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Música de vindima

Cestos ainda por lavar mas a coisa promete

Quando este ano se começou a vindimar ainda em Julho, ninguém sabia ao certo o que iria acontecer ao longo da vindima. Uma coisa era dada como segura: na continuidade dos anos anteriores e fruto do clima e suas variantes, era previsível que muita gente iria acabar a vindima ainda em Agosto, sobretudo no Alentejo. Foi o que acabou por acontecer e mesmo alguns produtores que já andam nisto há décadas, como a Herdade Grande, na Vidigueira, terminou pela primeira vez a vindima em Agosto; na Herdade Aldeia de Cima, na mesma zona, a vindima está fechada há uma semana. Como seria de esperar e fruto dos dias de calor excessivo que tivemos em Agosto, algumas castas sofreram mais que outras; foi o caso da Viognier e Sauvignon Blanc na zona de Lisboa, Bical no Dão ou mesmo Avesso nos Vinhos Verdes (neste caso por ataque de míldio). Este ano o problema não foi haver podridão mas antes o facto de haver muitas uvas que chegaram à adega já secas. Isso obriga a um aturado trabalho de selecção à entrada da adega, nos tapetes de selecção onde se procura que só uvas sãs cheguem à cuba. E todos sabem (ou deviam saber) que essa – uvas sãs – é a primeira condição para se fazer bom vinho.
Quando escrevo estas linhas há regiões já de cestos lavados, como o Alentejo. Noutras estamos a meio da vindima, como o Douro apenas com os brancos vindimados. Esperam-se uns dias de chuva que poderão ser óptimos ou, pelo contrário podem ser o dobrar de finados de algumas variedades. Como nos lembrou o enólogo Jorge Alves, com 4 ou 5 horas de chuva as castas de película mais fina transformam-se numa papa que não servem para nada, como o caso da Bical. Já castas como a Perrum (tradicional mas cada vez mais rara no Alentejo) resiste e tudo e, como nos disseram, «talvez se vindime lá para fins de Outubro». Pelo que já se colheu é evidente o bom equilíbrio dos brancos, com muito boa acidez e fruta bem atractiva. Diogo Lopes, que faz vindimas em várias zonas do país, está particularmente satisfeito com a vindima na ilha Terceira: não só há muito mais uvas do que nos últimos anos, como há uvas maduras e em muito bom estado sanitário, no fundo o que qualquer enólogo procura ter quando começa uma vindima. O que virá seguir depende de opções: como vinificar, em que tipo de depósito e daí por diante até ao engarrafamento; a verdade é que, antes de todas essas decisões, o facto de haver uvas sãs é logo um primeiro trunfo. Isso parece estar a acontecer este ano, sendo por isso previsível que haja um aumento de produção. É bom? É mau? Um jovem produtor dizia que o melhor era mesmo uma produção menor mas de excelente qualidade que permitisse uma subida dos preços à produção. É que, com vindimas abundantes, já se está mesmo a ver o que vai acontecer: pagam-se as uvas a tão baixo preço que, em regiões como o Douro, o que se ganha quase não chega para pagar a vindima, quanto mais para ter lucro…
Em anos de calor se não se vindimar bem cedo, as graduações disparam. Infelizmente há quem queira vindimar mais cedo mas não tem mão-de-obra e isto de vindimar quando é possível é arriscar muito. Uma trabalheira, habitual e recorrente, com cada vez mais frequente recurso a mão-de-obra que vem de muito, muito longe, unicamente para o período da vindima. Quando os cestos estiverem todos lavados voltamos a falar.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Maria Papoila branco 2022
Região: Vinho Verde
Produtor: Lua Cheia – Saven
Castas: Loureiro e Alvarinho
Enologia: Francisco Baptista
PVP: €6,60
Esta é uma associação de duas estrelas que brilham no vale do Cávado (Loureiro) e nas margens do rio Minho (Alvarinho). A Loureiro preenche 2/3 do lote. Estágio sobre borras até ao engarrafamento.
Dica: bons citrinos de recorte limonado, tem uma excelente e vibrante acidez que o aconselham para bivalves (mexilhões) ou ameijoas.

Saltimbancos rosé 2022
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Quinta do Gradil
Casta: Malbec
Enologia: equipa de enologia da quinta do Gradil
PVP: €18,90
A casta, ainda que francesa, tornou-se o ex-libris da Argentina onde está presente nos melhores tintos. Pouco divulgada entre nós, este é o primeiro rosé desta casta. Edição limitada a 800 garrafas.
Dica: um rosé de muita personalidade, muito bem de aroma e com bom volume de boca. Ligação evidente com peixes fumados.

Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo Reserva tinto 2021
Região: Douro
Produtor: Quinta Nova N. S. Carmo
Casta: Touriga Nacional
Enologia: Jorge Alves
PVP: €18
Fermentado em inox após desengace, o vinho estagiou depois durante 9 meses em carvalho de 2º ano. Produzidas 25 000 garrafas.
Dica: muita pureza de fruta vermelha, floral bonito, muito bom balanço corpo/acidez, perigosamente atractivo, um tinto consensual.

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