skip to Main Content

Há solução para o Douro?

Sem vontade política, não vai haver, não…

Foi publicada recentemente na imprensa uma carta/manifesto assinada pelas empresas e produtores que constituem a Associação de Empresas do Vinho do Porto (AEVP) chamando a atenção para os problemas que afligem a região. Os problemas têm décadas (se não mesmo, séculos…) e os governantes, de todas as matizes e de todos os governos, têm sempre o mesmo discurso, tipo «estamos a analisar o problema» e desse aturado período de reflexão nunca se vê sair algo de positivo que de facto melhore a situação da região cujos sinais de desequilíbrio são muito evidentes para todos. Quem se queixa tem toda a razão para querer que o Instituto dos Vinho do Douro e Porto deixe de ser um quintal onde o Poder coloca os seus peões e onde as verbas que são pagas pelos produtores engrossam os cofres do Estado em vez se serem usadas na promoção. Enquanto em todas as outras regiões se criaram Comissões Vitivinícolas escolhidas pelos produtores, no IVDP é o Estado que nomeia, que manda e que acaba por não mudar nada. O Vinho do Porto tem estado em declínio, as uvas continuam a ser demasiado mal pagas para os custos de produção a que obrigam, as uvas para DOC Douro são muitas vezes pagas a preços que nem para pagar a vindima dão. E, como se não bastasse, com a canalização das melhores uvas para DOC Douro e as piores para cumprir o benefício do Vinho do Porto, inverteram-se práticas que tinham décadas. Os grandes grupos, que dominam mais de 90% do mercado do Vinho do Porto, resolveram o problema porque se abastecem de boas uvas nas quintas próprias – património que não pára de crescer – usando as uvas do benefício dos pequenos lavradores para outros vinhos. Grupos como Symington ou Fladgate terão, creio, duplicado a área de vinha própria nos últimos 20 anos e a continuar como estamos, num futuro nada longínquo dominarão 100% da produção e estaremos então a falar da morte da região, sem gente, sem famílias, sem escolas e apenas com nepaleses que vêm fazer a vindima. No entanto não se acredite que a saída do Estado do controlo do IVDP resolve tudo. O próprio Instituto, a quem cabe a certificação e controlo de stocks, tem de se repensar e reformular, as regras que regem a região estão demasiado antiquadas, na prática está barrada a entrada de jovens no negócio do Vinho do Porto e facilmente se cai em situações caricatas, no que toca, por exemplo, à Câmara de Provadores, onde têm de ser aprovados todos os vinhos da região. Um produtor comentou há dias que enviou para aprovação um vinho tinto que foi chumbado porque não se podia chamar Vinhas Velhas (apesar das vinhas em causa serem muito velhas) porque o vinho não atingia o nível 2 (o básico é 1 e o superior é 3). E porque é que não podia ter nível 2? Porque tinha pouca cor! Ora, o ridículo da situação é que nas vinhas muito velhas pontificam castas antigas que exactamente tinham pouca cor. Ora, se queremos preservar as vinhas velhas porque são património mas os vinhos não têm qualquer valor acrescentado por serem feitos com castas antigas, estamos a empurrar os produtores para o arranque das vinhas velhas, levá-los para as castas tintureiras e que geram vinhos encorpados, abandonando o incrível património que temos. É esse o objectivo? Todos dirão que não mas, se não se mudarem procedimentos é isso que vai acontecer.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Quinta de Chocapalha branco 2022
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Casa Agr. das Mimosas
Casta: Chardonnay
Enologia: Sandra Tavares da Silva
PVP: €10
A quinta situa-se na zona da Merceana onde o relevo ondulado gera orientações solares diversas o que permite um «jogo» de casta/localização muito interessante.
Dica: a casta permite várias declinações e aqui é o seu carácter estival e fresco que se acentua. Muito polivalente à mesa.

São Luiz Winemaker’s Collection rosé 2022
Região: Douro
Produtor: Sogevinus
Casta: Tinto Cão
Enologia: Ricardo Macedo
PVP: €22
Após leve prensagem dos cachos inteiros, o mosto fermentou em inox e 20% em madeira usada. É a segunda edição desta casta na colecção. A quinta situa-se entre a Régua e o Pinhão.
Dica: há no aroma uma atractiva austeridade com fruta vermelha e na boca revela toda a sua aptidão gastronómica, que é muita. A beber este verão.

Quinta do Isaac tinto 2017
Região: Douro
Produtor: Quinta do Isaac
Castas: misturadas em vinhas velhas
Enologia: Pedro Sequeira
PVP: €45
Após 20 meses em barrica nova e usada, o vinho estagiou 4 anos na garrafa.
Dica: maduro na fruta e no perfil, um tinto cheio e escuro, sempre próximo dos pratos de maior sustância. O serviço a cerca de 16º ajudará à melhor apreciação deste tinto. Não justifica guarda.

This Post Has 0 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Back To Top
Search