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Concursos – razões para ir e para não ir

Daqui até ao verão não vão faltar

É com a chegada da primavera que começam a ser anunciados os concursos de vinho a nível regional, nacional e mundial. Com frequência em cada região demarcada são organizados concursos que apenas se destinam aos vinhos dessa mesma região. Convidam-se provadores vindos de fora, nomeadamente de Câmaras de Provadores de outras regiões, imprensa, blogers e sommeliers e, com um conjunto alargado de «narizes», chega-se aos vencedores. Pode ser-se premiado por tipo (branco, tinto, rosé, espumante, por exemplo) ou por casta. Os concursos nacionais são mais abrangentes e envolvem provadores nacionais e estrangeiros, como é o caso do Concurso da ViniPortugal que terá lugar em Maio. Os internacionais, como o nome indica, podem ser certames gigantescos, com o número de amostras a ultrapassar as 10 000 e centenas de provadores oriundos dos quatro cantos do mundo. Nem sempre é fácil perceber o que leva um produtor a enviar amostras a concurso e um outro a recusar esse envio. As medalhas conquistadas podem ser muito úteis, sobretudo quando o produtor busca novos mercados e novos importadores; vários vinhos medalhados são um certificado de garantia para o importador. E, a não existirem, o importador pode torcer o nariz e dizer a frase fatal: ok, depois entro em contacto consigo! Acontece com frequência que uma empresa envia vários vinhos para prova e os mais baratos saem com medalhas e outros, de um patamar mais alto, não conquistam nada. Explica-se facilmente: numa roda de 10 vinhos de fraca qualidade, um vinho que sobressaia pode ganhar um outro ou prata; noutra mesa, com outros provadores, um bom vinho num painel de grandes vinhos, pode sair sem selo. É vulgar acontecer e é normal. Por norma o que temos visto nas empresas portuguesas é a recusa em enviar os seus topos de gama ou vinhos especiais para concursos. É uma forma de defesa em relação ao que atrás disse (poderem sair sem medalhas) e porque há vinhos que têm de ser contextualizados para serem devidamente apreciados. Esses vinhos, perdidos no contingente geral, saem invariavelmente mal classificados. Ora, a inscrição de vinhos nestes concursos internacionais é muito onerosa (mais de €100 por amostra, mais portes de envio), o que faz com que a decisão deva ser muito ponderada. Para quem prova é muito difícil captar pequenas nuances que este ou aquele vinho podem ter (a prova é cega) e por isso valem sobretudo as características mais evidentes e que têm de ser iguais em todo o mundo: limpidez, aroma impressivo com elementos atractivos (fruta, vegetal, mineral, madeira ou outros também positivos como sensações empireumáticas), bom equilíbrio de prova de boca, boa proporção entre os vários elementos. Sejamos claros, por vezes há vinhos de preço reduzido que preenchem estes valores e por isso ganham medalhas. No entanto, se o seu vinho é específico, é caro por um conjunto de razões que você sabe e o consumidor valoriza e sai «fora do baralho» e, se tem amor ao seu dinheiro, então fique sossegado e não envie nada. Assim evita desgostos e lembre-se: o erro foi seu, não de quem provou o seu ao lado de vinhos do México, da Índia ou da Bulgária.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Cloudy Bay branco 2022
Região: Marlborough (Nova Zelândia)
Produtor: Cloudy Bay Vineyards (Import: Möet Henessy)
Casta: Sauvignon Blanc
PVP: €35,59
Este foi o primeiro branco do país a atingir fama mundial. Desde os anos 80 a Nova Zelândia tornou-se uma referência nesta variedade.
Dica: explosão de aromas tropicais, acrescidos de notas de pimenta branca e leve nota de grafite. Muito bem na boca, um branco para qualquer ocasião.

Quinta do Pôpa Vinhas Velhas tinto 2017
Região: Douro
Produtor: Quinta do Pôpa
Castas: misturadas na vinha, plantada em 1932
Enologia: Carlos Raposo
PVP: €29,90
Vinho de uma única parcela (1,32 ha), dele foram feitas 2669 garrafas. Com este perfil teve a primeira edição em 2007. Fermentação em lagar com pisa e 65% do vinho teve estágio em madeira, parcialmente nova. A quinta localiza-se entre a Régua e o Pinhão.
Dica: excelente proporção aroma/sabor, com polimento de fruta e barrica muito bem integrada. Um tinto «social» que será do agrado de todos. Requer pratos de médio tempero.

Monte dos Cardeais Reserva tinto 2019
Região: Reg. Alentejano
Produtor: António Boal (Herdade dos Cardeais)
Castas: Alicante Bouschet (70%) e Syrah
Enologia: Paulo Nunes
PVP: €12
A herdade (19 ha) situa-se em Estremoz; é a primeira incursão (em 2021) do produtor Costa Boal (Trás-os-Montes e Douro) no Alentejo. Estes vinhos foram feitos a partir do stock existente na herdade à data da compra.
Dica: rústico no perfil, abundantes notas de azeitona e casca de árvore. Muito acessível na prova de boca, um tinto muito polivalente. Não justifica guarda.

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