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Diálogo de bolhas

Elas andam aí…e por todo o lado

O universo das bebidas borbulhentas é enorme. O apreço que o público lhes dedica desde há séculos fez com que estas bebidas, em que o gás é parte determinante, sejam produzidas em todo o mundo, em quantidades de muitos milhões de garrafas/ano. Com toda a justiça a França impôs que o nome Champagne fosse um direito exclusivo dos vinhos produzidos naquela região (300 milhões garrafas/ano) e que vem indicada no rótulo. Assim, nas outras zonas do globo, encontraram-se outros nomes – sparkling wine, espumante, espumoso, Cava (termo de uso exclusivo dos espumantes do Penedès), etc – e nem o termo «método champanhês» pode ser usado; se for feito segundo a tradição de Champagne, o vinho Espumante Natural pode ostentar o nome «método clássico». São as regras da protecção das denominações de origem, as mesmas que protegem o nosso Vinho do Porto. Em França os espumantes feitos noutras regiões têm outros nomes, como Crémant, ainda que possam indicar no rótulo «Méthode Traditionnelle». No método clássico, a segunda fermentação faz-se na garrafa mas também há espumantes feitos por outros métodos, como cuba fechada (também chamado Método Charmat). Em Portugal temos vinhos com gás obtidos pelos diversos métodos e, mais recentemente, sugiram no mercado vinhos, também em voga por todo o mundo, que se intitulam de Pét Nat, abreviatura de Pétillant Naturel. Também conhecido como método ancestral, pode dizer-se que é o antepassado do Champagne. Em termos rápidos e simples, vejamos as diferenças: no método clássico o mosto do vinho fermenta, e só depois de terminada essa primeira fermentação é que se adiciona açúcar (cerca de 24 gr por litro de vinho) + leveduras + alimento para as leveduras (fosfato de amónio e vitaminas) para a segunda fermentação na garrafa; pode parecer estranho mas este «alimento» é indispensável porque as leveduras têm de actuar num meio já alcoólico. No método ancestral engarrafa-se o vinho quando ainda não se completou a primeira fermentação alcoólica que assim, ao terminar já na garrafa, gera gás carbónico. O resultado é um vinho com muito menos gás do que no método clássico, e com turbidez, já que nos Pét Nat, o resto das leveduras mortas permanece na garrafa. Poder-se-ia perguntar, que sentido faz voltar a fazer de forma distorcida algo que a história nos ensinou a fazer bem? Não faz sentido, mas quem aprecia estes vinhos – tal como outros «alternativos» – não quer saber disso. É como voltar a usar facas feitas em pedra lascada em vez de objectos com lâmina metálica. As do Paleolítico são melhores? Não! Cortam melhor? Não! A razão do uso é ser uma simples curiosidade. É o que se passa com os Pét Nat, são uma curiosidade, a anos de luz de um bom Champagne mas, como se costuma dizer, os produtores/distribuidores/exportadores/importadores têm de «dançar conforme a música», ao sabor de ventos e modas. O mercado pede? Vamos lá, então! E, pode perguntar-se, quem não gosta de curiosidades? Elas são isso mesmo, algo desajustado mas que pode ser interessante de provar. Mas não convém perder o norte e, por isso, é de bom princípio não aceitar que alguém diga que «isto» é melhor que um bom espumante feito pelo método clássico. O homem de Neandertal que me perdoe mas… a minha faca japonesa dá 10-0 à faca de sílex…

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Nyetimber Classic Cuvée s/ data
Região/País: Inglaterra
Produtor: Nyetimber (Distrib: Portfolio)
Castas: Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier
PVP: €44
Produzido no sul de Inglaterra (Sussex), exclusivamente com uvas de produção própria. As primeiras vinhas foram plantadas em 1988. Esta é uma das marcas pioneiras da produção naquele país.
Dica: aroma fino, bolha delicada e prova de boca muito atraente. Dominam as notas citrinas, o que o afasta do perfil dos que se produzem em Champagne. Conjunto de muito bom nível.

Moët & Chandon Grand Vintage Brut 2015
Região/País: Champagne (França)
Produtor: Moët & Chandon
Castas: Pinot Noir (44%), Chardonnay (32%) e Pinot Meunier
PVP: €75,95 (Corte Inglés)
Esta é a 76ª edição do Moët & Chandon Vintage. Este é sempre um vinho de um patamar bem acima do Brut Imperial, a gama mais conhecida e divulgado no mundo inteiro.
Dica: Muito fino, boas notas de brioche, tudo com enorme delicadeza. Proporção perfeita entre corpo e acidez, um champanhe que dá muito prazer a beber.

Gramona Imperial Brut 2016
Região/País: Catalunha (Espanha)
Produtor: Gramona S.A.
Castas: Xarello, Macabeu, Chardonnay, Parellada
PVP: €19,90 (Corte Inglés)
Este é um Vinho Espumoso, ou seja, não está na Denominação de Origem Cava. Trata-se de uma empresa familiar com grande tradição na produção de espumantes, desde o séc. XIX.
Dica: dourado na cor, bolha muito fina, aroma de fruta madura mas com elegância. Macio e envolvente, um óptimo aperitivo, um bom vinho para a mesa.

 

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