Para gostos diferentes, há de tudo Os três vinhos sugeridos hoje são do Alentejo. Houve…

20 anos a pôr o Douro no mapa
O antes e o depois dos Douro Boys
Estava eu em São Paulo quando alguém me perguntou o que achava dos Douro Boys. Fiquei completamente encavacado porque não sabia do que se tratava. Chutei para canto e tratei rapidamente de fazer uns contactos para então perceber que o nome se referia a um grupo de produtores do Douro, criado dias antes, que se ligaram para que a promoção conjunta resultasse melhor do que esforços individuais. Juntaram-se Vale Meão, Valado, Niepoort, Qta. do Crasto e Cristiano van Zeller, à data na Qta. Vale D. Maria e agora a representar a Van Zellers. A ideia foi brilhante, em grande parte mérito de Dorli Muhr (uma austríaca, portuguesa de coração…) que, há uma semana, promoveu, nas caves da Niepoort em Gaia, uma prova verdadeiramente única dos vinhos do Porto mais antigos que estes produtores têm, bem como provas de vinhos do Douro já há muito esgotados no mercado. Duas décadas passadas autorizam que se conclua que este grupo fez mais pelos DOC Douro (e, claro, pelo Vinho do Porto) do que muita PUB até então feita. Enquanto aqui há três décadas os DOC Douro eram uma curiosidade que só alguns winewriters conheciam, hoje pode-se afirmar que não conhecer o Douro e não ter visitado o que de muito há por lá a conhecer é, no mínimo, uma mancha grave no currículo de quem escreve sobre vinhos. A «aventura» dos DOC Douro começou nos anos 90; antes havia poucas referências (Ferreira, Real Companhia Velha, Qta. do Côtto e adegas cooperativas) e a explosão nessa década começou timidamente a incluir também os vinhos brancos. As vinhas já lá estavam e as uvas eram canalizadas para vinhos do Porto brancos. Foi quando os produtores começaram a apostar neles (Ramos Pinto, Niepoort, entre outros) que, de repente, os consumidores perceberam que «ali» também era possível fazer brancos de enorme valia. Desde então e até hoje não têm parado de aumentar as marcas de DOC Douro, quer em brancos quer em tintos, tirando partido das inúmeras localizações das vinhas que, por isso, permitem vinhos muito diferenciados. O que então se fez foi deslocar para brancos do Douro muitas uvas que iam para Vinho do Porto branco, uma categoria muito desconsiderada, sobretudo nas entradas de gama. Os Douro Boys puxaram pela visibilidade da região mas mantiveram uma ajuizada distância entre si em termos de perfis de vinhos. Ainda bem. É verdade também que alguns outros produtores poderiam hoje integrar o grupo mas em equipa vencedora não se mexe! A prova agora levada a efeito trouxe os velhíssimos vinhos do Porto do séc. XIX que alguns destes produtores ainda têm em stock, de produção própria ou adquiridos na região em muitas casas e famílias que vão guardando religiosamente umas pipas de vinhos velhos. Não são fáceis de descobrir e são vinhos muito caros (nunca tão caros como mereciam, mas isso é outra conversa…) e são normalmente vendidos em embalagens de luxo que ajudam a dignificar o vinho (caso do Vallado Tributa, ou do Qta. do Crasto Honoré). Este movimento de renascimento dos vinhos muito antigos foi iniciado pela Fladgate (com o vinho Scion) e desde então muitos foram trazidos a público. A assistência à prova dos Douro Boys (a todos os títulos memorável) contou com muitos winewriters que vieram de fora e foram principescamente recebidos. Parabéns Dorli.
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Tapada de Coelheiros branco 2022
Região: Alentejo
Produtor: Herdade de Coelheiros
Castas: Arinto (80%) e Antão Vaz
Enologia: Luis Patrão
PVP: €11
Este e o rosé são os primeiros vinhos certificados como agricultura bio. Fizeram-se 27 000 garrafas. Vinificação em inox e estágio em depósito e tonel durante 4 meses.
Dica: muito citrino (folha limoeiro), fruta branca, maçã ácida; muita harmonia na boca, perfeito para peixes nobres e marisco cozido.
Bota velha Único tinto s/ data
Região: Douro
Produtor: Domingos Alves de Sousa e Ivin
Castas: Touriga Nacional, Touriga Francesa e vinhas velhas (40%)
Enologia: Tiago Alves de Sousa
PVP: €65
Uvas do Baixo e Cima Corgo. Vinificado na quinta da Gaivosa, resulta de um lote de vinhos de três colheitas: 2017, 19 e 20. No futuro poderá ser outro o enólogo convidado. Também reside aí a originalidade. 1800 garrafas. Pelas cores diferentes das botas não há dois rótulos iguais.
Dica: macerações suaves e pouca extracção, com barrica presente mas bem integrada. Um tinto com taninos finos, balsâmico, delicado e elegante. A beber ou a guardar.
Quinta do Cardo Superior tinto 2019
Região: Beira Interior (Castelo Rodrigo)
Produtor: Agrocardo
Castas: Touriga Nacional, Touriga Francesa e Alicante Bouschet
Enologia: Jorge Rosa Santos
PVP: €17,25
Os novos proprietários adquiriram a quinta a Paes do Amaral e este tinto apenas foi engarrafado pela nova equipa. São 79 ha de vinhas. Esperam-se novos lançamentos e novas marcas para breve.
Dica: muito vegetal no aroma, ligeiro na cor, bem atractivo; foi condimentado com um pouco da colheita anterior para ganhar mais fruta. Elegante e altamente gastronómico. Apto a veganos.
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