Dizer que temos uma garrafa em casa não chega Um dos vinhos que seleccionei esta…
A eterna discussão. Sim ou não?
Entre barricas e castas é só escolher
Os vinhos que sugiro esta semana têm algumas características interessantes, com semelhanças e diferenças entre si. Dois deles usam castas que são raras ente nós – Cabernet Franc e Grenache – e todos têm madeira. Mas vamos por partes. A casta Cabernet Franc (CF) é uma das castas emblemáticas da (enorme) zona francesa do Loire. Digo ‘uma das’ porque dada a extensão da região são várias as variedades que vão sendo maioritárias, ora brancas (como Sauvignon Blanc e Chenin Blanc, entre outras), ora tintas, como a Pinot Noir e a CF. Esta variedade ficou sempre ‘colada’ ao Loire mas ela assume alguma importância na região bordalesa de Saint-Émilion, entrando aí na composição de um dos seus mais famosos châteaux – Cheval Blanc. O sucesso acabou por alargar a área de vinha e hoje a CF está disseminada por todo o mundo. Até por essa razão se pode questionar porque tem tão pouca expressão entre nós. Este Monte d’Oiro é a concretização de um sonho antigo de José Bento dos Santos, grande apaixonado pela casta e pela região do Loire. Mas outra casta merece também a mesma interrogação: porque temos nas nossas vinhas tão pouca Grenache, uma casta que brilha bem alto, nomeadamente em Espanha (Priorato), em França (Châteauneuf-du-Pape) e em Itália (Sardenha)? É uma variedade com grande expressão em termos de área, atingindo perto dos 80 000 ha, quer em Espanha quer em França. Por cá, ainda que autorizada em várias regiões continua a ser ignorada. É mais uma que se disseminou por todo o planeta quando a intenção foi reproduzir, em todas as latitudes, os bons vinhos que se faziam no Velho Mundo. O tinto Tributo inclui mais duas castas francesas que já há muitos anos se adaptaram bem ao nosso clima, caso da Syrah e Viognier. Essas, qualquer dia passam a portuguesas…
Todos os vinhos passaram em madeira e o branco teve mesmo um longo estágio em madeira, juntando aqui colheitas diferentes. A pergunta que se pode fazer é: se estes vinhos brancos tivessem apenas estagiado em inox todos aqueles anos o resultado seria equivalente? O resultado seria diferente e não creio que pudesse ser comparável. Existe hoje alguma conversa entre enófilos sobre o uso das madeiras. Devem ser novas? Devem ser usadas? Deve fazer-se uma combinação entre as duas? Será que um vinho que estagiou apenas em barrica nova é incomparavelmente melhor que outro que apenas passou em madeira usada? E, o que é um pouco mais radical, será que se pode fazer um topo de gama sem que o vinho tenha tido qualquer estágio em madeira, fosse ela qual fosse? Esta última hipótese é avançada pela quinta Dona Matilde (Douro) que fez um unoaked numa perspectiva de se alcandorar a topo de gama da casa. É um assunto complicado mas merece conversa. Seguramente, um vinho de média estrutura, ‘aguentará’ seguramente muito pouca ou mesmo nenhuma madeira nova, uma vez que ela irá sobrepor-se ao vinho; por outro lado um vinho muito poderoso pode precisar de madeira para amaciar taninos, polir arestas e tudo complexificar. Temos então um caso que deverá ser analisado…caso a caso; a regra mais sábia é mesmo não ter regra e tentar perceber se o resultado é melhor, tal como o Vinhas da Teixuga, onde se concluiu que a junção das três colheitas era melhor que cada uma delas por si.
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Vinhas da Teixuga branco s/ data
Região: Dão
Produtor: Caminhos Cruzados
Castas: maioritariamente Encruzado
Enologia: Carla Rodrigues, Carlos Magalhães, Manuel Vieira
PVP: €33
O vinho resulta de um lote de vinhos de 2016, 18 e 20. Esta é a segunda edição, seguindo este modelo. Fizeram-se 4200 garrafas.
Dica: espectacular combinação de juventude e maturidade, um branco com notas evoluídas mas uma acidez brilhante que lhe dá carácter. Aqui a palavra complexidade ganha todo o sentido.
Quinta do Monte d’Oiro Cabernet Franc tinto 2021
Região: Lisboa
Produtor: José Bento dos Santos
Casta: Cabernet Franc
Enologia: Graça Gonçalves/Grégory Viennois
PVP: €50
A parcela desta casta tem apenas 0,24 ha. Após fermentação em inox o vinho estagiou 18 meses em barrica. Resultaram 800 garrafas e 30 magnuns.
Dica: mais aberto na cor que o seu parente (Cabernet Sauvignon), leves notas apimentadas e herbáceas. Rico e original no palato, será sempre um companheirão para a mesa. A conhecer.
Tributo tinto 2021
Região: Reg. Tejo
Produtor: Rui Reguinga
Castas: Syrah (85%), Grenache (10%) e Viognier
Enologia: Rui Reguinga
PVP: €35
Tem origem em Almeirim, em solos argilosos com calhau rolado. Fermentou em lagar e estagiou 12 meses em barricas novas. Feitas 2000 garrafas.
Dica: muito bom perfil, austero mas não agressivo, forte e cheio mas com uma prova de boca bem equilibrada. Mais uma edição muito bem conseguida.
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