Dizer que temos uma garrafa em casa não chega Um dos vinhos que seleccionei esta…
No São Martinho vai à adega e prova o vinho!
Nada que não se possa fazer hoje
O dito popular, que identifica o momento preciso em que, através da prova das barricas, se poderia tirar o azimute ao vinho novo, coincide com a época das castanhas. A ligação entre o vinho novo e as castanhas é, assim, óbvia. Quando falo em prova das barricas deveria falar com mais precisão em prova dos tonéis, já que até aos anos 80 nenhum pequeno lavrador produzia vinho em barricas, era quase sempre em tonéis, de 1000 litros de capacidade, ou mesmo mais. Isto não quer dizer que não existissem pipos mais pequenos, normalmente para dois ou três fins: um deles para água-pé que era a bebida que toda a família consumia quando se comiam as castanhas assadas; o outro era o pipo do vinho dos trabalhadores rurais: por tradição, cada trabalhador levava um garrafão de três litros para a jorna e o dono da propriedade (e muitas vezes das alfaias) «aliviava» o álcool do vinho adicionando alguma água; resultava assim menos gravoso para o trabalhador que conseguia levar a tarefa até ao final do dia e era mais rentável para o patrão. Outro pipo mais pequeno que se poderia encontrar era para guardar aguardente, normalmente bagaceira, um subproduto da fermentação das uvas tintas, muito apreciado e, com frequência exageradamente consumido logo de manhã, como mata-bicho. Hoje, nos grandes centros urbanos não circula a água-pé mas, o consumo das castanhas, é sempre um bom momento para acabar com o stock de vinhos rosés que se tiverem em casa. As ditas castanhas costumam ser consumidas assadas nas brasas, levando depois uma noz de manteiga, ou cozidas em água com erva doce.
Longe vão os tempos em que a castanha tinha um papel marcante na nossa gastronomia. Destronada pela batata, a castanha quedou-se num papel bem secundário mas que, com alguma imaginação, é possível contrariar. Uma das formas é na versão sopa, cozendo-as num caldo de galinha e, depois de passado na varinha mágica, esse creme pode ser servido com cogumelos (cantarelos, de preferência) previamente salteados na sertã e colocados no centro do prato de servir. Se estiver entusiasmado, não deixe de passar na sertã umas lascas de foie-gras fresco que irão muito bem com os cantarelos. Outra forma bem conseguida para valorizar a castanha é em assados de forno quando se distribuem as ditas (que neste caso se podem utilizar das congeladas), pelo tabuleiro e que vão sendo regadas com o molho que se desprende do cabrito ou do borrego. Creio que assim ficam bem melhores do que o mais corriqueiro creme de castanhas com que na restauração nos presenteiam para acompanhar carne de porco, por exemplo. As castanhas, digo eu, parecem-me suficientemente neutras para poderem acolher qualquer vinho. Dependem assim muito mais do acompanhamento e dos molhos com que se prepara o repasto. Quanto ao ir à adega e provar o vinho, é provável que seja ainda cedo, mas seguramente já dá para ter uma ideia do que se tem em cave: a cor, o aroma do vinho e a acidez, tudo já é possível. Já quanto à estrutura de boca, taninos e complexidade, é melhor ter calma que o tempo ainda não fez a sua parte e o vinho ainda está turvo. A tal bagaceira, se existir da nova colheita, pode consumir-se já. E se for mesmo para a ruína, deite umas 3 gotas de limão num copo de shot com a dita bem fria. É mesmo uma desgraceira!
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Taifa branco 2020
Região: Alentejo (Portalegre)
Produtor: Quinta da Fonte Souto
Casta: Arinto
Enologia: Charles Symington, Pedro Correia, José Daniel Soares
PVP: €65
Totalmente fermentado em barrica nova, onde ficou depois por 11 meses. A quinta dispõe de sete castas brancas plantadas. Produção limitada a 2000 garrafas e 60 magnum.
Dica: bom diálogo entre a fruta e a barrica, com excelente acidez a refrescar o conjunto. Complexo e rico, um branco de meia-estação.
João Portugal Ramos Vinha do Lado tinto 2020
Região: Alentejo
Produtor: J. Portugal Ramos
Casta: Tinta Caiada
Enologia: João Ramos
PVP: €33
Vinho de parcela (1,5 ha), situada em Estremoz. As uvas foram pisadas a pé em lagares de mármore e teve estágio em barrica. Fizeram-se 6 600 garrafas.
Dica: aberto na cor, fruta negra e vegetais secos no aroma, nervoso e elegante na boca. Temos tinto para apreciar desde já.
Reguengos Garrafeira dos Sócios tinto 2019
Região: Alentejo
Produtor: CARMIM
Castas: Alicante Bouschet, Aragonez e Cabernet Sauvignon
Enologia: Rui Veladas/Tiago Garcia
PVP: €25
Este tinto nasceu em 1982 e tornou-se uma referência da região, muito procurado pelos enófilos. Teve 18 meses de estágio em barrica e um ano em garrafa. Produzidas 22 500 garrafas, das quais 1000 para vender mais tarde.
Dica: aromas quentes do Alentejo, potenciados pelos 15,5% de álcool, macio, envolvente, tudo o que se espera de um clássico. Para pratos de porco preto.
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