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E viva a tradição (ou não…)

Despedidas com qualidade é o que queremos

As despedidas do ano são como os aniversários: podem ser alegres ou deprimentes. Há mesmo quem se meta em casa, debaixo dos cobertores e não queira falar com ninguém. Não é bem para esses que escrevo. Antes me interessam os que gostam de comemorar com vinho. Há algumas tradições desta noite que deixam um pouco a desejar e, falando depressa, são mais manias e superstições que outra coisa, como estar em cima de uma cadeira, engolir à pressa as passas à meia noite, etc. Uma das boas tradições é beber o espumante na hora de saudar o ano novo, um hábito universal que faz com que se contem por centenas de milhões as garrafas que são abertas nesta noite. A bebida das bolhas é elemento indispensável, tal como dizia Churchill, nos bons e nos maus momentos. Fiquemo-nos nesse registo de tradição, ainda que o ano que ora finda não nos dê muitas razões para celebrar. Mesmo assim, escolhi um espumante da Murganheira, uma casa de referência que conseguiu impor a variedade Bruto como sendo a que melhor expressa as virtudes do espumante. De um leque muito alargado de escolhas, fiquei-me num registo de “conservadorismo progressista”: escolhi uma casa tradicional que todos conhecem (departamento conservador…) e que dá boas garantias, e optei pela casta Chardonnay (secção progressista) que, apesar de não ser casta nacional, é a variedade que em Champagne é responsável por alguns dos melhores néctares que por lá se fazem. A verdade é que, um pouco por todo o mundo, os produtores mesmo com relutância, vão sempre chegando à conclusão que as melhores castas para fazer espumante são as francesas Chardonnay e Pinot Noir. Não é chato nem deixa de ser….é a vida!
A comemoração pode ser atrevida do ponto de vista do petisco. Não sendo tradição nossa, há que dizer que é nesta época do ano que as ostras estão no seu melhor, cheias e com muita qualidade. Se fora esta a opção (que recomendo vivamente), um Verde ou um rosé podem ser excelentes opções. Na gama dos rosados estamos a melhorar todos os anos, eles existem já às centenas e praticamente são todos secos; haverá muitos com ligeira doçura residual, que até facilita a prova se for a solo mas, na maioria dos casos, são perfeitos para peixes pouco gordos, marisco, acepipes ou mesmo culinária oriental. Quase todos seguem a moda com cores salmonadas, baixa graduação e fruta expressiva. Existem rosés de outro tipo mas aquele que hoje recomendo pertence à nova geração. Hoje os rosés são bem mais trabalhosos e difíceis de fazer do que há 20 ou 30 anos e por isso os preços podem surgir mais elevados mas, como se imagina, muita qualidade a baixo preço só nas promoções apressadas. A passagem de ano pode ainda ser aproveitada para, com calma, com lareira acesa e com uma boa conversa de amigos, saborear um bom generoso. Desta vez escolhi um Moscatel de Setúbal de uma casa que pode ser menos conhecida mas que tem produtos de enorme qualidade. Quando queremos passar a um patamar de excelência o Moscatel de Setúbal é insuperável. Nunca é caro para a qualidade que tem e, mesmo em vários casos, tem um preço muito abaixo do que deveria. Sirva-se levemente refrescado em copos de moscatel (que existem) ou, na falta deles, em copos de Porto.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Espumante Murganheira Chardonnay Bruto 2015
Região: Távora-Varosa
Produtor: Soc. Agr. e Com. do Varosa
Casta: Chardonnay
Enologia: Marta Lourenço
PVP: €25 (preço médio em garrafeiras)
Pode encontrar-se uma colheita mais recente que é também altamente recomendável. A zona de Lamego, pelo clima frio, é especialmente vocacionada para a produção de espumantes de alta qualidade.
Dica: muita fruta branca, fundo citrino, mousse delicada e muito afinada prova de boca com acidez perfeita, fazem dele um sucesso garantido.

Quinta da Alorna Reserva das Pedras rosé 2022
Região: DOC do Tejo
Produtor: Quinta da Alorna
Casta: Trincadeira
Enologia: Martta Simões
PVP: €19,90
A vinha situa-se na Charneca, uma das três zonas da região Tejo, com terrenos arenosos cobertos por calhau rolado, outrora ocupadas pelo rio Tejo. Cerca de 20% do vinho estagiou 9 meses em barrica usada.
Dica: fino, leve na fruta vermelha, macio na boca com ligeira doçura residual que não perturba. Muito bom para peixes delicados e mariscos.

Excellent Moscatel de Setúbal
Região: Moscatel de Setúbal
Produtor: Família Horácio Simões
Casta: Moscatel de Setúbal
Enologia: Luis Camacho Simões
PVP: €50 (0,5 l)
A vinha tem 2 ha e dali apenas se fazem 2500 litros. A produção é limitada a 2000 garrafas. Na mesma altura a empresa lançou mais dois moscatéis, ambos de excelente qualidade.
Dica: vinho de sobremesa por excelência, acompanhará bem quer os doces da época, quer tortas de laranja ou de Azeitão. A solo é um must.

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