Já é possível algum balanço da vindima de 24 À hora desta crónica “vir a…
À procura dos segredos escondidos
Um bom exemplo do muito que há a fazer
Carlão será nome de pessoa ou de localidade? E Letra F é só uma das letras do abecedário ou é algo mais? E As Olgas são um grupo de música Pop? Isso e muito mais é possível descobrir no Douro, no caso, guiado pelos irmãos Maçanita, Joana e António. Esta dupla parece ter um faro especial para descobrir, revitalizar e promover zonas menos conhecidas onde podem nascer grandes vinhos. Foi assim nos Açores, foi assim em Porto Santo (nestes casos com «mão» de António) e no Douro, num trabalho conjunto que os levou até Carlão, zona desconhecida e menos considerada, do tempo em que o Douro era maioritariamente terra de produção de Vinho do Porto. Todas as parcelas do Douro aptas a Vinho do Porto (são 26 dos cerca de 44 000 ha de vinhas da região) foram classificadas por Moreira da Fonseca em 1947, segundo parâmetros que levavam a que, no final, a parcela fosse classificada de A a F, sendo A a classificação mais alta (mais autorização de benefício e uvas mais bem pagas) e F a mais baixa. Para os vinhos do Porto de melhor qualidade escolhem-se normalmente vinhas de letra A, B, C. As parcelas menos bem classificadas produziam uvas que se destinavam os Porto correntes, quer tintos quer brancos. Os parâmetros têm sido actualizados e muita renovação de vinhas fez-se exactamente nas zonas de classificação mais alta. A zona de Carlão está repleta de parcelas destas classificações menos consideradas. O que isso tem de interesse é que essas vinhas, muitas vezes centenárias e onde pontificam castas antigas e raras, são hoje uma verdadeira mina de ouro, sobretudo para se fazer vinhos DOC Douro. As vinhas têm nomes dispersos por várias parcelas, de que As Olgas é um bom exemplo e os Canivéis, outro. A dupla Maçanita apostou forte nesta zona, onde parece que a modernidade não chegou e onde o tempo parou. Felizmente, dir-se-á, porque é possível agora valorizar e trazer a público vinhos de enorme originalidade e carácter. Com custos, até físicos, uma vez que, deixado o carro na estrada, o que nos espera são 20 minutos de caminho aos solavancos para se poder chegar às vinhas. Mas vale a pena: os vinhos agora editados e já no mercado – um deles chama-se mesmo Letra F – contam-se por dezenas, quase sempre em quantidades microscópicas mas que nos deixam sem voz: com intervenção adequada, sem modernismos técnicos mas com muito saber, o que nos chega são pérolas de que o vinho que seleccionei é um bom exemplo. Alguns não excedem as 300 garrafas outros têm um pouco mais. Tudo, entre brancos e tintos, a merecer prova atenta e a justificar um enorme aplauso. Muitos falam mas só os ousados conseguem levar avante projectos assim.
O vinho dos Caminhos Cruzados é uma curiosidade, também aqui a dizer-nos que a inovação é possível e a imaginação não tem limites. O que se procura é tirar partido das uvas disponíveis e fazer vinhos diferentes que também merecem ser conhecidos. Quando, como é o caso, os resultados são interessantes e resultam em vinhos gastronómicos, percebe-se que o céu é o limite. O Dão precisa de novas ideias porque a base está lá: solos incríveis, castas únicas e clima adequado, tudo o que um grande vinho requer.
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Espumante Quinta do Valdoeiro 2018
Região: Bairrada
Produtor: Caves Messias
Casta: Baga e Arinto
Enologia: João Soares
PVP: €9,95
A presença de uma casta tinta (Baga) faz com que o vinho ganhe uma tonalidade quase laranja. Não indica no rótulo a cor do vinho, nem a lei a isso obriga.
Dica: muito bom conjunto, desenvolve aromas terpénicos e quase a lembrar fruta tropical. Um excelente companheiro da mesa, a preço acessível.
Maçanita Os Canivéis branco 2021
Região: Douro
Produtor: Maçanita Vinhos
Castas: vinhas velhas com castas misturadas
Enologia: Joana e António Maçanita
PVP: €22,90
As uvas vêm de Carlão, uma zona recôndita do Douro onde proliferam vinhas velhas. Cerca de 75% do vinho estagiou um ano em barrica usada. Foram feitas 1250 garrafas.
Dica: muita complexidade e um lado enigmático que deriva das castas misturadas. Afinado e de acidez perfeita.
Caminhos Cruzados Clandestino Cuvée 2022
Região: sem D.O. mas feito no Dão
Produtor: Caminhos Cruzados
Castas: Encruzado e Touriga Nacional
Enologia: Carla Rodrigues, Carlos Magalhães e Manuel Vieira
PVP: €13,50 (3600 garrafas)
O mosto da casta Encruzado fermentou com as películas da Touriga Nacional; resultou um vinho aberto e alaranjado na cor e muito convivial no estilo. Uma (boa) curiosidade, já ensaiada noutra região.
Dica: muito alegre, fácil de gostar, não exige grande reflexão, apenas um grupos e amigos e um petisco a condizer com o Verão.
This Post Has 0 Comments