Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…

O estranho mundo dos vinhos
E injusto, já agora
Ao entrarmos numa garrafeira ou loja de vinhos com pretensão de se diferenciar dos vinhos de supermercado, deparamo-nos com frequência com preços de garrafas que nos podem levar a colocar a uma questão, antiga mas sempre actual: mas será que isto se vende mesmo? E a quem? A diferença entre uma loja deste tipo e uma prateleira de supermercado é de tal forma abissal que ficamos claramente a saber que estamos num mundo a duas ou mais velocidades. Quem, como eu, frequenta supermercados numa base semanal com várias visitas, percebe que o que se vê chegar à caixa são, ou garrafas de vinho de preço muito baixo, ou caixas de bag-in-box. Todos sabemos que nos supermercados também há vinho de gama média e mesmo alguns caros mas a verdade é que não se vê ninguém com estes produtos nos cestos.
Por isso mesmo, um responsável de uma garrafeira de supermercado de luxo não teve dúvidas em afirmar que a maioria dos vinhos caros que tem nas prateleiras estão ali porque sim e porque dá nome à loja mas que…não rodam, vende-se uma garrafa de vez em quando. Depois há o reverso da medalha que nos deveria envergonhar: assisti na semana passada, ao lançamento do novo Porto vintage da Graham’s, da colheita de 2021. Produto de luxo e em quantidades mínimas, estou em crer que as 3000 garrafas se venderão num ápice, apesar de custarem mais de €300 cada. Este ano a Symington lançará no mercado alguns vintages que estiveram guardados em cave durante muitos anos, os chamados single
quinta. São as melhores relações qualidade/preço que podemos encontrar no sector dos Porto vintage, como ficou demonstrado quando fomos informados que sairá um Vintage Quinta da Cavadinha de 2006 (Warre) que irá custar… vinte e pouco euros!
Isto não é negócio, digo eu, uma vez que ter o vinho em cave durante tanto tempo para depois o vender a este preço é, no mínimo, ofensivo. Tal como é ofensivo o preço que vários tawnies 10 anos são vendidos, quase todos na casa dos vinte e qualquer coisa euros. Conservar um Porto em casco durante tanto tempo, com os cuidados que ele exige (atestos, passagens a limpo, rectificações de aguardente e prova periódica) para depois ser vendido ao preço de um qualquer sim, repito, qualquer) DOC Douro que pode custar o dobro desse valor, e que vão para a garrafa um ano e meio após a vindima é, no mínimo, escandaloso. Praticamente todas as empresas do sector do Vinho do Porto entraram no negócio dos vinhos de consumo, com a conhecida excepção do grupo The Fladgate Partnership que engloba as casas Taylor, Fonseca, Croft, Wiese &Krohn. Dito por outras palavras, todas as casas de Vinho do Porto têm no mercado vinhos DOC Douro a preços muito mais elevados do que os seus próprios vinhos do Porto, o que não deixa de ser irónico. É verdade que, para o consumidor, os preços acessíveis podem levar a um aumento do consumo do Porto mas que a prática tem mostrado é que o aumento do negócio pouco se reflecte no aumento dos preços pagos à produção. O Douro continua a assistir à permanente concentração de propriedades nas mãos dos grandes grupos, por força da falta de viabilidade dos pequenos projectos que vão sendo abandonados. Tudo como dantes, portanto.
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Esporão Private Selection branco 2021
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Esporão
Castas: Sémillon
Enologia: Sandra Alves/João Ramos
PVP: €40
O primeiro «Private» nasceu em 2001. Vinha em modo de produção bio. O mosto fermenta em barrica e aí estagia por 6 meses. 17 000 garrafas.
Dica: exemplar o trabalho das madeiras e o resultado é um branco de grande delicadeza, rico e complexo com acidez perfeita.
Boa-Vista Reserva tinto 2019
Região: Douro
Produtor: Sogevinus
Castas: Touriga Nacional, Touriga Francesa, Tinto Cão e Vinhas Velhas
Enologia: Ricardo Macedo, consultoria de Jean-Claude Berrouet
PVP: €45
Esta quinta histórica, outrora na posse do Barão de Forrester, já pertenceu à Sogrape e à empresa Lima&Smith. Fica na margem norte entre Régua e Pinhão. O vinho estagia em madeira entre 15 e 20 meses, conforme a parcela de onde vêm as uvas.
Dica: polimento geral de enorme qualidade, textura, taninos, acidez e fruta em perfeito diálogo. Um tinto requintado.
Quinta do Paral Superior tinto 2019
Região: Alentejo (Vidigueira)
Produtor: Herdade Tinto e Branco
Castas: Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Syrah
Enologia: Luis Morgado Leão
PVP: €17,50
A quinta (85 ha) foi comprada em 2017 por um investidor alemão, Dieter Morszeck; as vinhas ocupam 34 ha e está em construção um hotel de luxo. O vinho estagia 10 meses em madeira.
Dica: castas em bom diálogo, bom equilíbrio ainda que com álcool um pouco excessivo. Bom desenho na boca, acidez e taninos no ponto. A provar agora e a guardar em cave.
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