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Vento forte na fileira do vinho

E onde vamos parar ninguém sabe ao certo

O clima no sector anda muito agitado: as tempestades vão varrendo os pequenos do mapa e as compras, anexações, tomadas de capital e outras «operações financeiras» vão fazendo com que, no sector, o quadro mais tradicional que conhecemos em tempos não tenha, em breve, qualquer ponto de contacto com a realidade. Diga-se que as entradas de capital e mudanças da titularidade das empresas não significam necessariamente o fim dos projectos. Pode mesmo continuar tudo como conhecemos, as mesmas caras, as mesmas equipas. Lá atrás, a mirar a folha Excel, é que há caras novas que ninguém conhece. O fundo de investimento que tomou, há tempos, conta da Global Wines mudou o perfil dos vinhos? Não! E lá fora, o facto da família Lur Saluces ter vendido o Château d’Yquem retirou qualidade ao vinho? Não! Pode-nos custar ver que há projectos familiares que tremem mas só quem não sabe o que são famílias, heranças e partilhas é que pode achar estranho. Recentemente os ventos sopraram forte porque o grupo Fladgate (vinho do Porto) abandonou a «conversa da treta» que não ia entrar nos «vinhos de pasto» como, com algum desdém, chamavam aos vinhos de consumo e, afinal, compraram a Ideal Drinks, com quintas nos Vinhos Verdes, no Dão e na Bairrada; a Falua adquiriu para já uma empresa familiar no Douro (Qta. de S. José) e o Vallado vendeu 50% do capital da empresa a uma outra empresa com interesses em vários sectores da economia, nomeadamente a Barbosa e Almeida; a família Symington entrou nos espumantes Vértice e adquiriu uma quinta em Monção e o Grupo Mello (dono da Ravasqueira) prepara-se para alargar o investimento no sector dos vinhos. Estamos assim: hoje falamos com uma empresa, está tudo maravilha, amanhã afinal foram vendidos. Por este andar, e ainda que ironicamente, quem sabe se a empresa do chá da Gorreana (Açores) não vai comprar 50% da Niepoort (para plantar chá no Douro…), se uma grande empresa de bacalhau não vai comprar a Bacalhôa (por uma questão de similitude de nomes…), se a Casa Santos Lima não fica com mais uma quinta da Sogrape (o erro inicial foi vender a Boavista, a seguir é tudo trocos…), se João Ramos não acabará por vender a quinta da Duorum ao grupo Symington ou à GranVinhos porque há lá muitos javalis ou se a José Maria da Fonseca não abre o capital a novos partners. Paulatinamente e sem grande alarido os investimentos estrangeiros continuam, brasileiros são vários, belgas, franceses e alemães estão aí e as pequenas courelas, as empresas familiares que não conseguem respirar num ambiente tão sufocante, lá vão vendendo os anéis na esperança que os dedos não vão a seguir. Lembram-se da história de Alfredo Cruz (que já foi o rei do granel neste país), o samarreiro da Lajeosa do Dão, que pagava cubas de vinho em dinheiro vivo que trazia sempre no bolso da camisa? Pois é, a história passou-se há 30 anos mas parece que foi há 300. Os tempos mudaram e muito, para os antigos graneleiros mas também para os pequenos produtores, que gostariam muito de continuar pequenos e com conta bancária folgada mas… a coisa não está fácil, não. Até há quem diga: é o capitalismo a funcionar, estúpido!

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Espumante Adega de Favaios Grande Reserva Bruto 2013
Região: Douro (Favaios)
Produtor: Adega Coop. Favaios
Castas: Gouveio, Viosinho e Arinto
Enologia: Miguel Ferreira/Celso Pereira
PVP: €12
A zona, pela altitude que tem, gera vinhos de muito boa frescura e acidez, especialmente aptos à espumantização. O vinho estagiou 7 anos em cave antes do dégorgement.
Dica: fruta citrina muito cativante, enrolado e macio na boca, com acidez notável; um conjunto a mostrar um elevado nível para o PVP que apresenta.

Mapa Vinha de Muxagata branco 2018
Região: Douro
Produtor: Pedro Garcias
Castas: Rabigato, Viosinho, Arinto e Gouveio
Enologia: Sérgio Mendes
PVP: €45
Fermentação em inox, 1 ano em barrica usada e 2 anos em garrafa. O nome Mapa identifica um conjunto de vinhos deste jornalista/produtor, a maior parte deles com origem na zona de Favaios.
Dica: citrino carregado, fruta madura, muito bom desenho de boca, com acidez bem presente e sem barrica incomodativa. Bem feito, muito atractivo.

Pessegueiro Reserva tinto 2021
Região: Douro
Produtor: Quinta do Pessegueiro
Castas: Touriga Nacional, Touriga Francesa e Tinta da Barca
Enologia: Hugo Helena
PVP: €17,50
Fermentação em balseiro de madeira e estágio de 1 ano em barricas usadas de diversas capacidades. A quinta fica na margem sul, a montante do Pinhão.
Dica: grande equilíbrio na boca, com bom balanço entre a fruta, a barrica e os taninos. Muito bem elaborado, uma grande aposta por este preço.

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