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Fabulosos, raros e muito caros

Em Champagne, claro, mas também por cá

Hoje falamos de bolhas. Mas não de umas quaisquer, falamos de vinhos que nos deixam sem respiração. A verdade é que, a seguir a vinhos deste calibre, pouco espaço fica para se poder apreciar outro vinho. Temos aqui dois champanhes e um (inesperado para quem não anda atento) espumante português do Douro. Todos dignos de grande apreço. Começando pelo Vértice RD (récemment dégorgé), trata-se de um espumante a todos os títulos original e notável, uma vez que esteve em estágio de cave durante 15 anos antes de lhe ser aposta a rolha de cortiça. Só para se ter uma ideia, em Champagne é muito raro ter um vinho datado (Millésimé) mais de 10 anos em cave antes do dégorgement. Esse tempo de cave é indispensável para a grande complexidade e delicadeza que os vinhos atingem. Deste Vértice de grande gabarito fizeram-se apenas 708 garrafas. Outros, de colheitas posteriores, continuam a dormir em cave à espera de vez.
A Krug é marca que dispensa apresentações. Fundada por Henry Krug em 1843, sempre se distinguiu por fazer dos seus vinhos Grande Cuvée um topo de gama, ao contrário de outras casas que têm nos vinhos não datados a sua gama de combate. Para se ter uma noção da tarefa difícil que é chegar a um vinho destes, diga-se que foram usados vinhos de 120 parcelas individualizadas e usaram-se vinhos de reserva de idades diferentes, de 1 a 10 anos. O resultado é sempre espectacular, como o são também as caves, por norma não abertas ao público mas que nos contam a história fabulosa da empresa. Ali todos os vinhos dos fornecedores de uva são vinificados em barricas e individualizados. Todos podem assim ver o resultado da qualidade das uvas que entregaram. A Krug dispõe também de duas parcelas que geram dos vinhos mais cobiçados da região: Clos du Mesnil (Blanc de Blancs) e Clos d’Ambonnay (Blanc de Noirs).
A Henriot é também uma marca clássica, eventualmente menos conhecida dos portugueses. Nascida em 1808, tem mantido sempre um cariz familiar e assenta neste momento o seu trabalho numa análise intensiva e em profundidade dos solos, no sentido de perceber de onde vêm as diferenças que se notam de parcela em parcela. Nasceu assim em 2020 o projecto Alliances Terroirs visando dissecar os solos para melhor adaptar a viticultura, saber o que plantar nas entrelinhas, quando colher, que necessidade «alimentar» tem cada parcela. Tudo nos foi explicado in locco, numa visita proporcionada pelo importador nacional. A enologia segue depois estas informações para decidir como deverão as uvas ser trabalhadas. Uma verdadeira viticultura de precisão, tecnicamente auxiliada por drones, cada vez mais indispensáveis na vinha. A visita à casa, em Epernay, faz-nos entrar num mundo de glamour mas ali também podemos ver uma prensa em madeira que foi usada até 1906 e que, se não é, deveria ser considerada património cultural universal. Simplesmente magnífica. A Henriot comercializa também champanhes muito, muito velhos, que só agora foram rolhados. O 54 ficou-me na memória mas também existem, em magnum, de 59, 64, 77, 78 e 79. Tudo coisas do outro mundo…

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Champagne Krug Grande Cuvée 171ieme Edition
Região: Champagne
Produtor: Maison Krug
Castas: 45% Pinot Noir, 37% Chardonnay e 18% Pinot Meunier
PVP: €326 (El Corte Inglés)
Falamos aqui da 171 edição deste vinho mas poderá encontrar outras no mercado. Pela raridade e pelo preço, a Krug nunca é champanhe que se beba distraído. Sugerimos a prova em petit comité de 3 ou 4 convivas. Despesa a dividir? Porque não?
Dica: uma obra de arte que merece ser consumida, meditada e apreendida a solo, sem acepipes. Exige copos finos e em forma de túlipa.

Henriot Cuvée Hemera 2008
Região: Champagne
Produtor: Henriot (Distribuição – José Maria da Fonseca)
Castas: Pinot Noir e Chardonnay (50/50)
PVP: €200 (difícil de encontrar no mercado interno)
No mercado interno a Henriot é distribuída pela Casa J. M. da Fonseca e dispõe de outras cuvées mais acessíveis. Esta cuvée de 2008 pode ser encontrada em alguns Free Shops, por exemplo.
Dica: enorme delicadeza quer de aroma quer de sabor, com uma acidez crocante a conferir uma frescura incrível ao vinho.

Vértice R. D. branco 2007
Região: Douro
Produtor: Caves Transmontanas
Castas: quatro castas brancas acrescidas de Touriga Francesa
Enologia: Celso Pereira, Pedro Guedes
PVP: €230
Este foi um vinho de ensaio que propositadamente se deixou muitos anos em cave para ver como poderia evoluir. Também por essa razão se fizeram poucas garrafas. Estamos aqui perante um espumante de elevadíssimo nível, muito complexo e distinto.
Dica: muito rico quer no aroma quer na boca, cheio, com acidez muito bem integrada e uma mousse delicadíssima, fruto do longo estágio em cave. Notável.

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