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Com duas letrinhas apenas se atinge o estrelato

Portugal terá em breve o seu primeiro Master of Wine

A notícia (positiva) da semana prende-se com a muito provável conquista, pela primeira vez entre nós, de um título de Master of Wine (criado em Inglaterra, em 1952) para um candidato nacional, no caso Tiago Macena (na foto), jovem enólogo e consultor. A proeza é de monta porque muitos já tentaram e até hoje ninguém tinha conseguido almejar tal título. Digo muito provável porque falta a entrega de uma tese para complementar as provas práticas. Pretende-se um trabalho simples, de 10 000 palavras, algo prático e que seja fácil para o candidato; mas, como até hoje ninguém chumbou na tese, vamos dar de barato que o Tiago estará à altura com o tema ainda por definir. A partir do momento da conclusão do trabalho, Tiago passará a usar o nome Tiago Macena MW, as duas letras mágicas que já tiraram o sono, as férias, o trabalho e esvaziaram a carteira a muita gente por esse mundo fora. Até agora tínhamos um MW de língua portuguesa, o brasileiro Dirceu Viana, residente em Londres e que foi coach de Tiago nesta empreitada. Mantenho com Dirceu uma óptima relação e a narrativa de como conseguiu ser MW pode levar qualquer candidato ao desespero: chumbou uma vez e, na segunda tentativa, não teve nem férias nem fins de semana durante um ano, levantava-se 2 horas mais cedo para estudar e fazia serão todos os dias. O que se ganha com as duas letras mágicas depende muito do local onde se trabalha e em que país se vive. Há mais de 20 anos que sei de candidatos portugueses que tentaram mas, apesar de ser gente altamente qualificada, quando chegaram às provas práticas – copos à frente do candidato e agora fale… – foi nesse momento que todos tropeçaram. O que se exige é conhecer o mundo todo, as principais castas e, claro, saber tudo sobre solos, climas, viticultura, enologia, mercados, tendências, uma miríade de conhecimentos enciclopédicos e, nalguns casos, exageradamente enciclopédicos porque a Net esclarece em minutos qualquer dúvida que se tenha e não se justifica estar a «marrar» dados e mais dados. Tudo começou nos anos 50 e o Instituto dos Masters of Wine é muito parco em títulos (pouco mais de 400), apesar dos muitos candidatos que todos os anos se dispõem a pagar os milhares de euros que custa a inscrição e os muitos milhares que custam as provas e as viagens a Londres para os exames. Lembro-me de ter conversado com Jancis Robinson sobre isto e ela, que também tem o título, confirmou que actualmente é bem mais difícil ser MW do que era no tempo em que fez os exames. E os vários portugueses, acabaram, chumbo após chumbo, por desistir. Não é grave mas a verdade é que é um desafio de superação pessoal que é muito tentador. Até onde consigo ir? Quão bom é o meu inglês? Que sei eu das diferenças entre os solos do Chile, no vale de Casablanca, e da Nova Zelândia, na zona de Marlborough? Isto é só um cheirinho da enormidade de conhecimentos que é preciso ter na cabeça. É caso para bater muitas palmas e dizer: bravo, Tiago, a nação está contigo! E o Mateus rosé ajudou, já que foi um dos vinhos que lhe colocaram às cegas e que ele adivinhou!

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Quinta de Foz de Arouce branco 2022
Região: Reg. Beira Atlântico
Produtor: Conde Foz de Arouce
Casta: Cercial
Enologia: equipa de enologia de João Portugal Ramos Vinhos
PVP: €19,95
Vinhas em terras de xisto, o mosto fermentou em barrica nova (20%) e usada, acrescido de 7 meses de estágio com bâtonnage. É, desde sempre, um branco de notável capacidade de vida em cave.
Dica: discreto mas com boa complexidade, barrica muito bem integrada, Mais leve na boca do que habitualmente, um branco fino, elegante e aristocrata.

Poças Fora da Série French Connection tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Poças
Castas: vinhas velhas com castas misturadas
Enologia: André Barbosa
PVP: €35
A ligação francesa deriva da cooperação (lote final, escolha de barricas, etc) com o Château Angelus, um dos mais notáveis produtores de Bordéus.
Dica: sem ceder a modas, um tinto cheio, carregado na cor mas muito polido de aroma e com grande estrutura de boca. Um verdadeiro clássico, a não perder.

Menin Tinta Roriz tinto 2020
Região: Douro
Produtor: Menin Wine Company
Casta: Tinta Roriz
Enologia: Tiago Alves de Sousa
PVP: €35
Esta é um nome relativamente recente no Douro, resultado de investimentos brasileiros, que também adquiriram a marca H.O. (Horta Osório).
Dica: aroma maduro, já com alguma evolução. Bom para assados de forno mas sem grandes armas para a cave.

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