muito antigos mas há sempre um risco nessas compras, sobretudo se não ostentarem selo de garantia, o que acontece amiúde. Por vezes trata-se de vinhos de produção familiar com a data pintada na garrafa. São riscos que vale a pena correr, face a vinhos verdadeiramente estratosféricos que se podem encontrar. Segundo os madeirenses, a melhor companhia para o bolo de mel é o Bual (ou Boal), meio-doce por natureza; o Sercial, bem seco, é difícil, salino e iodado, e é vinho para apreciar a solo (os que preferem as experiências radicais) ou para acompanhar acepipes ou um caldo de carne; já o Verdelho tem mais possibilidades de associação, sendo que a ligação com uma salada verde que inclua carne fumada (peito de pato, por exemplo) é surpreendente; o Malvasia (ou Malmsey), sendo o mais doce de todos, pode ligar bem com sobremesas menos carregadas de açúcar, como leite creme ou arroz-doce. O Terrantez não se liga com nada: bebe-se a dedal e vamos suspirando para que não se extinga de vez. Em www.vinhomadeira.com são fornecidas várias pistas para as formas de consumo e pairing com a comida. Na fortificação dos mostos usa-se álcool vínico a 96%, sendo assim precisa menor quantidade do que nos generosos do continente em que se usa aguardente vínica a 77%. A Madeira Wine Company é um dos oito operadores existentes e reúne antigas empresas como Blandy’s e Cossart Gordon (para os vinhos de topo) Leacock e Miles para os restantes. Os melhores vinhos, que se pretende durem muitos anos, deverão ser conservados na posição vertical; a elevada acidez poderá provocar danos muito sérios na rolha, caso a garrafa esteja deitada. É também por isso que por vezes nos chegam garrafas, com 5 e 6 dedos em falta no líquido, em virtude da deficiente conservação. A boa notícia? Já abri algumas destas e o vinho ainda estava bom. Não sei se é milagre mas estou tentado a acreditar. E quanto à questão do «eterno» que acima referi, como o que provei do séc. XVIII ainda tinha uma saúde invejável, acho que o adjectivo se aplica.
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pela Madeira Wine Company e correspondem a garrafas de 0,75 l)
Cossart Gordon Malmsey 1995
Região: Madeira
Produtor: Madeira Wine Company
Casta: Malvasia
Enologia: Francisco Albuquerque
PVP: €300
A Cossart Gordon tem stocks próprios e armazém também independente da Blandy’s. Este tem cor castanha, normal devido ao tempo que passou em casco.
Dica: austero, salino e iodado, um Madeira de grande nível. Doçura contida suportado por excelente acidez. Final interminável.
Blandy’s Malmsey 1976
Região: Madeira
Produtor: Madeira Wine Company
Casta: Bual
Enologia: Francisco Albuquerque
PVP: €420
Já com tons esverdeados na cor em virtude da idade, tem tudo o que é suposto encontrar num velho Madeira.
Dica: austero, salgado, vivo e muito rico de nariz. Excelente na boca, com acidez marcante, a contrabalançar a doçura na perfeição. Notável.
Blandy’s Verdelho 1982
Região: Madeira
Produtor: Madeira Wine Company
Casta: Verdelho
Enologia: Francisco Albuquerque
PVP: €360
Muito equilibrado, com um bom balanço entre o lado salgado e marítimo e os efeitos do tempo de casco, caramelizado (sotolon). Muito rico.
Dica: o lado meio-seco surge em evidência, aqui a dar-lhe um carácter que vai além de vinho de sobremesa. Um grande Madeira com muito potencial. Mas há que ser ousado…
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